como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 4 de Dezembro de 2017
Centeno, o Eurogrupo e uma certa euforia nacional com estas coisas

Sempre que um português é eleito para um cargo internacional, o establishment político e comentadorístico nacional exulta. O cargo em si e o que ele implica interessam pouco. O que interessa é o «reconhecimento» das «qualidades» de mais um cidadão português por entidades estrangeiras, fazendo das referidas «qualidades» não apenas indiscutíveis como uma extensão das qualidades (sem aspas, que algumas hão-de ter) dos embevecidos políticos e comentadores.

Evidentemente, também há em tudo isto uma componente de hipocrisia. Em Portugal não se criticam portugueses que ascendem a cargos internacionais (ainda que - por exemplo - tenham sido péssimos primeiros-ministros) do mesmo modo que não se critica (pela frente) gente que acabou de ser galardoada com um prémio qualquer ou que acabou de falecer. Parece mal.

É pois entre a parolice do deslumbramento e a cobardia da necessidade de manter aparências que a eleição de Mário Centeno vinha já sendo encarada como uma estrondosa vitória para o país em geral e para o governo em particular. Contudo, uma dose de ilusão permeava - e permeia - igualmente todo o processo. Em arroubos de entusiasmo, António Costa e alguns comentadores mais optimistas não se coibiram de sugerir que instalar Centeno à frente do Eurogrupo constituiria uma lança em África capaz de alterar o curso das políticas orçamentais da Zona Euro. É esquecer vários detalhes: a situação do governo alemão, temporariamente mais preocupado com outros assuntos; o facto de a eleição resultar muito mais de acordos entre famílias políticas europeias (o Partido Popular Europeu já detém as presidências da Comissão e do Conselho) do que de real mérito; o destino de várias figuras tragicómicas que, nos últimos anos, de Hollande ao par Tsipras-Varoufakis, iam fazer precisamente isso. Mas, acima de tudo, é esquecer que as instituições europeias têm o condão de moldar as pessoas aos cargos e não o contrário. De resto, quando as pessoas são portuguesas, até costuma ser fácil. Pense-se em Durão Barroso ou nessa eminência que chegou a garantir que o euro acabaria com as preocupações orçamentais portuguesas, Vítor Constâncio. À frente do Eurogrupo, Centeno terá que ajudar a fazer cumprir as regras orçamentais europeias, ainda que elas não sejam ideais para a política de eterno adiamento favorecida pelo governo português, e nem deverá experimentar grandes pruridos em fazê-lo. O ofuscante oportunismo que em 2015 lhe permitiu enfiar na gaveta as convicções em relação ao mercado de trabalho permitir-lhe-á certamente colocar os interesses da «Europa» - e de uma carreira internacional - à frente dos de António Costa e respectivos acólitos. O que, a acontecer, Costa só poderá achar natural: o oportunismo é algo que ele entende perfeitamente.



publicado por José António Abreu às 19:14
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Segunda-feira, 23 de Outubro de 2017
Uma cronologia

1996

Secretário de Estado da Administração Interna Armando Vara retira a Força Aérea das operações de combate aos incêndios florestais, como sucedia até então e como ainda sucede nos países europeus mais expostos a este tipo de risco (Espanha, França, Itália e Grécia).

 

2006

Ministro da Administração Interna António Costa extingue a Guarda Florestal, recusa a compra de dois aviões Canadair (parcialmente com fundos da União Europeia), mantém o enfoque no combate privado aos incêndios e renegocia o contrato do SIRESP com ajuda do amigo Diogo Lacerda Machado (hoje na TAP, então advogado da Motorola, parte integrante do consórcio vencedor), não apenas abdicando de várias valências como ignorando uma alternativa mais barata (da Optimus).

 

2016

Em ano de «viragem da página da austeridade», governo liderado por António Costa reduz orçamento para a Protecção Civil e para o combate a incêndios de 229 para 208 milhões de euros. Ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa enfia na gaveta um estudo preparado pelo governo anterior que preconizava o regresso da Força Aérea ao combate aos incêndios.

 

2017

Mais de 500 mil hectares de área florestal são consumidos pelas chamas e mais de cem pessoas morrem na sequência de incêndios florestais. Forçado pelas circunstâncias e pelo Presidente da República, Primeiro-Ministro António Costa anuncia alterações ligeiras ao SIRESP e o regresso à Força Aérea da gestão dos meios aéreos de combate a incêndios, em moldes ainda pouco claros.



publicado por José António Abreu às 11:28
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Quinta-feira, 19 de Outubro de 2017
É isto

[...]

O que se está a passar na nossa vida enquanto comunidade é assustadoramente preocupante. A grande massa de eleitorado urbano satisfaz-se com um bodo aos pobres, na dimensão suficiente para ir fazendo uns fins-de-semana prolongados e uns jantares fora. Dentro desse grupo merecem um tratamento especial os funcionários públicos, pela sua dimensão, e os pensionistas, com especial relevo para os que ganham mais e têm acesso ao espaço público. A estratégia é tão simples e fria quanto a de uma empresa que define um objectivo de mercado. Tudo o resto, como não faz mexer o ponteiro das vitórias eleitorais, não existe.

 

Os últimos orçamentos do Estado foram pensados nessa lógica. Se o país fosse uma empresa podia dizer-se que na era da troika fomos geridos pelo administrador financeiro e nestes últimos dois anos pelos responsáveis da área comercial e do marketing. Tudo o que não se vê ou que esteja protegido dos olhares externos pode ficar com menos dinheiro. E assim se faz dinheiro para acabar com os cortes dos salários da função pública rapidamente, ao mesmo tempo que se reduz o défice público.

 

São escolhas políticas apresentadas como uma opção pelas pessoas, pela coesão social, pelo combate à  pobreza e pela promoção da igualdade. Quem o diz assume-se até como tendo o monopólio destes objectivos, como se todos os outros fossem contra valores que são (ou deviam ser) os alicerces da nossa sociedade.

 

O problema vem ao de cima quando tentamos ver os actos dessas palavras. É enorme a distância entre aquilo que se diz que se faz e aquilo que realmente é concretizado. A coesão social, o combate à pobreza e a promoção da igualdade limitam-se ao segmento do mercado eleitoral urbano que faz mexer o ponteiro dos votos. Os outros ficam ao abandono, como dolorosamente vimos na morte e na vida de quem esteve dentro dos incêndios do fim-de-semana.

[...]

 

Um texto dolorosamente certeiro de Helena Garrido, no Observador. Convém lê-lo na íntegra


publicado por José António Abreu às 17:55
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Quarta-feira, 18 de Outubro de 2017
O «fim» da austeridade, o início das mentiras
Governo falseou dados das listas de espera para consultas e cirurgias no Serviço Nacional de Saúde. Entre 2014 e 2016, o tempo de espera subiu, o número de cirurgias desceu. Em 2016, 2605 pessoas morreram à espera de cirurgia.

 

Bem-vindos ao maravilhoso mundo da Geringonça, recuperado dos tempos de Sócrates, no qual tudo é perfeito, ainda que tenha ser à força. Muitos parecem acreditar que António Costa é, no que respeita ao estilo de governação, diferente do homem que teimou numa ilusão até ao instante em que o dinheiro acabou. Infelizmente, é igual. O roubo de Tancos e os incêndios mostraram amplamente a sua incapacidade para assumir erros, a sua indiferença pelos portugueses (que não pela opinião que os portugueses têm dele) e o despudor com que transforma os próprios correligionários em escudo pessoal (por muitos erros que tenha cometido, a Ministra da Administração Interna poderia ter sido poupada à humilhação de, na prática, se ver demitida pelo Presidente da República). Esta notícia - que certamente não irá incomodar os parceiros da Geringonça, outrora tão vocais acerca de situações menos graves - revela a sua disponibilidade para usar absolutamente todos os truques, de forma a manter as ilusões e se agarrar ao poder. E que possa não ter partido dele a indicação concreta para maquilhar os números pouco importa: em ambientes malsãos, pejados de yes men, nos quais as aparências são tudo, as estruturas fazem o que sentem ser necessário fazer.

 

Enfim, talvez nada disto interesse no país em que Isaltino é eleito e Sócrates ainda recebe aplausos. Talvez até constitua motivo para felicitações. Num país decente, porém, depois da forma vergonhosa como geriu o caso dos incêndios, seria razão bastante para conceder a António Costa o mesmo género de férias forçadas com que ele presenteou Constança Urbano de Sousa. Em Palma de Maiorca, como quando pretendeu escapar à polémica de Tancos, ou noutro lado qualquer.



publicado por José António Abreu às 16:26
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Segunda-feira, 16 de Outubro de 2017
Das questões verdadeiramente importantes

Já decorre algum estudo para saber se desta vez a popularidade de António Costa é afectada?



publicado por José António Abreu às 18:31
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Quinta-feira, 29 de Junho de 2017
Afinal nada de importante se perdeu em Pedrógão...
Governo organiza focus group para avaliar os efeitos do incêndio na popularidade de António Costa.


publicado por José António Abreu às 11:53
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Terça-feira, 27 de Junho de 2017
Um retrato da falência moral do país político (e jornalístico)

Ontem, porém, houve luz na escuridão. O provedor da Misericórdia de Pedrogão Grande induziu Passos Coelho num lapso, de que o líder do PSD decidiu pedir desculpa. Foi a alegria do costismo. Era a sorte outra vez. Mas talvez o sarcasmo do regime tenha desta vez ficado demasiado patente: é que tivemos desculpas do líder da oposição por um pequeno comentário, mas nem uma palavra de contrição do governo pela incompetência e descontrole que mataram 64 pessoas e deixaram mais de 200 feridas.

Rui Ramos, no Observador.


publicado por José António Abreu às 09:23
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Quarta-feira, 25 de Janeiro de 2017
TSU e o mau da fita

1. Economia

Em Portugal, ninguém questiona que tudo passe pelo Estado e tudo dependa do Estado. Ao lidar com o sector público mas também com o privado, o governo age como se o dinheiro dos contribuintes fosse inesgotável e a economia de uma resiliência à prova de bala. Daqui nasce um círculo vicioso: a economia cresce pouco, o Estado não obtém os recursos pretendidos, o orçamento público apresenta défices crónicos, os impostos e a dívida aumentam, a economia cresce ainda menos. Tudo isto perante a complacência – quando não o aplauso – das associações patronais, dos sindicatos, da maioria dos comentadores, do Presidente da República. A polémica em torno da TSU constitui mais um exemplo desta lógica. A medida é péssima: apoia-se em dinheiro dos contribuintes, serve de contraponto a um aumento exagerado (porque muito superior aos ganhos de produtividade) do salário mínimo (já demasiado próximo do salário mediano), e, num país onde ele abrange vinte e tal por cento dos trabalhadores, incentiva as empresas a usá-lo ainda mais. Porém, isto não impediu que as associações patronais a sancionassem. Em vez de defenderem medidas que permitam a subida do salário mediano e forcem o Estado a um nível superior de eficiência (descidas de impostos ou simplificação de processos burocráticos, por exemplo), escolheram (escolhem sempre) alinhar numa lógica de subsidiação, apoiada em cada vez mais regras e excepções. Ou seja: em Portugal, as associações patronais são uma parte não apenas activa mas entusiasta no crescimento desmesurado do Estado - e, por conseguinte, no agravamento dos problemas dos seus próprios associados.

 

2. Política

Passos Coelho é um espinho cravado no sistema político nacional. O homem recusa-se a seguir o guião. Parece que, de repente, até decidiu fazer política. Indivíduos mais atentos teriam notado a forma como ele deu a volta a Paulo Portas em 2013; como aguentou críticas ferozes, vaticínios catastrofistas e distorções variadas (que, evidentemente, nada tinham a ver com «pós-verdade» ou «factos alternativos») enquanto foi primeiro-ministro; como, quebrando a tradição nacional de que uma pessoa não se «rebaixa» a um papel menos importante do que outro já desempenhado, assumiu o lugar de deputado após a queda do seu governo às mãos da «geringonça». Na verdade, Passos é um político. Um excelente político. Nas últimas semanas, António Costa – este sim, considerado por todos um político exímio, para além de um negociador imbatível – deu-lhe oportunidade para o demonstrar. Costa fechou um acordo que violava a Constituição (o escândalo mediático que teria surgido há apenas um par de anos...) e para o qual não garantira apoio parlamentar. Para o fazer passar, contava com a passividade do PCP, do Bloco – ou do PSD. Os dois primeiros foram iguais a si mesmos e mostraram que o governo de Portugal não é estável nem credível (quanto a duradouro, veremos). Por seu turno, Passos resolveu finalmente assumir o papel de líder da oposição e cumprir o que prometera aquando da tomada de posse da «geringonça»: forçá-la a governar. Nos dias seguintes, verificou-se que Costa tinha quase toda a gente «importante» com ele: a intelligentsia mediática, os «patrões», a UGT, a facção «bem-pensante» do PSD, o Presidente da República. Só que Passos aguentou muito mais durante os anos da Troika. Não cedeu, e fez bem. Contudo, assumiu um risco: para os poderes instalados (os mesmos que Ricardo Salgado elogiou explícita e implicitamente no artigo que escreveu aquando da morte de Mário Soares), é cada vez mais importante afastá-lo da liderança do PSD.


publicado por José António Abreu às 17:38
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Sexta-feira, 15 de Julho de 2016
Os coveiros da União Europeia
Com a realidade cada vez mais à porta, António Costa e demais «geringonceiros» intensificam os ataques à União Europeia. Não surpreende. Diogo Noivo explicou-o bem aqui: arranjar um inimigo externo para disfarçar incompetências internas (ou, no caso, um descarado assalto ao poder, da única forma que se encontrava disponível) é manobra clássica para cerrar fileiras e calar dissidências. Na União Europeia, usa-a neste momento a «geringonça» como antes a usou o governo do Syriza. (E como a usam partidos, de direita e de esquerda, sequiosos de formas simples de ganhar votos - programas consistentes dão trabalho, obrigam a fazer escolhas e são frequentemente incompatíveis com a ideologia professada.) Na sequência disto, apenas ingénuos podem admirar-se de que os sentimentos anti-UE cresçam um pouco por todo o lado. Afinal, como estranhar que a vontade de um alemão médio (ou holandês, ou austríaco, ou luxemburguês, ou finlandês, ou polaco, ou checo, ou eslovaco, ou letão, ou lituano, ou estónio, ou esloveno, ou sueco, ou dinamarquês, ou britânico, ou belga, ou até mesmo francês ou irlandês), informado de que a situação económica de certos países piorou devido à acção dos mesmos políticos que, com a aparente concordância dos seus cidadãos, lhe surgem nos ecrãs televisivos e nas páginas dos jornais a imputar todos os problemas à União Europeia, seja mandar estes gajos à merda?


publicado por José António Abreu às 10:03
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Terça-feira, 7 de Junho de 2016
Rábulas
O grupo parlamentar do PS já enviou para os restantes grupos parlamentares um projecto de voto contra as eventuais sanções da União Europeia a Portugal. Os socialistas esperam agora que as restantes bancadas apreciem o documento e proponham, ou não, alterações. O objectivo é chegar a um texto consensual que possa ser aprovado por todos os partidos.

Observador (com um par de consoantes da minha autoria).

 

Exceptuados os constrangimentos decorrentes da geringonça (foi bonito ver António Costa colocar na ordem os «patrões» do Porto de Lisboa assim que Catarina e Jerónimo lhe disseram para o fazer) e uma ou outra deriva convicta para a esquerda (o Ministro da Educação gosta de ser uma marioneta nas mãos de Mário Nogueira), o PS de 2016 é o PS de 2009 e 2010. Com espantoso descaramento, minimiza resultados negativos (no que respeita ao crescimento económico, hoje informaram-nos de que voltámos à nossa aconchegante mediocridade) e, ajudado por uma comunicação social mais acéfala do que uma amiba amnésica, gera «factos políticos» para tentar desviar as atenções, arranjar inimigos externos (velha táctica, velha táctica), clamar pequenas vitórias (se as sanções não vierem, a «posição de força» terá sido fundamental) e embaraçar a oposição.

E, como em 2010, não vale a pena dizer-lhes para se deixarem de rábulas e começarem a governar a sério. Pela simples razão de que, para além das rábulas, o PS apenas é competente numa coisa: a ocupação do poder.



publicado por José António Abreu às 19:00
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Segunda-feira, 16 de Maio de 2016
Ponto de divergência

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Bate tão certo que até parece mentira.

 

Fonte: BCE.


publicado por José António Abreu às 14:15
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Terça-feira, 19 de Abril de 2016
Comentário sucinto à actuação do governo de António Costa no último par de semanas

Volta, Santana Lopes, que estás perdoado.



publicado por José António Abreu às 18:11
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Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 2016
Costa vs. Costa

A recusa do governo de Passos Coelho em salvar o BES foi o ataque mais forte das últimas décadas ao status quo político-financeiro-empresarial - i.e., à oligarquia que se habituou a dominar o país. Hoje, Costa (António) ataca Costa (Carlos) não porque este tenha cometido erros mas porque a sua acção (e, por conseguinte, os seus eventuais erros) não decorre dos interesses dos socialistas e/ou dos amigos dos socialistas. Mais: não decorre sequer dos interesses do governo (deste ou do anterior). É aliás sintomático que os socialistas teimem numa solução para os «lesados» do BES sem avançarem com uma proposta clara e, mais importante, sem explicarem (de preferência evitando a necessidade de uma série infinita de erratas) quanto poderia ela custar aos contribuintes. Para Costa (António), interessa acima de tudo docilizar o Banco de Portugal e surgir como o fautor de uma «solução» conciliatória que esconda dos eleitores o preço dessa conciliação. Estabelecer um precedente, numa situação de fragilidade do sistema bancário, não o preocupa. Costa (António) trabalha no presente, manobrando instante a instante.

Depois há ainda outro motivo. Costa (António) tem procurado espicaçar Passos Coelho, alternando acusações com propostas de concertação. Passos, ciente de que não deve ajudar os socialistas numa área em que são peritos incontestados (inventar desculpas e eximir responsabilidades), tem mantido a pose de estadista. Isto não interessa ao governo, urgentemente necessitado de um adversário. Costa (Carlos) encaixa no papel. E, se a situação for bem manobrada, até poderá permitir expulsar Passos Coelho da toca, de modo a ser desgastado antes de começarem a sair os primeiros números da execução orçamental.



publicado por José António Abreu às 11:42
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Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2016
Falhanço
As declarações do primeiro-ministro no sábado passado, amplamente glosadas na Internet (incluindo aqui), teriam levado Bloco de Esquerda e PCP a exigir a demissão do governo (e Pacheco Pereira a escrever uma crónica demolidora) se o primeiro-ministro ainda fosse Pedro Passos Coelho. Mas a hipocrisia da esquerda é secundária quando as declarações indiciam uma falta de respeito muito mais profunda do que a decorrente de simples - e, em condições normais, razoavelmente fácil de desculpar - ausência de tacto.

O plano dos economistas liderados por Mário Centeno com que António Costa se apresentou às eleições baseava o crescimento no consumo interno, trocando mesmo receitas públicas actuais por receitas futuras (a famosa descida da TSU). Era um plano arriscado, com tantas probabilidades de resultar neste mundo conturbado (e, acima de tudo, sobreendividado) como eu tenho de ainda hoje - e por esta ordem - conquistar o coração da Jessica Chastain e ganhar o euromilhões, mas pelo menos apresentava alguma coerência formal. Fazemos isto e isto e isto, de modo a obter este e este e este resultado, sendo que, em tese, havia compatibilidade entre o que se fazia e o que se esperava. Só que o plano foi estraçalhado, primeiro num sentido pelos parceiros da «geringonça», depois no outro pelos técnicos da Comissão Europeia, transformando-se numa manta de retalhos que não apenas dá às corporações o que tira à generalidade dos cidadãos e das empresas (já seria mau, por dificultar a recuperação) mas pura e simplesmente não bate certo.

A UTAO, o Conselho de Finanças Públicas, a Comissão Europeia, o FMI, o Eurogrupo, os bancos de investimento, as agências de notação e os mercados (é estranho que as taxas subam tanto: afinal, não tinham descido apenas por acção do mesmo BCE que continua a comprar paletes de dívida nacional?) sabem-no. O desconforto de Mário Centeno (claro opositor da implementação das 35 horas de trabalho na função pública no decorrer de 2016, já enredado em justificações entre o populismo e a absurdidade, agressivo em Lisboa, humilde em Bruxelas) ou de Trigo Pereira (que se força a escrever elogios ocos ao orçamento) mostra que até mesmo na área do governo há quem perceba que a situação pode descambar rapidamente. (Galamba, à altura do mestre Sócrates, permanecerá firme até muito depois do colapso.)

Mas António Costa (especialista em questões de poder) sabe que o seu futuro (o único que lhe interessa) depende do timing e das características da próxima crise. Isto fá-lo-á resistir durante tanto tempo quanto lhe for possível, tentando distorcer os acontecimentos, manobrar as expectativas e, acima de tudo, aguardando um golpe de sorte. De vez em quando, porém, não evitará declarações como as do sábado passado. Ao recomendar aos portugueses menos consumo depois de assentar todo o programa de governo em mais consumo, António Costa, consciente ou inconscientemente (talvez como quando chamou primeiro-ministro a Passos Coelho), admite o falhanço da sua estratégia. O resto é uma questão de tempo.



publicado por José António Abreu às 12:38
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Sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2016
O PCP e o Bloco sabem?
Depois de tudo o que o que António Costa disse sobre o assunto, o orçamento para este ano prevê menos dinheiro para as escolas públicas e mais para as privadas.


publicado por José António Abreu às 21:26
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Quinta-feira, 4 de Fevereiro de 2016
Da lógica

1. No esboço original do orçamento, o governo previa um crescimento da economia de 2,1% e um défice público de 2,6% do PIB;

2. Partindo do esboço original do orçamento, a Comissão Europeia antecipou um crescimento de 1,6% e um défice de 3,4% e o FMI um crescimento de 1,4% e um défice de 3,2%;

3. O governo e o PS asseguram que as previsões da Comissão Europeia e do FMI se baseiam em dados desactualizados, por não levaram em consideração as medidas entretanto propostas pelo governo;

4. Como é que isso justifica os desvios?



publicado por José António Abreu às 16:21
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Quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2016
Um dever
Uma das tácticas mais habituais no totalitarismo passa por associar qualquer vestígio de oposição a forças contrárias aos superiores interesses da nação. Ao longo da História, inúmeras purgas assentaram neste argumento. O PS de Costa, como antes o de Sócrates (no fundo, é basicamente o mesmo), não tem poder para iniciar purgas. Contudo, em declarações dos seus membros como nas de alguns idiotas úteis, a mentalidade encontra-se bem presente: quem discorda do rumo seguido trai o interesse nacional. Deixem-me pois ser muito claro. Na minha opinião, o interesse de Portugal passa por contas públicas equilibradas e não por mais dívida; por uma economia que liberte o sector privado e não por uma que o asfixie ainda mais; por políticas que permitam captar investimento externo e não que o afugentem; por um governo que se dê ao respeito e não por um assente em chico-espertice e retórica 'chavista'. No que me diz respeito, o governo actual representa um perigo para o país e combatê-lo é um dever.


publicado por José António Abreu às 11:52
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Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2016
Esboço de orçamento para enganar papalvos
A trafulhice não surpreende: imagem de marca dos governos socialistas recentes, só confirma as suspeitas sobre a falta de seriedade intelectual de Costa e de Centeno. Mas classificar como extraordinárias medidas que obviamente representam despesa corrente constitui tamanho insulto à inteligência alheia que ainda incomoda ligeiramente - e acima de tudo envergonha, por recuperar o lugar-comum do português que utiliza todos os expedientes para tentar evitar o que tem de fazer. Depois disto, será lícito esperar respeito por parte de técnicos e ministros das finanças europeus? Há um ano, Varoufakis perdeu a consideração dos colegas por arrogância (faça-se-lhe a justiça: claramente assumida); Centeno, com o sorriso cada vez mais parecido com o de um vendedor de carros usados (as minhas sinceras desculpas aos vendedores de carros usados), irá perdê-la por esperteza saloia.

Mas enfim, sejamos positivos: pelo menos como espectáculo para consumo de pipocas, a coisa promete. Vai ser divertido assistir ao braço de ferro entre governo, comissão europeia, bloco de esquerda e partido comunista. E pode ser que entretanto a DBRS resolva juntar-se à festa. Nesse caso, os tempos ficarão mesmo muito, muito interessantes.



publicado por José António Abreu às 10:55
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Terça-feira, 26 de Janeiro de 2016
O regresso dos maus da fita e o poder do pensamento positivo
Moodys afirma que esboço do orçamento de Estado é optimista e repete erros do passado.
Fitch considera que orçamento assenta em pressupostos de crescimento «irrealistas» e ameaça descer rating de Portugal.

Não será altura de a intelligentsia nacional começar novamente a bramir contra as agências de rating? (Poupando a DBRS, claro - por enquanto.)

 

Governo acredita que por cada euro de estímulos, retoma devolve quatro.

Funcionou bem em 2009 e 2010, não foi? E as PPP até se pagaram a elas mesmas...



publicado por José António Abreu às 17:16
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Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2016
Virgem (apesar da «geringonça»)
O deputado socialista (e, dizem alguns - eu tentarei evitar os insultos -, reputado economista) Paulo Trigo Pereira, co-autor do programa de estímulo ao consumo com que o PS se apresentou às eleições, escreveu um artigo para o Observador. Nele, após considerações de cariz político-filosófico, estranha a ânsia demonstrada por PCP e Bloco em repor a semana das 35 horas de trabalho na função pública. Pede contenção, alerta para as fragilidades da economia, faz questão de mencionar que sempre defendeu a «durabilidade» e a «estabilidade» das políticas. O termo mais adequado para descrever a minha reacção é - lamento - asco. Ou nojo. Ou náusea. Ou - tentemos alguma contenção; não quero mesmo tombar em insultos - repulsa. Este pessoal, equipado com cérebros putativamente brilhantes, surpreende-se afinal com o que qualquer humanóide provido de dois neurónios funcionais (e o segundo operando apenas como redundância) percebeu no momento em que António Costa abriu os braços (sim, «os braços»; a última coisa que desejo é insultar) a comunistas e bloquistas: estes não são prudentes nem se acham vinculados ao «programa do PS», sobre o qual estas alminhas ingénuas (trata-se de um termo carinhoso, não de um insulto) clamam haver-se fundado a «geringonça». Não perceberam, aliás, ainda outra coisa: António Costa estava inteiramente disponível para aceitar o que quer que fosse a troco da conquista do poder - e conserva idêntica disposição quando o objectivo é mantê-lo. Nada ingénuos (vêem? aqui não há insulto mas também não há carinho), comunistas, bloquistas e sindicalistas perceberam-no no primeiro instante. Repare-se no extraordinário momento de stand-up comedy protagonizado ontem por Ana Avoila, quando inquirida sobre o processo negocial em torno da tal questão das 35 horas: «O governo marcou a reunião para 28 e nós pedimos para ser 28 de manhã porque à tarde temos muito trabalho de preparação para a greve.» Que é como quem diz: «Vão-se fazer inserir um objecto rombo num tracto digestivo da vossa conveniência.» (Acredito que ela também não deseja insultar.) Avoila sabe ter a «geringonça» na mão e sabe ainda que qualquer homem (António Costa - e isto até enforma uma espécie de elogio - não será excepção) entra num particular estado de fragilidade quando alguém lhe agarra essa parte da anatomia.
 

No fundo, é um bocadinho como se Trigo Pereira, tendo ignorado avisos e mantido relações sexuais sem protecção num bordel tailandês (preferindo, pode escolher Cuba ou a Venezuela, que na Coreia do Norte não devem existir), estranhasse ter apanhado um esquentamento. Ou como se, três meses após o primeiro acto sexual consumado (não daqueles à Bill Clinton), desejasse recuperar a virgindade. Lamento mas das duas, uma: se percebeu finalmente o sarilho que António Costa arranjou ao enfiar a «geringonça» pelo tracto digestivo dos portugueses, que salte fora e então - ainda que heterossexual, sou sensível a covinhas no queixo - terá direito a um módico de apreço; caso contrário, mais vale o silêncio. Para as mulheres existem operações mas, num homem, a virgindade é irrecuperável. Especialmente depois de ter sido perdida com uma «geringonça» disforme.



publicado por José António Abreu às 12:04
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Quarta-feira, 13 de Janeiro de 2016
Eternos cultores do curto prazo
Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque propunham-se economizar nos juros, antecipando pagamentos ao FMI. Como José Sócrates e Teixeira dos Santos em 2009 (relembre-se a delícia que constituiu a renegociação dos contratos das PPP), Costa e Centeno preferem assumir mais juros e adiar o pagamento das dívidas. A partir de 2018 (terá entretanto ocorrido nova crise económica? Permanecerão os mercados de dívida abertos para Portugal? Será comportável o custo de a eles aceder?) logo se verá como pagar. Sendo improvável que os cofres continuem cheios, pode sempre exigir-se um perdão.


publicado por José António Abreu às 11:47
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Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2015
Do regresso à opacidade como forma de evitar críticas
Já tem uns dias mas convém ler E os nomeados são, de João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.


publicado por José António Abreu às 15:42
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Regresso à normalidade
Lentamente, os contornos do caso Banif vão ficando mais claros. O processo foi fechado antes de 1 de Janeiro de 2016, evitando as novas regras europeias para a resolução bancária, que forçam uma contribuição dos maiores depositantes e dos detentores de dívida sénior. Ao contrário do que sucedeu no Novo Banco, a venda do «banco bom» foi restringida a entidades com licença bancária, o que permitiu um excelente negócio ao Santander - e um péssimo negócio para os contribuintes. Para grande satisfação dos principais bancos, o Fundo de Resolução foi não apenas poupado a contributos desagradáveis (o que forçou o ministro das Finanças a declarações de veracidade questionável) mas capitalizado - ambas as coisas, mais uma vez, à custa dos contribuintes. Com a ajuda de uma comunicação social acéfala ou alinhada (não sei o que será pior), o ónus de toda a situação foi empurrado para o governo PSD-CDS.

Resta admitir mérito a quem o merece. A operação foi excelentemente montada e perfeitamente executada. Até já se percebe o apoio de Fernando Ulrich (quase sempre alinhado com o PSD) à formação de um governo liderado por António Costa: enquanto o PS é de confiança, a versão do PSD liderada por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque demonstrara não saber respeitar os costumes e as hierarquias da República.



publicado por José António Abreu às 11:23
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Sexta-feira, 18 de Dezembro de 2015
Ou é bluff para PCP ver ou uma forma inovadora de apelar ao investimento estrangeiro
Em Bruxelas, António Costa garantiu que a TAP voltará para o Estado, ainda que o governo falhe um acordo com os compradores. O tema de saber a quanto poderá ascender a conta de tal decisão, para a empresa e para os contribuintes, não terá sido abordado.


publicado por José António Abreu às 16:10
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Quinta-feira, 3 de Dezembro de 2015
Sinais

1. Não vou discutir questões de pedagogia. Os exames do quarto ano podem ou não fazer sentido. Mas a inexistência de qualquer análise prévia à decisão de os eliminar, bem como a não implementação de outro método para avaliar escolas e professores, faz com que a pedagogia seja pouco relevante. Muitos pais aplaudirão: é menos «stresse» para os filhos e hoje em dia o mais importante é as crianças não sentirem «stresse», em especial porque ele se reflecte nos pais. Quase todos os professores e directores de escola aplaudirão: é menos um elemento de avaliação do seu trabalho. O novo ministro da pasta... Ora, o que importa o que o novo ministro pensa quando os superiores interesses do Bloco e do PCP se levantam?

 

2. Em 2012, Vítor Gaspar implementou a Lei dos Compromissos e Pagamentos em Atraso. O objectivo era forçar as entidades do sector público a pagar a horas. Desde então, a dívida global das autarquias reduziu-se para cerca de metade (1500 milhões de euros em vez de 3000 milhões) e o montante em dívida há mais de 90 dias caiu para menos de um quinto (300 milhões em vez de 1600 milhões). Agora, o recém-empossado secretário de Estado das Autarquias Locais (por extraordinária coincidência, ex-presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras) promete revê-la. Não se esperava outra coisa.

 

3. Ontem, no Parlamento, Costa respondeu às reservas de Jerónimo com a cristalina frase: «Aquilo que o PCP não está disponível para apoiar, é aquilo que nós não estamos disponíveis para propor». Já sabíamos que o programa do governo não é o mesmo que o PS levou às eleições onde foi derrotado. Já desconfiávamos que, mais do que uma obra do PS, será o que PCP e Bloco desejarem que seja. Ontem, Costa confirmou que as famosas «linhas vermelhas» são mesmo as do PCP.

 

4. Ainda ontem, ainda no Parlamento, o deputado do PSD Miguel Morgado citou um livro de Mário Centeno para ilustrar a contradição entre as ideias que este defendia para o mercado de trabalho e as ideias defendidas pelo governo que Centeno agora integra - e, com a sua pretensa imagem de seriedade, cauciona. A resposta do ministro foi a mais extraordinária de toda a sessão: «Não tente transpor conclusões de artigos científicos para a legislação nacional, porque se tentar fazer isso é um passo para o desastre.» Centeno admite pois ter andado a inventar e a defender modelos não passíveis de aplicação prática. Mais: estende esse carácter puramente teórico a qualquer conclusão de qualquer estudo científico. Seriedade? Não fosse a inconsciência, tê-la-ia pelo menos na assumpção da hipocrisia.


publicado por José António Abreu às 10:44
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Quinta-feira, 26 de Novembro de 2015
Treze gráficos

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Atente-se no gráfico sobre o investimento: até 2003, em Portugal investiu-se sempre mais do que na Irlanda - com muito piores resultados. Não interessa: há quem continue a ver o Estado como o principal dinamizador da economia. Repare-se também no gráfico sobre a despesa pública: após o disparo causado pelo salvamento dos bancos, a Irlanda centrou a correcção nos cortes de despesa e regressou a níveis inferiores a 40% do PIB. Portugal não atinge esse patamar desde a década de 1980; não atinge sequer um nível em torno dos 42% ou 43% - que já seria incrivelmente libertador para a economia - desde a de 1990. Não importa: há quem continue a defender que um Estado pesado não trava o desenvolvimento de uma economia débil. Veja-se o curioso gráfico acerca dos trabalhadores sindicalizados: com um modelo menos apoiado no sector público, a Irlanda consegue apresentar uma percentagem mais elevada. De somenos: o papel dos sindicatos é defender leis laborais rígidas e a manutenção de empresas deficitárias na esfera pública. Analise-se a taxa de mortalidade infantil (um dos justificados orgulhos de Portugal, que afinal a Troika não destruiu): parece que também pode ser garantida por um sistema de saúde em que o Estado chegou a despender anualmente menos 1,5% do PIB (conforme o gráfico sobre os gastos públicos com saúde). Que importa? Os números não dizem tudo; a saúde tem a ver com «pessoas». Mas, a propósito de pessoas, estude-se o gráfico sobre o coeficiente de Gini: com menos dinheiro público, a Irlanda criou uma sociedade mais igualitária (nota adicional: ao contrário do que afirmam muitas vozes, em Portugal não houve aumento da desigualdade com a chegada da Troika mas uma ligeira redução). Vergonhoso, fazer tal referência: o papel do Estado é apoiar quem precisa, sem olhar a custos. Notem-se ainda o saldo das contas públicas, o PIB per capita (indicador de produtividade e justificação de factores tão irrelevantes como o nível salarial), a taxa de desemprego, o nível da poupança (depauperado em Portugal e na Grécia pelo crédito barato e por estímulos públicos errados), o valor dos salários. Irrelevante, uma e outra vez: o modelo de desenvolvimento seguido em Portugal e na Grécia está correcto. Os problemas advêm do euro, da «austeridade» e da Alemanha.
 

Uma e outra vez, recusamos as evidências e cometemos os mesmos erros. Guterres sabia o que era necessário fazer mas desistiu antes de começar. Durão foi eleito prometendo fazê-lo mas fugiu quando isso se revelou difícil. Sócrates garantiu tudo e o seu oposto e só fez o oposto. Apenas Passos avançou realmente no sentido correcto. Timidamente. Com erros, constrangimentos (incluindo os gerados por facções dentro do PSD e CDS), adiamentos (fatais, num país de tamanha inércia). Enfrentando bloqueios constitucionais e níveis recordes de demagogia (por parte do PS, que levara o país à beira do abismo, mas também de inúmeras vozes com direito a tempo de antena). Obteve resultados ténues (tudo isto demora, exige paciência e capacidade de perseverança) mas encorajadores. Nos próximos meses, Costa e Centeno, agrilhoados às fantasias utópico-revolucionárias de Jerónimo, Catarina e Arménio, inverterão o ciclo. O sector público será novamente privilegiado à custa do privado. O investimento e o emprego (este muito em particular se a CGTP conseguir juntar o reforço da contratação colectiva e a limitação dos recibos verdes ao já programado aumento do salário mínimo) ressentir-se-ão. É verdade que, no imediato, haverá mais dinheiro disponível e tudo parecerá correr melhor. Depois, os problemas regressarão - mais graves, esgotada a acção do BCE e o capital de simpatia conseguido junto dos parceiros europeus, com os investidores cada vez menos predispostos a apostar num país que muda de ideias a cada governo e uma economia mundial que dificilmente escapará a uma crise (basta a FED subir as taxas de juro e os BRICs ressentir-se-ão).

 

Em Portugal - como na Grécia, como na maioria dos países da América Latina, como até em Itália e em França -, continua a acreditar-se que a riqueza é gerada através da despesa pública, da governação por decreto, da perseguição ao lucro. Acontece desta forma porque os cidadãos temem a mudança e porque dá jeito aos políticos que assim seja: um Estado leve, com menos a distribuir (empregos, contratos, obras, apoios), não liberta apenas a economia; liberta também os eleitores.

 

Treze gráficos. E podiam ser mais. Mas para quê? Em Portugal, poucos os querem ver, menos ainda os desejam perceber.



publicado por José António Abreu às 13:44
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Quarta-feira, 11 de Novembro de 2015
Estímulos

Devolver cortes para estimular o consumo, garantem. É provável que nisto tenham razão. Que estimule. Com péssimas consequências a prazo mas ignoremo-las por um instante e avaliemos a outra hipótese: a de que afinal não estimule assim tanto. Seria curioso ver os portugueses mostrarem-se cientes da fragilidade de um futuro construído por Costa, Catarina, Jerónimo e Arménio e optarem antes por reforçar poupanças - dentro e, quase certamente, fora dos bancos. Improvável? Admito que sim. Porque com essa mentalidade não seriam portugueses. Seriam alemães. Enfim, seriam talvez alemães; é difícil imaginar a Alemanha moderna a braços com um governo de convicções terceiro-mundistas.

 

(E a propósito: há pouco mais de 20 anos Portugal chegou a ter níveis de poupança ligeiramente superiores aos da Alemanha; em 2010, não atingiam 40%.)


publicado por José António Abreu às 21:22
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Quarta-feira, 28 de Outubro de 2015
Cristalização de direitos

Será curioso ver, num futuro não assim tão longínquo, o governo dos derrotados nas eleições, acossado por Bruxelas, abandonado pelos parceiros de conveniência, exigir aos vencedores dessas mesmas eleições que se lhe juntem na aprovação de medidas que, sendo de austeridade, terão recebido outra designação. Exigi-lo, note-se, com toda a veemência dos detentores de direitos adquiridos.



publicado por José António Abreu às 11:29
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Segunda-feira, 26 de Outubro de 2015
Rewind
«Se houver um problema, tem que se ajustar a meta do défice», diz um dos socialistas que tem acompanhado as negociações.

 

E subitamente, sem pelo menos rejuvenescermos meia dúzia de anos, regressámos a 2009. Com a diferença essencial para transformar a tragédia em farsa: na altura, o PS conduziu o país ao abismo a partir de uma vitória; hoje, fá-lo-á a partir de uma derrota.



publicado por José António Abreu às 18:35
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Sexta-feira, 23 de Outubro de 2015
Posições políticas, interesses de curto prazo e a certeza de um futuro pouco agradável

1. Imperdoável. Cavaco tem posições políticas e age em função delas. Em 1987, Soares podia tê-las e fazê-lo. Em 2005, Sampaio podia tê-las e fazê-lo. Em 2015, Cavaco - eleito em sufrágio directo à primeira volta mas não socialista - devia limitar-se a assinar de cruz o que as mentes progressistas, bem pensantes - sempre elas, neste malfadado país - lhe dizem para assinar.

 

2. Na Alemanha, essa nação que odiamos porque recusamos admitir invejá-la, os socialistas entraram para o governo após negociações longas e duras - mas francas. Por cá, os socialistas, com uma sede de poder que caracteriza bem a parte do mundo a que Portugal na realidade pertence, escolhem os seus interesses de curto prazo (que, da sobrevivência política de António Costa à obtenção de sinecuras, passando pelo controlo de processos judiciais sensíveis, são muitos e variados) em detrimento do país. Quem ainda tinha esperanças deve perdê-las: não apenas nunca atingiremos o nível de vida alemão como será uma sorte não cairmos para o nível de vida venezuelano.

 

3. Governo de gestão, governo PS com apoio ilusório do PC e do Bloco ou governo PS com programa definido por PC e Bloco? Para o país, a primeira hipótese. Mas venha o diabo e escolha. O que, do ponto de vista da esquerda, é mais ou menos o que acontecerá.



publicado por José António Abreu às 11:23
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