Time's fun when you're having flies.
Velho adágio batraquiano.
Na escola secundária recusei dissecar uma rã. Quando a professora de Biologia fez o anúncio, protestei com tamanha veemência que ela admitiu que eu não necessitaria de participar - e depois acabou por desistir da ideia. Os meus colegas com tendências mais sanguinárias ficaram desiludidos mas eu encarei o desagrado deles com a impassividade dos batráquios - depois de pular para longe.
A expressão dos sapos e das rãs é uma ode à calma e à paz de espírito. Observo a expressão facial (terão face?) de um sapo e, não obstante a existência de piadas como «o que irrita um sapo? Não encontrar uma mosca na sopa», sou incapaz de o imaginar caindo em histrionismos. Isto faz do Cocas dos Marretas uma incongruência pelo menos tão grande como ele ser do mesmo tamanho da porca com a qual mantém uma relação amorosa, mas encaixa perfeitamente nas rãs cépticas e irónicas de Aristófanes. Paul McCartney também lhes entendeu a maneira de ser em We All Stand Together (bóme, bóme), o velho êxito para crianças que dominou o Top Mais durante semanas a fio há um quarto de século. (Quantos anos viverão sapos e rãs? Tenho que pesquisar, depois de acabar este texto.) Ainda por cima, os sapos e as rãs comem moscas e eu detesto moscas. Até acredito que sejam gostosas (todas aquelas estruturas - cartilagens ou lá o que são - devem fazê-las saber a carapauzinhos fritos engolidos inteiros) mas, ainda assim, não as suporto. A avaliar pela beatífica fisionomia dos sapos, porém, devem ter propriedades extremamente calmantes. Um dia destes, quando me encontrar irritado, hei-de experimentar mastigar uma, em vez de beber um chá de camomila, comer um maracujá ou fechar os olhos, respirar fundo e pensar na Romy Schneider em La Piscine (sim, entrei na idade em que esse tipo de visões já é relaxante). Claro que também há pessoas que comem batráquios - les cons - mas prefiro não pensar nisso. E felizmente há muitas outras que, como eu, os apreciam por razões estéticas e filosóficas. Um exemplo: que outro motivo levaria alguém a chamar «Sapo» a um portal de internet? (A rapidez na captura? Bah, isso terá sido uma desculpa arranjada à pressa para disfarçar o que poderia parecer uma tara.) Um segundo exemplo: alguém abriria uma Frog Store apenas por ânsia de lucro?
(Raios partam. Quando comecei a escrever isto, tinha - ou, pelo menos, acho que tinha - uma forma inteligente para lhe colocar um ponto final. Entretanto pus-me a divagar e agora já não me lembro de qual era o plano. Vou tirar a tal dúvida. Pode ser que entretanto me regresse a inspiração ou seja lá o que for que me dá quando me ponho a escrever estas coisas.)
Resta-me uma dúvida e, não tendo arranjado melhor alternativa, penso que vou fechar com ela: nascido há 61 anos, como é que o Cocas ainda está vivo?
Mais uma coisa, afinal: a Miss Piggy, essa sim, é um pouco balzaquiana.
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