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Terça-feira, 21 de Abril de 2015
As medidas do PS
Há quem considere este governo incompetente e, em mais aspectos do que seria desejável, talvez seja - mas de vez em quando mostra notável capacidade política. Duas propostas apresentadas pela ministra das Finanças na semana passada (redução da TSU e devolução dos cortes em 4 anos) podiam parecer extemporâneas e prejudiciais para as eleições. Hoje, o PS validou-lhes a lógica.

- Tendo obviamente que prometer devolver os cortes num período mais curto, os socialistas dispunham dos números '0', '1', '2' e '3'. Escolheram o '2'. Como há uns tempos advogavam o '0', não é de excluir que, se chegarem ao governo, apliquem o '4'.

- Mais hilariante, após clamar contra a descida da TSU, alegando que afectaria a sustentabilidade da Segurança Social, o PS também se propõe baixar baixá-la (em 4%). De onde viria o financiamento? De cortes nas pensões dos otários à espera de as receber a partir de 2021 (se votarem no PS, é bem feito) ou de qualquer outra solução que o governo da altura encontrar. É forçoso elogiar-se a coerência: seguindo a forma catita como Sócrates empurrou para o futuro os encargos com as PPP, o objectivo primordial dos socialistas continua a ser proteger votos e interesses instalados (perdão: adquiridos); quem vier depois que se desenrasque. (Eles cá estarão para prometer outras coisas e lixar ainda mais os seguintes.) Há pior, contudo: o PS dispõe-se a fazer incidir o corte na TSU sobre os 11% descontados pelos trabalhadores em vez de sobre sobre os 23,75% suportados pelas empresas. Este ponto autoriza maniqueísmos do género «o PSD alinha com o capital enquanto o PS está ao lado dos trabalhadores», que não deixarão de ser usados em campanha eleitoral, mas mostra também a diferença fundamental entre PS e PSD (não tenho a certeza quanto ao CDS) no que respeita ao modelo de desenvolvimento pretendido para o país. Enquanto o PSD anuncia a intenção de continuar a apostar na captação de investimento e no aumento da competitividade das empresas, de modo a que actividade destas compense um aumento paulatino do consumo, os socialistas, inamovíveis pelo menos desde Guterres, continuam a acreditar que o simples estímulo ao consumo interno trará crescimento sustentável. Infelizmente, isso revelar-se-á falso (outra vez) e os estímulos apenas farão a balança de transacções pender para o lado errado (outra vez). O anúncio da eliminação da descida gradual do IRC (nascida de um acordo entre o governo e o PS, que os socialistas atiram agora para o lixo) segue exactamente a mesma lógica.

Das restantes medidas anunciadas, várias contêm o inevitável aumento da despesa pública, a compensar com receitas provenientes de um crescimento económico que, após meses a acusar o governo de optimismo descabido, o PS prevê ainda mais forte, e por aumento nos valores previstos para o défice (em comparação com os cenários do governo), mas há duas que me chamaram especialmente a atenção:

- Enquanto o PS de Sócrates garantia ir admitir apenas um funcionário público por cada dois que saíssem, o PS de António Costa promete adoptar a relação de uma entrada para uma saída. Com Costa, portanto, não haverá reduções adicionais de pessoal na função pública. (Se os socialistas governassem tão bem como sabem captar votos, estávamos todos ricos.)

- A intenção de limitar os contratos a prazo é piedosa mas havia de fazer um bem espectacular à taxa de desemprego.

 

Globalmente, as propostas socialistas são menos radicais do que muitos esperariam, podendo até desiludir alguns apaniguados da linha Galamba - Varoufakis. Ainda assim, revelam a incapacidade de sempre: perceber que o país necessita de ir alterando o seu modelo de desenvolvimento económico, sem o que todas as medidas de estímulo serão efémeras e, a prazo, contraproducentes. Mas que o PS não entenda isto dificilmente pode surpreender: afinal, trata-se do partido que, em 2011, levou o país à falência e, em 2015, está ele próprio quase falido.

 

 

Leitura complementar: Os gatos e os ratos, por Paulo Ferreira, no Observador.


publicado por José António Abreu às 20:43
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