Há meio século que ouço conversas como esta. Lembro-me bem do que diziam pessoas inteligentes e informadas nos últimos anos da República de Weimar, o que diziam uns aos outros nos primeiros dias depois de Hindenburg nomear Hitler. Lembro-me das conversas à mesa de jantar no tempo de Léon Blum e Édouard Daladier. Lembro-me do que diziam as pessoas sobre a aventura italiana na Etiópia e sobre a Guerra Civil Espanhola e sobre a Batalha de Inglaterra. Estas discussões inteligentes nem sempre se revelaram erradas. O que têm de errado é que os interlocutores transmitem invariavelmente a sua inteligência ao tema da discussão. Posteriormente, os estudos históricos revelam que o que aconteceu na realidade era desprovido de tal inteligência. Essa inteligência esteve ausente dos Campos da Flandres e de Versalhes, ausente quando se tomou o Ruhr, ausente de Teerão, Ialta, Potsdam, ausente das políticas britânicas durante o Mandato da Palestina, ausente antes, durante e depois do Holocausto. A história e a política não se assemelham em nada às noções concebidas por pessoas inteligentes e bem informadas. Tolstói tornou isso bem claro nas páginas iniciais de Guerra e Paz. No salão de Anna Scherer, os elegantes convidados discutem o escândalo de Napoleão e do duque d’Enghien, e o príncipe Andrei diz que apesar de tudo há uma grande diferença entre Napoleão o imperador e Napoleão a pessoa privada. Há raisons d’état e há crimes privados. E a conversa prossegue. O que continua a ser perpetuado em todas as discussões civilizadas é o próprio ritual da discussão civilizada.
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