Num dos canais National Geographic uns quantos bisontes macho residentes no Parque Nacional de Yellowstone esforçavam-se por conquistar o coração das fêmeas e afastar a concorrência. Segundo parece, as principais formas dos bisontes macho se insinuarem junto das companheiras de manada (é possível que «insinuar» seja um verbo demasiado subtil para descrever a atitude dos bisontes mas não consigo resistir a deixar duas ou três das cinco pessoas e três quartos que ainda lêem este blogue tentando imaginar um bisonte insinuando-se) é realizando exibições de porte e de dotes vocais (o júri do Ídolos seria implacável), rebolando-se na lama e trotando atrás delas para onde quer que elas vão (de modo um tudo nada demasiado insistente,
if you ask me, especialmente se as bisontes fêmea modernas tiveram pontos de contacto com as humanas modernas). Quanto à segunda parte da questão, lidam com ela escavando no solo com as patas anteriores, urrando ameaçadoramente e dedicando-se a lutas cabeça contra cabeça. Estas, deixem-me que vos escreva, constituem um espectáculo impressionante, digno de um documentário da National Geographic (que afinal de contas era o que aquilo era). Apesar de, segundo o narrador, os bisontes tentarem evitar o confronto físico, cerca de um terço dos machos tem ossos partidos em resultado de combates. O que não surpreende quando se vêem dois mastodontes de novecentos quilos cada chocando de cabeça um contra o outro. Repetidamente. Mas o prémio compensa, não? Hmmmm, exactamente qual é o prémio? O que é que eles ganham no final de todo este esforço? Preparados? Aqui vai: quinze segundos de prazer. A sério, não é uma figura de estilo: quinze segundos – um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, quinze – é a duração do acto sexual que eles tanto ambicionam. Penso já ter lido em qualquer lado que alguns humanos macho também não duram mais do que isso. Mas convenhamos que poucos andam às cabeçadas uns aos outros por causa de fêmeas (pronto, está bem, alguns também andam mas a esmagadora maioria fá-lo por amor a Jorge Nuno Pinto da Costa ou a Luís Filipe Vieira). Seja como for, estava eu a olhar para o ecrã com um sorriso de espanto e outro de comiseração (ando a aprender dupla personalidade com a
Toni Collette), pensando que as fêmeas, quando finalmente desistem de se fazer de difíceis, só podem achar que a montanha pariu um rato (
agora é uma figura de estilo) e que, diabos, quinze segundos (quinze, ok?) de prazer não valem tamanho esforço e risco (no mínimo, um bisonte faz sexo com uma dor de cabeça mais intensa do que a de uma humana tentando evitar fazer sexo, no máximo com um traumatismo craniano fatal) quando me apercebi de que, para um bisonte macho, vivendo com escassos métodos alternativos de obtenção de prazer (a paisagem é bonita mas ao fim de um certo tempo deixa de ser novidade e não há televisão, nem livros, nem cinema, nem música, nem blogues, nem nenhuma daquelas substâncias a que os humanos recorrem para tentar esquecer como a sua vida é deprimente – ainda que esteja repleta dessas coisas todas), aqueles quinze segundos podem representar muito mais do que um exemplar mediano de
homo sapiens está capacitado para entender. Reparem só num detalhe a que ninguém presta atenção: um bisonte, como a maioria dos restantes animais, nem sequer consegue masturbar-se.