Há uma versão dos acontecimentos segundo a qual a culpa das dívidas dos Estados é de quem lhes emprestou o dinheiro. No fundo, uma acusação na linha das feitas aos bancos durante a crise do subprime, por - teoricamente escudados em produtos derivados - terem concedido empréstimos a pessoas sem rendimentos suficientes para pagar as prestações das casas que desejavam adquirir. Nesta linha de raciocínio, a Grécia, como Portugal, foi empurrada para o crescimento insustentável da sua dívida pública por todos aqueles - primeiro entidades privadas, depois as instituições constituintes da Troika - que lhe foram emprestando dinheiro. Pelo que - continuam os defensores desta teoria - é bem feito que tais prestamistas - usurários, mesmo - encaixem perdas pelo erro cometido. Não tenho problemas especiais em aceitar esta versão dos acontecimentos: a gestão do risco deve ser uma preocupação fundamental de qualquer empresa ou entidade, especialmente no sector financeiro (algo que a maioria das pessoas esquece quando confrontada com simulações pouco simpáticas de créditos ou seguros). No entanto, fazê-lo só pode levar a uma conclusão: não se deve emprestar a quem não tem (ou parece não ter) capacidade para pagar. Como - assumia-o a própria há um par de semanas e, de forma mais convoluta, assume-o ainda hoje - é o caso da Grécia. Como - alguém duvida? - é o caso da Ucrânia. Como - houve um manifesto ainda há menos de um ano - muitos dizem ser o caso de Portugal. Vamos, pois, implementar proibições de concessão de crédito a países com dívidas públicas elevadas (digamos acima de 100% do PIB), de modo a limitar a acção dos especuladores? Vamos extinguir a Troika - e, de caminho, o FMI, inventado precisamente para emprestar dinheiro a países em situação crítica -, deixando cair (e desenrascar-se sozinho) quem tem de cair? Expurgado de exigências por parte de credores interessados em recuperar o dinheiro, o mundo ficará indubitavelmente um lugar muito mais bonito.
Se a globalização torna mais difícil aos regimes de cariz autoritário esconderem os benefícios da democracia (actualmente tão pouco valorizados por quem deles goza), também lhes é útil em alturas de confronto político: no dilema entre proteger interesses económicos e fazer respeitar princípios, as democracias são sempre as primeiras a sacrificar os princípios.
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