como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 19 de Janeiro de 2015
Da propriedade dos turistas

 

Blogue_porto.jpg

 

AHAHAHAH
Acabámos de saber (estupefactos) por um Secretário de Estado, que o crescimento do turismo no Porto não se deve nem à política de promoção que a cidade tem feito nem ao extraordinário trabalho que os portuenses (empresários e cidadãos) têm feito.
A razão para o enorme sucesso do turismo deve-se ao trabalho deste Secretário de Estado e à presença do Porto na imprensa internacional que, por sua exclusiva e enorme competência, tem promovido a cidade no estrangeiro.
E é bem verdade, basta olhar para a capa do New York Times, para as centrais da Monocle, para a última página do Libération, para a página 4 do El País para se perceber a presença deste enorme Secretário de Estado e o competente trabalho que o seu Governo tem feito na promoção do Porto. Estão a vê-lo? Reconhecem-no? Chama-se Adolfo Mesquita Nunes... Palavras para quê, é um artista português.

 

Mudei-me de Gaia para o Porto no ano passado. Não votei, pois, em Rui Moreira - mas tê-lo-ia feito se já residisse no Porto em 2013. Isso não me impede de considerar absurda, para além de infantil, a reacção de Moreira às declarações feitas por Adolfo Mesquita Nunes, o secretário de Estado do Turismo, ao Jornal 2 da RTP da passada quinta-feira. Mesquita Nunes disse não apenas o que devia dizer mas o que qualquer portuense com dois dedos de testa sabe: o turismo no Porto cresceu em resultado de uma conjugação de factores, entre os quais se destacam a captação de voos de companhias low-cost para o aeroporto Francisco Sá Carneiro, a estratégia de promoção assente nos meios digitais e na publicação de artigos em revistas e jornais estrangeiros (em vez de em «eventos») e os investimentos privados na cidade, que a dinamizaram muito para além do que as «forças intelectuais» sedentas de subsídios públicos que se opuseram constantemente à acção de Rui Rio alguma vez conseguiram. Aparentemente, Moreira queria mais. Queria (como parece ficar óbvio pela colecção de imagens que afixou na sua página do Facebook) uma palavra de reconhecimento a quem é presidente da autarquia há pouco mais de um ano. Queria palavras bonitas sobre a capacidade de iniciativa dos portuenses (que existiram) mas não palavras realistas sobre outros factores (é evidente que a Ryanair desempenhou um papel crucial). Esta incapacidade para analisar fria e racionalmente os assuntos, prescindindo de vaidadezinhas que seriam estéreis se não fossem afinal prejudiciais, é um dos grandes problemas dos políticos portugueses (e não só deles; trata-se de uma característica bastante disseminada). Lamento que Moreira se esteja a deixar cair em reacções tão básicas, injustas e improdutivas. Até porque, não tendo tido oportunidade de votar nele em 2013, gostaria de poder fazê-lo no futuro.

 

P. S.: Não consegui encontrar o vídeo completo da entrevista. O excerto a que se pode aceder na página do Facebook de Rui Moreira é tão representativo como um quadradinho retirado bem do centro da bandeira portuguesa é representativo das cores que a compõem.



publicado por José António Abreu às 15:10
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Quinta-feira, 10 de Setembro de 2009
Memória das gaivotas
Visitei a ilha da Berlenga pela primeira vez num dia de Verão absurdamente quente do início da década de noventa. A quantidade de gaivotas era impressionante. O guano cobria as rochas e o ruído ensurdecia. Quando, no sábado passado, terminei a subida que leva ao farol foi como regressar a um sítio de que se tem uma imagem construída em criança e verificar que os espaços são todos mais acanhados do que no registo guardado na memória. Desde 1998, por questões de equilíbrio do ecossistema da ilha, partem os ovos às gaivotas para limitar-lhes a reprodução. Ainda há bastantes e a diminuição do nível de decibéis e do risco de ser atingido por um bombardeamento com armas químicas são factores inegavelmente positivos. Apesar disso, senti falta da disparatada quantidade de gaivotas de outrora. Quando regressamos a um local que já não visitamos há muitos anos, as alterações são quase sempre negativas: obrigam-nos a reajustar (e, consequentemente, a questionar) as memórias. (Ainda por cima, as memórias de viagens tendem a melhorar com o tempo.) Desde sábado, é-me mais difícil recordar a Berlenga com o sorriso de incredulidade que, durante anos, surgia de forma automática.
 

De resto, as águas permanecem límpidas, a subida do Forte de S. João Baptista até ao farol, exigente, e o próprio Forte continua a parecer-me digno de um filme de piratas.

 

  

 

 



publicado por José António Abreu às 00:19
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Segunda-feira, 29 de Junho de 2009
Viagens em lista de espera. 3: Bruges.

Ponto um: fica na Bélgica. Ponto dois: a minha vontade de visitar Bruges pode ser totalmente atribuída ao filme Em Bruges. Admitir isto deve parecer um bocado ridículo mas as coisas são assim: com frequência, as nossas motivações são ridículas, pelo menos para os outros (na nossa cabeça fazem sentido mesmo quando não o conseguimos passar a escrito). De qualquer dos modos, a minha vontade de visitar Bruges deve-se ao filme. Antes de o ver, a cidade não era sequer um blip no meu radar. Torna-se evidente que, numa circunstância destas, o risco de desilusão é enorme. Afinal, as coisas nem sempre são como no cinema. E, assim de repente, na Bélgica pouco mais há que me interesse. (A não ser as tabletes de chocolate Guylian com 56% de cacau e avelãs inteiras mas isso arranjo por cá.)

 
A Bélgica é um país curioso. É grande, bilingue, está no centro da Europa, e, no entanto, surge como irrelevante. E não é de agora. Pensem lá em quantos episódios significativos da história belga conhecem. (No improvável caso de algum belga, ou descendente de belgas, estar a ler isto, é favor abster-se.) Existem também muito poucos produtos ou pessoas que se associem à Bélgica. Como fã de ténis, não posso passar por cima (é uma maneira de dizer…) da Kim Clijsters e da Justine Henin. A primeira porque tinha (vamos ver se ainda tem, quando regressar este Verão) um estilo espectacular e cheio de garra, a segunda porque tinha um estilo perfeito e cheio de garra. Como fã de automobilismo devo também mencionar o circuito de Spa-Francorchamps, um dos mais espectaculares do mundo. Ouço dizer que os benfiquistas ainda relembram com emoção um guarda-redes qualquer mas as emoções dos benfiquistas dizem-me pouco (excepto quando estão tristes na sequência de derrotas com o Sporting) e não me fazem ter vontade de ir à Bélgica. Os franceses contam anedotas sobre os belgas (pergunta: o que se faz se um belga nos atirar uma granada? resposta: tira-se a cavilha e devolve-se a granada), mas parece-me que isso diz mais sobre os franceses que sobre os belgas. E, como sucede quando o resto de Portugal conta piadas de alentejanos, até pode indiciar alguma ternura. (OK, no caso dos Franceses provavelmente não.)
 
Depois do filme vim à net pesquisar um pouco mas, para ser franco, nada de muito relevante surgiu. A história da cidade é interessante mas não mais que a de muitas outras cidades pela Europa fora. (Foi um importante porto e centro comercial na Idade Média mas entrou em declínio quando perdeu essa posição para Antuérpia por volta do século XV, na sequência do assoreamento do canal de ligação ao oceano.) A zona histórica é belíssima e património da humanidade mas isso também a do Porto. (A de Bruges é medieval mas não será difícil que se encontre em melhor estado de conservação…) Parece que, por ter canais, é conhecida como a “Veneza do Norte” mas isso também uma mão-cheia de outras cidades do norte da Europa. Assim sendo, a vontade de lá ir continua a poder ser totalmente atribuída ao filme. O que pode realmente parecer um bocado ridículo mas é a única explicação sincera que, mesmo depois deste texto todo, continuo a conseguir arranjar.
 
(Apercebo-me agora que, para quem se deu ao trabalho de o ler, mais que um incentivo para visitar Bruges, este post poderá servir de incentivo para ver Em Bruges. Se assim for, já fico bastante satisfeito.)
 

É sempre recomendável ler as letras pequeninas: não sei se este clip de vídeo incitará alguém a ver o filme ou a visitar Bruges mas sei que pessoas sensíveis a linguagem obscena devem abster-se de clicar no botão Play.

(Fotos retiradas daqui.)



publicado por José António Abreu às 13:34
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Quarta-feira, 20 de Maio de 2009
Na esguelha

Aconteceu novamente ontem à noite, ao chegar ao Porto. Se calhar passa-se apenas comigo. Da próxima vez esperarei que um ou dois passageiros me ultrapassem no trajecto para a linha dos táxis. Porque ou acontece com toda a gente ou há uma conjugação astral qualquer (e eu não acredito em astrologia) que me faz apanhar sempre táxis conduzidos por taxistas loucos. Ontem, a caminho de Gaia, atingimos mais de cento e sessenta quilómetros por hora. As curvas foram uma luta contra a força centrífuga. A dada altura, o homem resolveu fazer uma chamada de telemóvel – sem sistema mãos livres, claro. Desta vez nem protestei, para não ter que ouvir as garantias ocas do costume ("está tudo sob controlo", "já faço isto há muitos anos", etc.) e os ataques aos outros condutores (que, segundo parece, são o verdadeiro perigo).

 
Por cá, a gente até já está habituada. Não devia, mas está. Mas imagino a reacção de um nórdico qualquer, habituado a viajar de táxi sem ser projectado de um lado para o outro. (Há um par de anos, o taxista que me levou de um hotel em Copenhaga para o aeroporto não passou dos cento e dez e teve uma das conduções mais calmas de que me lembro.) O tal nórdico deve sentir-se uma personagem do jogo Crazy Taxi. Deve perguntar-se por que raio Portugal não é publicitado como um destino para férias radicais. Ele não viria mas talvez viessem outros.
 
Que cada um faça o que lhe dá na gana e se esteja nas tintas para considerações alheias tem ainda outra consequência: gera reacções radicais. Se os fumadores tivessem tido algum autocontrolo (não fumar em espaços fechados e sem ventilação quando em presença de não fumadores, por exemplo), talvez a lei do tabaco pudesse ter sido menos restritiva. A situação nas estradas é similar. Comportamentos como o do meu taxista de ontem justificam que a atenção pública se foque quase exclusivamente nos condutores (o governo agradece) e reforçam a sensação de que o que é preciso é mais fiscalização e repressão: brigadas, radares, câmaras, identificadores nas matrículas. Lá seguimos sorumbática mas convictamente a caminho de 1984.
 

Enfim, será a famigerada falta de civismo nacional. Muitas pessoas continuam a achar que, na estrada, é perfeitamente aceitável ignorar as regras de profissionalismo, de bom senso e de boa educação (porque, na verdade, nem sequer vêem a coisa dessa forma). Como disse o meu taxista ao interlocutor durante a chamada telefónica: “Já sabes: comigo é sempre na esguelha.” Talvez então não devesse conduzir um táxi, ó amigo. Porque o serviço que presta não é apenas levar pessoas do ponto A ao B. É também fazê-lo em conforto e segurança.



publicado por José António Abreu às 16:18
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dentro do escafandro.
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