como sobreviver submerso.
Refastelado no sofá assistindo à primeira série de 30 Rock em DVD, vejo Liz Lemon, a personagem interpretada por Tina Fey (o «sex symbol para homens que lêem sem mexer os lábios», segundo a magnífica – porque adequada, e tão elogiosa para ela como para os fãs onde entusiasticamente me incluo – descrição de Michael Specter, da New Yorker), ter um jantar romântico com um colega negro. Corre mal: ela não gosta dele por ele ser chato; ele fica convencido de que ela não gosta dele por ele ser negro. Se este fosse um blogue com pretensões de seriedade, eu poderia agora abordar questões como o racismo dos brancos, e o racismo dos negros, e o medo que muitos brancos têm de parecer (ou ser) racistas, e o interessante que é uma série teoricamente levezinha (nenhuma relação com o Liedson) se atrever a abordar a temas tão pesados, ainda por cima sem medo de fechar o episódio com a quiçá não muito politicamente correcta cena em Lemon dá um tiro no traseiro do colega. Mas tudo isto era se neste blogue se abordassem questões verdadeiramente relevantes. E se eu estivesse capaz de efectuar análises sérias depois de ter visto, no tal primeiro e tão chato encontro, Liz Lemon reagir com considerável aborrecimento à confissão do homem de que um dos seus passatempos era fotografar portas antigas. Por mais que me esforce, não consigo entender como é que isso pode não ser interessante.
(Não reparei se foi Tina quem escreveu o episódio em questão e, em caso afirmativo, desconheço se baseou a cena numa experiência pessoal. Mas juro que, se alguma vez a conhecer – ei, consigo pensar em pelo menos três coisas mais improváveis, e duas delas nem sequer envolvem fatos espaciais e actrizes de Hollywood partilhando uma cama com actrizes francesas –, vou dizer que não tenho jeito para tirar fotografias e que os meus hobbies são os jogos de vídeo e coleccionar memorabilia dos filmes Guerra das Estrelas.)
A foto de Tina é de Annie Leibovitz e foi roubada no excelente artigo que a Vanity Fair lhe dedicou.