como sobreviver submerso.

Sexta-feira, 5 de Junho de 2009
Viagens em lista de espera. 2: Tasmânia.

Foto de Harf Zimmermann, pedida emprestada aqui.

 

A Austrália atrai-me. Há uns tempos, o falecido José Megre declarou que não gostara do deserto australiano. Forçara-se a passar lá umas semanas só para poder dizer que não gostara, foi como ele pôs as coisas. Fiquei um pouco descoroçoado mas nem por isso deixei de sentir vontade de lá ir. Pela imensidão, pelos cangurus, pelos koalas, pelos kookaburras, pelo Ned Kelly (de quem, através do livro de Peter Carey, fiquei com uma imagem de um bandido não totalmente mau e um pouco trapalhão, conjugação que me é simpática) e todos os outros criminosos que fizeram o país, pelo Nick Cave, pelas raparigas ligeiramente kitsch que se tornam estrelas planetárias e conseguem deixar de ser kitsch pelo caminho (Nicole Kidman, Naomi Watts, Kylie Minogue), pela maneira de ser dos Australianos (easygoing mas com tomates; sempre me fascinaram relatos envolvendo o exército Australiano durante a Segunda Guerra Mundial), enfim, como de costume, por uma imensidão de factores objectivos, subjectivos e mistos (politicamente correcto oblige).

 
Mas, na imensidão da Austrália, ou, na realidade, perto da imensidão da Austrália, perdida a duzentos e tal quilómetros a Sul, encontra-se uma região que me fascina ainda mais que o resto do continente: a Tasmânia. Se calhar por ser tão pequena (comparativamente; sempre é a vigésima sexta maior ilha do planeta), se calhar por estar a sul do resto do país, o que torna estranho alguém ter decidido ir viver para lá dispondo de tanto terreno disponível mais a norte (mesmo que os mapas mostrem uma realidade diferente, a Austrália já parece tão a sul), se calhar pela promessa de paisagens exóticas: leio que 37% da área é ocupada por reservas naturais e que se lhe referem como “a ilha da inspiração”. Bom, talvez, mas não estou a par de muitas odes à Tasmânia na poesia mundial, nem sequer de terem passado por lá escritores, artistas plásticos ou cineastas famosos. Exactamente o que é que ela inspirou para merecer o epíteto?
 
A ilha foi descoberta em 1642 por Abel Tasman, que lhe deu o nome de Terra de Van Diemen, em homenagem ao governador holandês das Índias Ocidentais. Mais tarde, já na posse dos britânicos, serviu como colónia penal para condenados por crimes graves (foram enviados para lá mais de dez mil, a maioria durante a primeira metade do século XIX). Os U2 referem-se-lhe no tema “Van Diemen’s Land”, do álbum Rattle and Hum. Em 1856, o nome foi alterado para Tasmânia. Acho qualquer dos dois suficientemente evocativo. Um ponto negro na história da ilha (como no resto da Austrália) é o genocídio dos Aborígenes (o último aborígene "puro" terá morrido em 1876). Como é óbvio, este não é um ponto de atracção, a não ser pelo facto de provar que, mesmo partindo de um bando de condenados sem escrúpulos, se pode criar um país moderno e eticamente evoluído.
 
A ilha é (num dos casos, foi) lar de dois dos animais que povoam o meu imaginário: o tigre e o diabo da tasmânia. O primeiro encontra-se extinto há quase um século mas, por alguma esconsa razão, fascina-me desde a infância (lembro-me de ver uma imagem num livro e de ficar a pensar que devia ser um animal terrível; afinal era tigre e vivia num sítio estranho, cujo nome me soava ligeiramente ameaçador). O segundo atrai-me porque, caramba, deram-lhe o nome de diabo, que ainda é pior que tigre, é pequenote mas tem maxilares capazes de aplicar mais força que os de qualquer outro mamífero e aparecia nos desenhos animados do Bugs Bunny. Parece que nos últimos anos a população de diabos diminuiu por causa de um tumor que lhes ataca a boca; mas quando diabo (no pun intended) é que se descobre uma cura para o cancro?
 

De resto, pouco mais sei acerca do sítio. Só que se demora uma quantidade absurda de horas a lá chegar. Eu não gosto particularmente de andar de avião e, mais importante, não tenho tempo disponível. O que é capaz de ser bom. Porque assim posso pronunciar a palavra Tasmânia de vez em quando (creio que não o faço em voz alta mas os olhares de estranheza que às vezes me lançam de alguma coisa serão) e saborear quase tudo o que realmente me fascina. 

 

O verdadeiro diabo:

  

O diabo da Warner Brothers:

  

Van Diemen's Land:

  



publicado por José António Abreu às 08:43
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