Roger Federer vs. Sam Querrey, esta semana, na segunda ronda de Wimbledon.
* Mas as vitórias de Renshaw foram na década de oitenta do século dezanove, altura em que o vencedor de um ano tinha entrada automática para a final do ano seguinte; só em 1922 todos os participantes começaram a ter de passar pelo quadro geral.
Adenda (Segunda-Feira, dia 9, 8:45h)
1. Ontem fazia tenções de o referir e depois esqueci-me: este foi o torneio dos atletas com trinta anos, uma vez que Serena Williams, também com essa idade, venceu no quadro feminino.
Para a Primavera/Verão, ver cor(es) do vestido da Sharapova no Open da Austrália (finais de Janeiro).
Para o Outono/Inverno, ver cor(es) do vestido da Sharapova no Open dos Estados Unidos (finais de Agosto).
Para quem tem 1,98m (um dos comentadores da RTP fazia questão de o designar por «a torre de Tandil» a cada cinco minutos) Del Potro move-se extraordinariamente bem. Depois de um ano parado por lesão, parece estar a aproximar-se da melhor forma. Óptimo. Só espero que não calhe no quarto do quadro do Federer em Roland Garros.
Acontece invariavelmente: a final é às três da tarde mas às quatro ainda entra gente (este ano algumas pessoas devem ter visto menos de um quarto de hora de jogo). Nos camarotes, então, o panorama aquando do início do encontro é sempre desolador, com mais de dois terços por ocupar. Suponho que será de bom-tom entrar tarde. Afinal, para muita gente com lugar de camarote mais importante do que apreciar o ténis é ser visto. De tal modo que nem há pejo em fazer os jogadores esperar enquanto calmamente se distribuem apertos de mão e beijinhos a caminho dos lugares. As nossas elites são o espelho do país: preocupadas acima de tudo com as aparências, cultivam um snobismo pacóvio e não mostram qualquer respeito por regras e horários. De cada vez que entro no Court Central do Jamor e constato a enorme área dedicada a camarotes (enfim, João Lagos terá de rentabilizar o evento) tenho vontade de me tornar ainda mais marxista do que já sou. Que é como quem diz, acrescentar o culto pelo Karl ao culto pelo Groucho.
A verdade é que, VIP ou plebeu, o público justificava um estudo sociológico. Apenas um exemplo, do ano passado: atrás de mim nas bancadas, apontando para dois sacos a abarrotar, impante de orgulho, dizia um homem para a pessoa do lado: «Tudo somado, levo umas cinquenta bolas, vinte chapéus e praí trinta t-shirts!» Suponho que se pode ver a questão como existindo quem saiba rentabilizar o preço do bilhete. Em tempo de crise, é capaz de não ser mal pensado.
Caro Roger,
Sei que és um tipo inteligente, capaz de pensar pela própria cabeça. Sei que estás farto de receber conselhos de fãs, todos super hiper mega convencidos de terem a solução que te permitirá voltar a dominar o circuito mundial de ténis. Sei que provavelmente tudo o que vou escrever já te foi dito por várias pessoas ao longo dos anos, talvez até por alguns dos teus treinadores (e daí pode ser que não, porque as pessoas que estão próximas de nós e têm interesses em jogo nem sempre nos dizem toda a verdade). Seja como for, não resisto, até por saber que não falas português e que raramente alguém acede a este blogue a partir de um computador na Suiça.
Comecemos por um facto que podes achar desagradável mas que para muita gente, eu incluído, não o seria assim tanto: tens quase trinta anos. Fisicamente, pareces bem: continuas ágil, veloz, resistente. Mas tens quase trinta anos, mais meia dúzia do que o Rafa ou do que o Nole. É por isso natural que estejas a chegar às bolas difíceis umas centésimas de segundo mais tarde do que era costume. Muitas vezes, tu nem te apercebes. Nós, no court e na televisão, também não. Mas se calhar estás mesmo. E repara que, enquanto há quatro ou cinco anos te encontravas no pico da forma, o Rafa e o Nole ainda estavam a melhorar. O Juan Martin, então, devia andar de calções a brincar nas ruas de Tandil, na Argentina. Eles tornaram-se fisicamente mais fortes; tu, quando muito, mantiveste a forma. Quando te vejo dar madeiradas, disparar a bola contra o topo da rede ou fazê-la cair uns centímetros do lado errado das linhas, não consigo deixar de pensar que as tuas intenções continuam boas mas o teu corpo está um tudo-nada atrasado.
Sejamos honestos: há pouco que possas fazer quanto a isto. Nem todo o teu dinheiro te vai permitir rejuvenescer. Mas há pelo menos uma coisa que podias tentar: Roger, pá, muda de raquete. Eu sei que gostas da tua Wilson Six.One Tour – é a tua imagem de marca, um modelo clássico, com a sua frame estreita e angulosa e a sua cabeça de noventa polegadas quadradas, que evoca campeões de outras eras e que é, sem dúvida, uma excelente raquete. Mas o Rafa usa uma raquete de cem polegadas quadradas. O Nole usa uma raquete de noventa e cinco polegadas quadradas. O Juan Martin usa uma raquete de noventa e seis polegadas quadradas. Toda a gente usa raquetes maiores do que a tua. Eu sei, eu sei, não é do tamanho, é da forma como se usa. Tu dizes que estás habituado. Que tens mais controlo assim. Talvez seja verdade mas isso de pouco te vale se chegas atrasado (bastam fracções de segundo, Roger) e não consegues acertar na bola com o centro da encordoação. Antes de qualquer outro factor, o controlo parte desta premissa básica, Roger: é preciso acertar bem na bola. Repara como o número dos teus erros parece ter vindo a aumentar nos últimos anos (não, não tenho estatísticas mas podes sempre colocar alguém munido de esferográfica e bloco-notas a rever gravações de encontros durante uns dias e logo tiras as dúvidas). Falhas por pouco, por muito pouco – mas falhas. Uma raquete maior – uma Wilson Six.One 95, não precisas de mudar de marca, como é óbvio – talvez te permitisse manter mais bolas em jogo. Fazer mais winners. Ganhar confiança.
E isto traz-nos ao assunto mais delicado. Confiança. Tu dizes que não tens problemas psicológicos em enfrentar o Rafa. Está bem, Roger. Mas deixa-me contar-te o que vi há menos de duas semanas, na meia-final do torneio de Miami. Entraste cheio de garra e ele também. As primeiras trocas de bola deixaram-me a sorrir. Vamos ter fogo-de-artifício, pensei. Mas depois falhaste um par de vezes e a partir daí ele fez o que quis de ti. Tu sabias o que tinhas de fazer, tentaste fazê-lo – mas nada te saiu bem. Roger: quando defrontas o Rafa, ou as coisas te saem bem desde o início ou és assaltado por dúvidas. É verdade que com outros adversários também gostas de entrar a fundo, deixando imediatamente clara a tua superioridade. Mas com os outros, mesmo quando as coisas começam por te correr mal, consegues quase sempre dar a volta à situação. Com o Rafa, não. Porque, lá no fundo, sentes que não és melhor do que ele (mas és, Roger). E então perdes a concentração. Entras em parafuso. (É uma expressão portuguesa; pergunta aí a um dos teus empregados domésticos o que significa*). E ele sabe-o. Massacra-te a esquerda com aquele top spin absurdo, empurra-te para trás e faz-te falhar porque a certa altura tu percebes que tens de atacar ou perdes o ponto mas não estás em posição de disparar um winner, ainda por cima quando do outro lado está um filho da mãe tão rápido quanto o Nadal. Eu não sou psicólogo, Roger, e até desconfio deles, pelo que não me vou pôr a dar-te conselhos sobre o que deves ou não fazer para ultrapassares este problemita (na minha simplicidade, eu tiraria para aí três meses de férias num paraíso qualquer). Mas talvez também aqui uma raquete com uma cabeça maior pudesse ajudar. Permitir-te-ia reduzir as chances de, quando forçado a atacar em posição difícil, dares uma madeirada ou colocares a bola do lado errado das linhas apenas o suficiente para me fazeres entrar em parafuso a mim.
E é só isto, Roger. Por favor, acredita nas minhas intenções. Acredita no que te diz alguém que quer continuar a ver-te nos courts e a ganhar torneios ainda durante vários anos e que, embora possas pensar o contrário, sabe do que fala. É verdade que nunca joguei muito e que já não jogo há anos. Mas com uma raquete de 85, 90, 95, 100 ou 110 polegadas quadradas, Roger, poucas pessoas eram tão boas a dar madeiradas como eu.
Um abraço do teu fã,
jaa
P.S.: Tirei a foto lá de cima no Estoril Open de 2008, Roger. Eu era o tipo com o boné verde três lugares ao lado da exuberante senhora suiça.
* Ah, espera, esta semana estás em Monte Carlo, não é? Pergunta ao teu valet de chambre no hotel. Se ele não souber, há-de arranjar alguém que lhe explique.
A noite da Segunda-Feira após a conclusão de um torneio do Grande Slam é sempre estranha. Fica um vazio no sítio onde durante duas semanas estiveram aquelas longas horas assistindo, refastelado no sofá, comando na mão para saltar as mudanças de lado, a encontros gravados no disco rígido da caixa da Clix. O próprio dia é diferente porque já ninguém faz questão de ameaçar dizer-me os resultados e posso voltar a frequentar sites noticiosos na Internet (há então problemas no Egipto, é?). Quedo-me sem saber o que fazer. Hmm, talvez possa voltar a escrever posts compridos. Ou... que coisas estranhas são estas? «Livros»?
P.S.: Uma nota de agradecimento à SportTV que, apesar de ter três outros canais a transmitir futebol, decidiu interromper a transmissão do encontro (retomando-a já com ele terminado) para apresentar a conferência de imprensa de Carlos Queirós. Enfim: todos sabemos como os treinadores de futebol têm sempre coisas importantes e originais a dizer antes dos encontros. É por estas e por outras que me recuso a ser assinante regular.
Compre um bilhete para o penúltimo dia do Estoril Open, esperando ver as duas meias finais masculinas e a final feminina. Chegue ao Jamor pouco depois do meio dia sob chuva persistente. Constate que nenhum encontro se iniciou e aguarde um par de horas. Não havendo alterações nas condições climatéricas, vá deixar a mala no hotel onde pernoitará e, cerca das quatro das tarde, sempre debaixo de chuva, opte por almoçar. Às cinco e qualquer coisa aperceba-se de que a chuva parou e encaminhe-se novamente para o Jamor. Fique bloqueado no trânsito da Segunda Circular, junto ao Estádio de... da... junto ao Colombo. Fuja logo que possa e siga em direcção a Alcântara. Chegue ao Jamor por volta das seis e corra até ao Court Central. Constate que Federer perdeu o primeiro set e encontra-se já a meio do segundo. Veja-o perder em cerca de meia hora. Junte-se à multidão que sai do Central em direcção ao Centralito, onde Frederico Gil disputa a outra meia final. Renda-se à evidência de que nem o irmão mais magro da Kate Moss, nu e untado em manteiga da cabeça aos pés, conseguiria entrar no court. Aperceba-se de que a final feminina também está a decorrer, num Court 1 com meia dúzia de gatos pingados (não literalmente, porque, relembre-se, parou de chover) a assistir. Sente-se e aprecie dois minutos de ténis, que é mais ou menos o tempo que demoram os cinco pontos que compõem o último jogo do encontro. Bata palmas à vencedora e à vencida e, verificando que continua a ser impossível entrar no Centralito, vá-se embora outra vez, dando o dia tenístico por concluído. Reze para que no Domingo (se também tiver bilhete para esse dia) consiga melhor rendimento dos 60 euros que lhe custou o ingresso.
(De momento não chove, mas...)
(Go, Gil.)
Gosto de ténis, gosto de ver meninas a praticar desporto, e não me importo nada que elas usem vestuário provocante (ah, o voleibol de praia). Todavia, o vestido que Venus Williams está a usar esta semana no torneio de Miami causa-me problemas. Eu simpatizo com Venus, de tal forma que até possuo este livro (fotos + ténis + mulher esbelta + preço simpático na Amazon = como resistir?), e já estou avisado de que este ano ela resolveu ser provocante. Mas o vestido vermelho de Miami, mais até do que a roupa interior de Melbourne, dificulta o meu seguimento dos encontros. Põe-me a pensar em cabarets parisienses de finais do século XIX e em bordéis do Velho Oeste. Faz-me recear que ela comece a dançar can-can, executando simultaneamente malabarismo com as bolas. Leva-me a murmurar que devia estar a usá-lo com botins (daqueles com atacadores) e não com sapatilhas, comportamento muitíssimo perturbador porque – basta olhar para mim para o constatar – eu nunca perco tempo a ponderar o que fica bem com quê. Maldoso, cheguei a ter vontade de que ela fosse eliminada para eu me poder concentrar nas jogadas mas, indiferente aos problemas que me causa (o egoísmo das estrelas), Venus foi ganhando sempre e conseguiu atingir a final (daqui a minutos, no Eurosport, frente a Kim Clijsters). De forma que, mesmo contrariado (pensam que gosto de pensar em bordéis e em vestidos de can-can quando podia estar a reflectir no que escrever sobre o PEC ou o caso dos submarinos?), lá me vou forçar outra vez a observá-la.
(Mas torço por Clijsters e não tem nada a ver com o vestido.)
(Foto retirada daqui.)
Ontem, um dia depois de eu ter publicado isto, Elena Dementieva foi afastada do open do Estados Unidos por uma adolescente norte-americana chamada Melanie Oudin. Pelo menos não parecem existir indícios de intervenção do PS no assunto.
Por alguma razão que a minha memória não registou, 2004 foi um ano em que voltei a prestar atenção a uma data de coisas. Já aqui dei conta do renascimento do meu interesse pela fotografia. Mas 2004 foi também o ano em que voltei a acompanhar com regularidade o que se passa no mundo do ténis.
No início de Setembro desse ano achei-me por acaso a assistir a uma meia-final do open dos Estados Unidos entre a russa Elena Dementieva e a americana Jennifer Capriati. O estilo de jogo de Dementieva manteve-me fascinado a olhar para o ecrã. Não por ser leve e cirúrgico como o de Roger Federer, ou potente e agressivo como o de Serena Williams, ou equilibrado e imaginativo como (era) o de Martina Hingins. O de Dementieva não tinha nada disso. Deixem-me descrever rapidamente a maioria dos pontos nessa meia-final. Comecemos com Dementieva a servir: primeiro serviço fraco contra a rede ou meio metro fora do quadrado de serviço; segundo serviço fraquíssimo que, quando acertava no quadrado de serviço (Dementieva foi durante anos a «rainha das duplas faltas»), levava a bola a bater (devagar) no court e a saltar (pouco) para o lado, num efeito que deixava Capriati incrédula e desamparada; se respondia em dificuldade (por ter de lançar-se para diante para conseguir responder), Dementieva tomava conta do ponto e massacrava-a; se, apesar de tudo, Capriati conseguia uma resposta forte, Dementieva passava o tempo a correr de um lado ao outro do court, devolvendo todas as bolas até Capriati se irritar e cometer um erro. Agora os pontos em que Dementieva respondia ao serviço: boa resposta (claramente, uma das melhores pancadas da russa); se Capriati ficava desequilibrada, Dementieva massacrava-a; se Capriati, não obstante a qualidade da resposta, conseguia pegar no ponto (o que sucedia na maioria das vezes), Dementieva passava o tempo a correr de um lado ao outro do court, devolvendo todas as bolas até Capriati se irritar e cometer um erro. Dementieva venceu o encontro no tie break do terceiro set e raras vezes vi uma jogadora tão – ia escrever «irritada» mas é mais «descoroçoada» – como Capriati após perder essa meia-final. Dementieva avançou para a final e, como já sucedera na de Roland Garros desse mesmo ano (que não vi), jogou de forma tão nervosa e insegura que foi trucidada pela adversária, uma compatriota a sair da adolescência, tímida e de aparelho nos dentes, chamada Svetlana Kuznetsova (em Roland Garros fora-o por Anastasia Myskina, uma compatriota mais ou menos da mesma idade que ela, esbelta e irascível).
Essa meia-final tornou-me um fã de Elena Dementieva. O jogo dela era tão incongruente e tinha tantos pontos fracos que era praticamente um milagre ela conseguir manter-se entre as melhores tenistas do mundo. Mas conseguia. Raramente ganhava às cinco ou seis melhores do ranking mas – e esse é o ponto que mais admiração me provoca ainda hoje – nunca desistia. Lutava sempre até ao fim, gritando (dizem que ocasionalmente expressões russas que não convém traduzir) ou sorrindo de desespero quando as coisas lhe corriam mal, falando com a mãe sentada nas bancadas (tentando mostrar-se impassível mas sempre tão claramente em pânico), pedindo uma bola e batendo-a para o lado oposto do court após uma pancada sem nexo (como se assim pudesse corrigir o erro e fazer com que tudo ficasse bem outra vez), seguindo a bola com o indicador esquerdo espetado no ar na preparação dos smashes (raros, porque ela não subia à rede com frequência), limpando o suor da testa com o indicador direito e correndo quilómetros e quilómetros de um lado ao outro do court em cada encontro. Em Novembro de 2006 fui vê-la a Madrid, aos WTA Championships (campeonato de final de época onde competem as oito melhores do ano e a que ela acedera com dificuldade). Como seria de esperar, perdeu os três encontros da fase de grupos. Em 2007 esteve algum tempo fora do circuito por causa de uma lesão (fractura de esforço em nada menos que três costelas ao mesmo tempo) e em 2008, depois de anos a ser avisada de que devia arranjar um treinador que lhe melhorasse o serviço (de longe, o seu ponto mais fraco), lá se decidiu a fazer alguma coisa a esse respeito. Hoje ainda não tem um grande serviço, ainda treme como varas verdes quando tem que servir para fechar um encontro, mas parece finalmente perto do seu verdadeiro potencial. Há cerca de um ano, para surpresa de muitos, ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Este ano perdeu nas meias finais do open da Austrália num encontro equilibrado com Kuznetsova (outra vez ela) e nas meias finais de Wimbledon num encontro extraordinário em que dispôs de match points frente a Serena Williams (que ganharia o torneio) mas que acabou por perder por oito a seis no terceiro set. Perto. Muito perto. Mas, como dizia a personagem interpretada por Rene Russo (o que é feito dela?) no Arma Mortífera 2 (fica sempre bem citar grandes obras literárias ou cinematográficas), «perto é uma loja de lingerie sem montra».
O primeiro encontro de Dementieva no open dos Estados Unidos deste ano aconteceu ontem. Ganhou facilmente. Continuo a ver nela uma determinação nova. Como se tivesse decidido ocupar finalmente o lugar que lhe estava reservado há muito entre as favoritas. Não sei se essa determinação vai resistir aos momentos em que tiver de servir para fechar encontros contra uma das irmãs Williams, contra Safina, contra Jankovic ou contra várias outras. Para ser franco, não estou à espera de que vença o torneio. Mas seria bonito. Acima de tudo, seria uma lição de força de vontade e perseverança. E as histórias baseadas em força de vontade e perseverança são tão mais luminosas quando têm um final feliz.
(A foto foi tirada em 2006, nos WTA Championships.)
A minha jogadora de ténis preferida, por razões que talvez eu um dia explique, é Elena Dementieva. Mas estou a ver o encontro de Svetlana Kuznetsova com a regressada Kim Clijsters e não consigo deixar de lembrar que foi Clijsters quem mais gostei de ver jogar nos WTA Championships de 2006, em Madrid (a foto foi tirada lá). Perdeu numa excelente meia-final em três sets com Amélie Mauresmo mas foi um prazer ver-lhe a garra, a concentração, a vontade de não desperdiçar tempo (é das jogadoras que menos demora entre serviços). Lembro-me que, na fase de grupos, venceu em cerca de 45 minutos um encontro com a mesma Kuznetsova que defronta hoje. (Após o qual estive prestes a apanhar a bola autografada que bateu na direcção dos belgas que estavam junto a mim, mas faltou-me um bocadinho assim – ainda me raspou nos dedos – e o ressalto não me favoreceu). Retirou-se meses depois, casou, foi mãe há um ano e pouco e decidiu agora regressar (como eu já referira aqui), não se sabe se para ficar muito, se pouco tempo (tem apenas 26 anos).
O encontro está no terceiro set, depois de Clijsters ganhar o primeiro e Kuznetsova o segundo. Nunca seria fácil, claro. Kuznetsova venceu Roland Garros este ano e está numa das melhores formas de sempre. Clijsters está a jogar o primeiro torneio após decidir regressar. Mas a combatividade continua lá e a forma física também (parece mesmo ter emagrecido). E, agora que é mamã, até se sente à vontade para dizer a um par de miúdos nas bancadas "be seated, ok? Thank you" naquele tom que qualquer criança sabe significar "eu estou bem disposta mas daqui a pouco as coisas mudam e vocês ficam sem televisão, computador e consola de jogos até amanhã".
Triplo match point. Ganhou. É um prazer tê-la de volta.
(Naturalmente, os miúdos sentaram-se.)
A Sport TV 2 está a transmitir o quarto de final do torneio de Wimbledon entre Elena Dementieva e Francesca Schiavone. O comentador trata a italiana por "Chávióne". No Eurosport há um que não consegue dizer "Kuznetsova". Irritam-me pessoas que passam por especialistas em determinados desportos, são pagas para fazer comentários na TV e nem sequer se dão ao trabalho de aprender a pronunciar o nome dos atletas. Um bom comentador (também os há e, tirando o referido atrás, os do Eurosport nem são maus) tem que transmitir confiança ao espectador. Este deve sentir estar realmente a ouvir um especialista. Deve sentir que pode acreditar no que ele vai dizendo.
Também não entendo como canais de televisão mantêm gente assim. Ainda por cima, canais pagos que se consideram premium. Ou se calhar até entendo. As amizades (para não lhes chamar cunhas), a tendência para a manutenção do status quo, a pouca importância que por cá se dá à competência... enfim, as razões de muitas outras situações similares. Ou não encontrámos já todos pretensos especialistas nos temas mais diversos que, raspando um pouco, se percebia não os dominarem?
Enfim, basta de diatribe. E dêem-me licença. Tenho que enviar um mail para a Sport TV.
Michelle perdeu há pouco na segunda ronda de Wimbledon com Francesca Schiavone em dois tie-breaks. A qualidade do seu jogo flutuou ao longo do encontro mas a garra esteve sempre lá. Após o primeiro encontro, o americano Steve Tignor escreveu um artigo interessante sobre ela e sobre outra jovem promessa, a britânica Laura Robson, no site Tennis.com. Excerto final, com Tignor à conversa com Nick Bolletieri, o dono da Academia responsável pela formação de Michelle e de várias jogadoras de topo nas últimas décadas, como Monica Seles e Maria Sharapova:
"So I guess you're high on de Brito?" I asked.
Neuza Silva enfrenta Serena Williams esta tarde na primeira ronda de Wimbledon. O Público dá a informação mas achei os comentários mais interessantes. Um par de exemplos:
O jogo da gaija eh que horas? As 2? Vou assistir na brinca, para ver a surra que a gaija vai levar. Se calhar nem consegue rebater qualquer bola! Bom ja sei eh que as 2 e meia tenho que ligar para a mina, para preencher a agenda...
Duplo 6-0 nas lonas. Toca a voltar pra casa. Espero que ja tenhas o voo e o taxi marcado para 30 minutos apos o inicio do jogo, ja que nao demorara muito mais...
Há a já habitual questão do português, massacrado com assumido deleite, mas há também a não menos frequente posição de menosprezar quem, à partida, tem reduzidas chances de ganhar. Por cá, ou se está no topo ou se é merecedor do mais duro e soez desprezo. É evidente que as hipóteses de Neuza são poucas (ainda assim, as probabilidades de vencer ou, pelo menos, de dar luta a Serena são maiores numa primeira ronda que numa fase mais adiantada do torneio) mas a rapariga irá fazer o que lhe compete (do verbo "competir"): lutar. Eu, que apenas a vi ao vivo uma vez, sei que o fará. Neuza tem garra e dará toda a luta que puder. Provavelmente não chegará para vencer, talvez até não chegue para um resultado equilibrado, mas, ainda assim, merece respeito e incentivo. O respeito e o incentivo que, aparentemente, muitos portugueses só concedem a mega-estrelas como Ronaldo. Isto diz imenso sobre a nossa falta de auto-estima. Bajular quem já está no topo (e reconheça-se o mérito dos que o atingem porque nenhum português lá chega sem antes ouvir uma montanha de críticas dos seus compatriotas) é demasiado fácil. E atacar quem dá o melhor de si, extremamente mesquinho...
Estoril Open 2008
Teria sido interessante vê-lo defrontar Nadal. Creio que poderia ter ganho. Mas, nunca fiando (os tais factores psicológicos...), foi melhor assim. Porque esta vitória é uma coroação merecida e é também fundamental para garantir grandes espectáculos nos próximos tempos.
(Como de costume, a foto é do Estoril Open do ano passado.)
Michelle Brito foi eliminada na terceira ronda de Roland Garros. O encontro foi interessante. Michelle é muito nova. É também imatura mas tem garra. Como outros "produtos" da academia Bolletieri tem um jogo pouco imaginativo: pancadas de chapa, tão fortes quanto possível, direccionadas às linhas. Como Sharapova (a mais famosa aluna da academia) guincha imenso ao bater na bola. E isto foi um problema em Paris. Diga-se já que as queixas da adversária de hoje, Aravane Rezai, a jogar em casa, pareceram mais um estratagema pré-preparado, aproveitando alguma polémica anterior, que verdadeiro incómodo. Ou melhor: se havia incómodo, este era por estar a sentir tantas dificuldades durante o primeiro set. Tanto assim que, no segundo, mais à vontade, os berros de Michelle já não pareceram incomodá-la. Na edição de Wimbledon de (creio) 2007, Elena Dementieva foi eliminada por Maria Sharapova. Após o encontro perguntaram-lhe se os gritos de Sharapova não a haviam incomodado. Dementieva respondeu que, de facto, às vezes eram algo exagerados mas que não diria nada quando estava a perder (porque não eram os gritos que faziam com que estivesse a perder e porque daria a ideia de não conseguir encaixar a superioridade da adversária). Alguém devia ler as declarações de Dementieva a Rezai. Por outro lado, teria Rezai protestado tanto se do outro lado da rede tivesse Sharapova ou Serena Williams? Claro que não. O facto de Michelle ser nova, ainda mal conhecida, e ter talvez uma atitude pouco humilde (dependendo do ponto de vista, como na Sharapova de 2004, também se pode apelidar de garra), facilitaram-lhe a vida. O público no estádio e alguns comentadores (na TV e na net) parecem não ter gostado do cumprimento frio que Michelle deu a Rezai no final do encontro. Se apreciam actos hipócritas, critiquem à vontade. Mas depois do que Rezai fez ao longo do primeiro set, seria pura hipocrisia estender-lhe a mão com um sorriso.
Mais importante é o futuro. Michelle não tem um tipo de jogo que eu aprecie. Precisa de crescer (física e mentalmente). Mas vai entrar no Top 100 aos dezasseis anos (feitos em Janeiro). Chegou à terceira ronda de Roland Garros com um estilo de jogo que parece mais adequado a pisos rápidos. Tem garra. Não vale a pena embandeirar já em arco (como tantas vezes se faz em Portugal) mas é o tenista (masculino ou feminino) com maiores probabilidades de vir a atingir os lugares de topo nos rankings do ténis. Dê-se-lhe tempo. E se não vier a conseguir tanto quanto se espera, evitem-se as crucificações e os "eu sempre disse que ela era um bluff". Ao contrário de muitos de nós, a miúda tenta.
(As fotos são do Estoril Open do ano passado.)
Decorre a final do Estoril Open em ténis. Como de costume, imenso público chega atrasado - tanto público anónimo das bancadas como as putativas elites dos camarotes. Há uns tempos uma banda de pop/rock (já não me lembro qual) foi criticada por começar o concerto à hora marcada. Muitas pessoas ficam irritadas quando se aponta o seu atraso, como se, ao fazê-lo, se estivesse a ser mesquinho... Pode não parecer mas isto tem relação com o post anterior.
Em semana de Estoril Open, um Federer diferente.
A foto é do ano passado. Este ano acompanho à distância.
Há muitíssimo mais homens que mulheres a ver desporto. Por isso, são os homens que definem as audiências. Os portugueses, como muitos europeus, são loucos por futebol. Mas só quando são gajos a correr atrás da bola. Ninguém liga ao futebol feminino. O basquete, o andebol, o vólei, o hóquei e todas as restantes modalidades ditas amadoras recebem pouca atenção – mas pior se forem mulheres a jogar. Nem sei se algumas destas modalidades têm campeonatos femininos. A avaliar pela inexistência de notícias nas televisões, provavelmente não. Pelos vistos não há público interessado em ver raparigas fazendo afundanços ou deslizando sobre patins com tacos na mão. No automobilismo e noutros desportos em que a competição é mista entende-se que, por razões de força física, não apareçam muitas mulheres (mas há Danica Patrick) e torna-se difícil saber se os homens continuariam a assistir a corridas de Fórmula 1 se o pelotão tivesse mais mulheres que homens. Os desportos tipicamente americanos são domínio masculino mais uma vez. (Devo confessar que imaginar as mulheres que praticariam futebol americano me assusta). No ténis, na natação, no atletismo e nos desportos de Inverno a situação é mais equilibrada. Mesmo assim, as mulheres tendem a atrair menos espectadores.
pessoais
Amor e Morte em Pequenas Doses
blogues
O MacGuffin (Contra a Corrente)
blogues sobre livros
blogues sobre fotografia
blogues sobre música
blogues de repórteres
leituras
cinema
fotografia
música
jogos de vídeo
automóveis
desporto
gadgets