como sobreviver submerso.
Sexta-feira, 26 de Outubro de 2012
Da minha falta de produtividade ao terceiro homem, passando pelos buracos do queijo suíço
Adaptando mais uma frase imortal (para além de certíssima e to the point) do Ministro Vítor Gaspar, vem existindo um enorme desvio entre o número de posts que eu gostaria de produzir e o número que os meus dedos efectivamente alinhavam. Os motivos são fáceis de explicar: como as coisas andam, temo só conseguir repetir-me e, talvez mais importante, já nada me surpreende ou incomoda. Aliás, para ser sincero, nos últimos meses apenas as surpresas alheias mantinham capacidade para me surpreender. Agora nem isso. Um exemplo: anteontem ouvi o presidente da União das Misericórdias afirmar que encontrou um português trabalhando num café da Suíça que lhe disse ganhar mais do que o Presidente Cavaco Silva (certamente merece-o), concluindo daí que é preciso confrontar os responsáveis europeus sobre aquilo que a Troika está a impôr a Portugal, e já nem revirei os olhos. Não parece passar pela cabeça de tão insigne personagem, atarefado a ajudar os pobrezinhos, metido num fato de corte impecável, sentado num carro alemão de muitas dezenas de milhares de euros, auferindo provavelmente também ele um salário mais elevado do que o do Presidente da República (quiçá do que o do empregado do café; a propósito: estaria na Suíça em serviço?), como, de resto, não passa pela cabeça de tantos outros, entre os quais muitos ex-governantes cá do burgo, que os países onde um empregado de café ganha milhares de euros por mês fizeram por atingir esse nível de vida no passado e fazem hoje por mantê-lo. Não deve ser preciso explicar por que é tanto dinheiro entra na Suíça mas, para se perceber a diferença, talvez seja conveniente avançar meia dúzia de razões. Desde logo, estabilidade e cumprimento de regras. Depois (inspirar fundo): equipamento industrial, medicamentos, relógios, chocolates, bolachas, cereais de pequeno-almoço, queijos, canivetes, serviços financeiros, turismo; tudo áreas onde, por mérito próprio, os suíços são expoentes de qualidade e prestígio, não precisando de concorrer apenas com base no factor preço. É isto que lhes permite terem o nível de vida que têm; que lhes permite auferirem os tais salários e disporem de auto-estradas baratas e de mais túneis do que... enfim, do que um queijo suíço. Nós não temos economia para tal e nunca estivemos perto de a construir. Só achámos (pelos vistos, ainda achamos) ter direito aos benefícios que lhe estão associados. Uma espécie de direito divino ao que outros conquistaram através do trabalho e da competência. Com esta mentalidade, pode alguém levar-nos a sério? E, honestamente, ainda valerá a pena clamar contra isto? Não mudámos ao longo de séculos, também não vai ser agora. Vou mas é dar descanso aos dedos.
P.S.: Claro que, como dizia Harry Lime n'O Terceiro Homem (numa adenda de Orson Welles ao argumento original de Graham Greene), em Itália, durante três décadas sob os Bórgia, houve morte e terror mas surgiram Michelangelo, Leonardo Da Vinci e o Renascimento; na Suíça, em quinhentos anos de paz e democracia, chegou-se ao relógio de cuco. Se as coisas continuarem a piorar (Otelo, talvez a revolução não seja afinal má ideia), podemos sempre manter esperanças de que, no futuro, esta seja vista como uma das mais brilhantes épocas da arte portuguesa. Mas atenção: também neste campo a concorrência é feroz e, com a octogenária D. Cecilia, Espanha já nos leva avanço.
Terça-feira, 28 de Junho de 2011
Notas de viagem. 1/5: Zermatt
Preâmbulo
Estou de volta (estejam à vontade para festejar porque, por muito que goste de vocês – especialmente de ti; sim, tu, com o Toshiba cor-de-rosa –, não serei eu a fazê-lo). Tendo rabiscado umas quantas notas que não cheguei a publicar, vou desfazer-me delas durante os próximos dias. Depois talvez comece a prestar atenção ao novo governo. Ou não: estados de graça não combinam comigo.
Não me perguntem porquê mas o
Matterhorn fascina-me. Há um ano passei uma semana e tal na Suíça mas não tive oportunidade de chegar tão a Sul. Por isso este ano conduzi de Milão até Zermatt, passando pelo lago Como, pelo Ticino e pelo vale de Domodossola, em grande medida para o ver. A minha opinião sobre a Suíça continua a ser extremamente positiva e não, o Federer nada tem a ver com o assunto – ou talvez apenas um pouco mas não mais do que o chocolate. A circunstância de ter nascido junto ao sopé da Serra da Estrela poderá ser mais relevante (acredito que há uma espécie de genética do local de nascença) mas, acima de tudo, gosto na Suíça da mistura de natureza agreste com civilização. E do facto de as temperaturas raramente atingirem valores excessivos (o meu cérebro
entra em default quando os termómetros sobem dos vinte e cinco graus). Claro que em férias também não convém que esteja muito frio nem que chova nem que a paisagem se encontre por trás de um manto de neblina. Felizmente, apanhei um tempo espectacular. Tão espectacular que apenas o topo do Matterhorn se manteve permanentemente encoberto. Juro que aprecio a ironia. Seja como for, o resto mais do que justificou a deslocação. E sempre posso fazer novo desvio para o ver quando for, sei lá, à Sicília.
Em Zermatt não circulam veículos com motor de combustão interna. Os automóveis têm de ser deixados em Täsch, a cerca de cinco quilómetros e meio. A partir daí, usa-se o comboio. Os hotéis de Zermatt enviam pequenos veículos eléctricos à estação recolher hóspedes e bagagem. São veículos curiosos, paralelepípedos toscos com rodas. O condutor do veículo do hotel Mirabeau (o buffet de pequeno-almoço tem pães e bolos sublimes) usa uma plaquinha com o nome “Jorge”. É português. Explica que se encontra em Zermatt há cerca de quatro anos e que está longe de ser o único português ali. Ouviu dizer – não sabe se é verdade – que são perto de três mil ou quarenta por cento da população. Sei que há muitos portugueses na Suíça mas ainda assim fico surpreendido. Rapidamente constato que os números de Jorge não devem andar longe da realidade. No hotel, um Avelino leva a bagagem até ao quarto. Mal regressado à rua, cruzo-me com um homem vestindo uma camisola do Futebol Clube do Porto. Grupos passam a falar em português. Crianças com trotinetes gritam em português. No dia seguinte, a funcionária de uma loja, rapariga louríssima, explica em português que, não sendo portuguesa, como tem amigas que o são já consegue falar a língua. Digo-lhe que a fala muito bem (é verdade). Torna-se simultaneamente gratificante e desconfortável estar rodeado de tantos portugueses. Gratificante porque, apesar de me encontrar no coração dos Alpes, é como se não se estivesse verdadeiramente num lugar estranho. Desconfortável porque sinto ter usurpado um poder que não condiz comigo: tão português como os restantes, por que diabo gozo do privilégio de ser turista? Mas ei – isto sou eu. Felizmente muitas pessoas não têm pruridos deste género (desconfio que algumas até gostarão de poder sentir-se superiores) e, de qualquer modo, questões existenciais não devem dissuadir quem quer que seja de ir até Zermatt ou qualquer outro ponto da Suíça. Aliás, vai-se a ver e é por serem confeccionados por portugueses que os pães e os bolos são tão bons.
Domingo, 19 de Junho de 2011
O sorriso do são bernardo
Em Gronergrat, no Sul da Suíça, a 3089 metros de altitude, recordo-me de como, em Milão, na Pinoteca Ambrosiana, um quadro de um velho e um cão me chamara a atenção. Apropriadamente, chamava-se (bom, chama-se, que ainda lá deve estar)
Vecchio com cane. Trata-se de um pequeno óleo sobre tela de 45 por 54 centímetros, pintado por Domenico Induno (1815-1870), alguém que permanece quase desconhecido para mim, visto nem a informação na Pinoteca nem a internet terem sido de grande utilidade. Há na Ambrosiana obras de gente muito mais famosa, como Botticelli, Raffaello, Tiziano, Caravaggio, Da Vinci ou Jan Brueghel, o Velho, defronte das quais se é forçado a parar quase religiosamente, nem que seja para depois se poder dizer tê-las visto. Ainda assim, se apreciei muitas das obras destes mestres (
La Madonna del Padiglione, de Boticelli ou umas fantásticas
Allegoria dell'acqua e
Allegoria del fuoco, de Jan Brueghel, por exemplo) não deixei de ficar durante um par de minutos em frente à pequena tela de Induno. É uma situação simples, sem grande carga alegórica, mas qualquer coisa me fez parar. Lembrei-me, meio a despropósito, de um conto de Tchékhov em que um velho se tenta livrar de um cão e de um cavalo por (como ele, no fundo), estarem velhos e só lhe darem despesa. Mas o conto de Tchékhov tem um final triste e nada neste quadro indica que o homem planeia desfazer-se do cão. Parece haver cumplicidade entre ambos: o homem olha o cão com ar de bonomia enquanto este come, decidido mas sem urgência. É como se o velho tivesse acabado de chegar a casa (a forma como está vestido sugere-o) e tivesse ido imediatamente alimentar o cão. Como se vê-lo comer fosse a coisa que mais prazer lhe dá. Claro que não lhe deve ser fácil alimentá-lo – o velho tem aparência de pobre e o cão, um são bernardo, é enorme, deve comer bastante. Ao escolher um cão tão grande e ao pintar cão e velho nesta pose e não noutra, Induno só podia estar a tentar dizer-nos algo sobre as dificuldades e a força da relação entre ambos.
Lembro-me do quadro e deste confuso processo mental na Suíça, a 3089 metros de altitude, porque na pequena estação onde o comboio de cremalheira larga os turistas há um fotógrafo que tenta convencer as pessoas a posarem junto a um par de são bernardos. Os cães, com o barrilzinho típico (como o do quadro, afinal) são belíssimos e têm um ar pachorrento. Apetece fazer-lhes festas. Mas de repente um desata a correr e abocanha uma mochila pousada no chão. Sacode-a energicamente de um lado para o outro. Um rapaz – o dono da mochila – solta um grito, corre para o cão, agarra-lhe a trela e puxa. O são bernardo pára de sacudir a mochila, roda a cabeça, olha para o rapaz e sorri (eu sei, eu sei, mas «sorrir» é de longe o termo que melhor descreve a expressão do animal). Sorri como se comprovasse mais uma vez como os humanos são tontos. Depois volta a dedicar a atenção à mochila, tentando enfiar o focinho lá dentro, enquanto o rapaz puxa com mais força. É apenas quando o fotógrafo acorre que o são bernardo percebe não ir conseguir chegar à sanduíche ou ao que quer que seja de apetitoso que o rapaz transporta dentro da mochila (relembre-se que uma das características da raça é um olfacto apuradíssimo, que lhes permitia cheirar pessoas enterradas na neve) e desiste. Sim, penso então, lembrando-me do quadro da Pinoteca, por bem alimentado que pareça estar, um são bernardo tem de ser um cão de muito alimento. Mas é também um cão de boa índole. Perdida a sanduíche, aquele reassume sem protestos o seu papel de apoio à criação de recordações turísticas.
Horas depois, regressando a Itália, conduzo em direcção ao Col du Grand-Saint-Bernard e pondero seguir pela histórica passagem, subir ao local do mosteiro onde os monges criaram a raça há cerca de trezentos anos. Mas é tarde, ameaça escurecer. Opto pelo túnel de quase seis quilómetros inaugurado em 1964. Enquanto o percorro, e por muito ilógico que seja, não consigo evitar a sensação de que, ao evitar o esforço, estou de alguma forma a trair os simpáticos mastodontes helvéticos. A ser um bocadinho o velho do Tchékhov.
Sábado, 15 de Janeiro de 2011
Paisagens bucólicas: 22
Depois do post anterior, creio que se justifica uma imagem tirada através da janela do tal comboio de cremalheira umas centenas de metros antes de chegar à estação de Wengen.
Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2011
Lauberhornrennen (que é como quem diz «a corrida na Lauberhorn»)
Fiquei na dúvida se as duas senhoras de sessenta e muitos anos que, numa manhã fresca mas agradável de finais de Maio do ano passado, passeavam com um cão (ou passeavam o cão?) pelas ruas de Wengen, na Suiça, eram inglesas (pelas feições e sotaque, pareciam) e também se eram lésbicas (esses pormenores tendem a passar-me ao lado mas houve quem achasse que sim). Em resposta à minha pergunta, uma delas voltou-se e apontou-me na encosta a zona de meta das provas de esqui alpino.
(Fossem ou não inglesas lésbicas, é uma imagem curiosamente aconchegante, a de duas estrangeiras sexagenárias, suavemente apaixonadas uma pela outra, vivendo mais ou menos exiladas numa fria mas pitoresca povoação situada nas montanhas da Suiça Central. Acho eu. Enfim, avancemos.)
Muitos apreciadores de futebol não considerariam completa uma primeira deslocação a Madrid se não pudessem visitar o Santiago Bernabéu. Da mesma forma, fãs de desporto automóvel não se sentiriam bem dispensando, quando em viagem pela zona Oeste da Alemanha, uma visita ao Nürburgring Nordschleife. Encontrando-me em Wengen, eu precisava de saber onde era a pista de downhill. E devo confessar que, como quase todos os indivíduos nascidos e criados junto ao sopé da Serra da Estrela, nem sequer faço esqui (é entretenimento de fim-de-semana para lisboetas e portuenses).
Mas gosto de velocidade e de um pouco de loucura. E de cenários grandiosos. Vejamos: quatro quilómetros e meio (a mais longa prova da taça do mundo de esqui) para descer dos 2315 até aos 1290 metros de altitude (desnível de 1025 metros, inclinação média de 15 e máxima de 42 graus) a uma velocidade média ligeiramente superior a 100 km/h. Aproximadamente 150 km/h de velocidade máxima (o recorde é de 158). Uma secção estreita onde os esquiadores passam sob a linha férrea de cremalheira que sobe de Wengen para Kleine Scheidegg (onde se pode mudar para outro comboio e trepar por
dentro do Mönch e do Eiger até
Jungfraujoch, estação situada a cerca de 3500 metros de altitude, num trajecto totalmente desaconselhável a claustrofóbicos). O
Hundschopf, um dos mais famosos saltos de todas as pistas de
downhill (assim designado por – dizem – ter o formato de uma cabeça de cão). Uma curva interminável chamada «canto dos canadianos» por vários canadianos lá terem caído. Um ponto conhecido como «o buraco dos austríacos» por –
what else? – quase todos os austríacos em prova ali terem caído em 1954 (para grande satisfação dos suiços, certamente). E depois há o resto. A presença imponente dos picos Eiger, Mönch e Jungfrau (costumam ver-se bem na televisão, mesmo antes do
Hunsdchopf). O tal comboio de cremalheira. O covil de Blofeld no filme de 007
Ao Serviço de Sua Majestade (aquele em que Bond era George Lazenby, casava e não ficava com grandes recordações de Portugal) no Schilthorn, do outro lado do vale. Um teleférico que sai de Wengen e, em 1656,9 metros de trajecto, sobe 947,5. Em 5 minutos.
Mas na verdade estou a escrever isto por causa da prova. Disputa-se desde 1930 e nem a Segunda Guerra Mundial interrompeu a sua realização (embora quase só esquiadores suíços tenham participado nesses anos). Em 1991 houve uma morte e, ao longo das décadas, muitas pernas e braços partidos. É possível que certos desportos sejam demasiado loucos para mentes sensatas (é facto assente que as mentes sensatas só aguentam uma dose pequenina de loucura antes de entrarem em processo de rejeição). Nesse caso, esqui alpino, e especificamente a disciplina de downhill, só pode estar na lista. (Imaginem-se a colocar a cabeça de fora da janela do carro na auto-estrada; considerem que estão quinze graus negativos; agora substituam o carro por um par de esquis; finalmente esqueçam a auto-estrada e visualizam-se a descer uma encosta com vinte e tal graus de inclinação.) A Lauberhornrennen é um dos expoentes máximos do downhill e, por conseguinte, da loucura. Acontece amanhã de manhã, se o nevoeiro ou a queda de neve não complicarem tudo. Dá no Eurosport.
Neste vídeo faltam os primeiros trinta e tal segundos de descida. O Hundschopf é o primeiro salto, após a curva à esquerda. Ken Read, o canadiano que venceu em 1980, explica no site oficial da taça do mundo que é preciso travar a fundo - pouco antes, segue-se a cerca de 130 km/h - e abordá-lo com muito cuidado porque é «como cair num poço de elevador». Quanto ao Bode, aqui na descida que lhe deu a vitória em 2007 (ganhou também em 2008), para além de conseguir imitar o Keanu Reeves sem recurso a efeitos especiais, sabe decididamente terminar uma prova em grande estilo.
Quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
O canivete suiço
Em 1891, o industrial suíço Karl Elsener, dono de uma empresa produzia equipamento cirúrgico, descobriu que o exército suíço usava canivetes multi-funções fabricados na Alemanha. (O canivete era necessário porque o processo de desmontagem de um novo modelo de espingarda obrigava à utilização de uma chave de fendas.) Estando-se numa época em que os sentimentos nacionalistas imperavam, Elsener decidiu fabricar uma versão do canivete alemão e conseguiu contrato para fornecer o exército. Cinco anos mais tarde, através do uso de uma mola especial, que lhe permitiu colocar instrumentos de ambos os lados do corpo do canivete, fez evoluir o design e criou o que por cá se chama «canivete suíço» e, no mundo anglófono, swiss army knife (a patente, de Junho de 1897, referia-se-lhe como «canivete desportivo e dos oficiais suíços»). Em 1909, em homenagem à recém-falecida mãe, Elsener renomeou a empresa Victoria e em 1921, na sequência do surgimento do aço inox, o nome foi novamente alterado, para Victorinox. A Victorinox anuncia os seus canivetes com a frase The Original Swiss Army Knife.
A empresa de Elsener não esteve sozinha no mercado durante muito tempo. Em 1893, a Paul Boechat & Cie começou também a produzir uma versão do canivete alemão e a fornecer o exército. Mais tarde, desenvolveu a sua própria versão do «canivete suiço». Já no século XX, a Paul Boechat & Cie foi comprada pelo seu director-geral, Theodore Wenger, que lhe alterou o nome para Wenger. A Wenger anuncia os seus canivetes com a frase The Genuine Swiss Army Knife.
Como podem duas empresas usar slogans tão parecidos? Simples. (Mais ainda desde que, em 2005, a Victorinox comprou a Wenger mas isso não vem ao caso). Em 1908, o exército suiço decidiu que para evitar fricções entre cantões (a Victorinox situa-se no cantão de Schwyz, na Suiça central, enquanto a Wenger é da zona francófona do Jura) cada empresa forneceria 50% das necessidades. Colocadas perante o problema de saber como aproveitar a ligação ao exército e fazer publicidade ao canivete sem guerras judiciais pelo meio, Victorinox e Wenger chegaram a um acordo: a primeira passaria a vender «the original swiss army knife» e a segunda «the genuine swiss army knife».
Porquê tudo isto? Por nada de especial. Pareceu-me que a história de uma negociação sensata, pragmática e em espírito de boa vontade
vinha a propósito.
Adenda: Espero que pelo menos fique claro para os que ainda tinham dúvidas que Sócrates desconhece o termo «negociar» e que apenas pretende arranjar forma de fragilizar Passos Coelho, forçando-o a aprovar um orçamento que sempre contestou, ou de poder acusá-lo de ter contribuído para a crise. Não se descobre um artigo na Constituição que nos permita desterrá-lo para uma ilha qualquer? Assim à la Napoleão... (O ideal seriam as Desertas.)
Terça-feira, 15 de Junho de 2010
Paisagens bucólicas: 15