como sobreviver submerso.
Portugal veut qu'on le prenne.
A revista Prospect traz este mês uma análise sobre a relação dos Franceses com o poder. Alguns pontos são quase directamente aplicáveis a Portugal, o que não surpreende considerando a influência que a cultura francesa teve entre nós durante séculos. Gostaria de abordar dois pontos: o aparente desejo de franceses e portugueses serem governados por uma figura dominadora e a percepção crescente de que os idealistas de 1968 se revelaram uma geração de hipócritas e egoístas.
Em povos habituados a depender do estado, como o português e o francês, o risco assusta. Não se passa o mesmo com outros povos. A The Economist da semana passada trazia um artigo que mostrava como nos EUA, apesar da tendência actual para guinar à esquerda, a maioria das pessoas continua a valorizar o risco e a desconfiar de um estado demasiado controlador. Nos países nórdicos, o estado providencia uma excelente rede de segurança mas, como se pode constatar pela excelência das empresas suecas ou finlandesas, há quem arrisque (talvez em parte por saber que a rede existe). Mas o caso mais preocupante para franceses, portugueses e outros europeus com as mesmas características são os países emergentes. Porque nestes as pessoas têm vivido com tão pouco que nada têm a perder. Arriscar é uma oportunidade, muito mais que um risco. A globalização assusta porque, com imperfeições ou sem elas, estilhaça o status-quo. Povos como o francês e o português, habituados a um ramerrame narcotizante mas tranquilo, entram em pânico e procuram quem os proteja. Figuras fortes, que falem grosso e pareçam dar garantias de que tudo se resolverá por si. Sarkozy, Sócrates e Cavaco são o que de momento se arranja, na falta de um Napoleão ou de um Salazar. Exagero? Repare-se nas semelhanças: como Napoleão, Sarkozy é baixo, hiperactivo e é tão mencionado pela política como pelas conquistas sexuais (o artigo da Prospect tem referências hilariantes à libido do presidente francês); Como Salazar (deixemos de lado a recente imagem de garanhão), Cavaco é alto, magro, austero. Sócrates não anda longe. Nenhum deles gosta de discordância e de debate. A Prospect inclui, logo no início do artigo, uma citação do ex-Primeiro-ministro Dominique de Villepin que não resisto a incluir aqui: “La France veut qu’on la prenne”. Desconfio que Portugal também. Há um desejo forte de ser subjugado em ambos os países.
O artigo aborda também, embora de raspão, a desilusão crescente com os políticos nascidos no pós-Maio de 68. Veja-se este parágrafo: "Much has been written about the generation of bourgeois intellectuals, known as les soixante-huitards, who led the student uprisings against de Gaulle’s stultified order. They fashioned the French political landscape, still run the media, and have lived off the fat of the land and squandered a thriving economy in the process. Once the heroes of a glamorous revolution, the soixante-huitard is increasingly perceived as a selfish, hypocritical gauche caviar (champagne socialist).” Aos políticos de 68 podemos em Portugal acrescentar os políticos do 25 de Abril de 74 e a análise fica perfeita.