como sobreviver submerso.
Sexta-feira, 8 de Maio de 2009
As vantagens literárias do autismo masculino.
A Ana de Amsterdam, que gosto de ler regularmente, fez ontem um ataque – com mais desencanto que raiva – à revista Ler. Frase inicial: “Cheguei ontem a uma conclusão: a Ler é uma revista feita por homens, sobre homens e para homens”. A Origem das Espécies tem estado em hibernação (presume-se que por o inspector Jaime Ramos se encontrar prestes a deslindar mais um assassinato) mas espero que o Francisco José Viegas leia o artigo. Eu estou a escrever isto apenas porque não descobri forma de colocar um comentário no blogue da Ana.
Ana tem razão acerca da predominância dos homens na revista. Quase todos os colunistas são homens e a maioria dos escritores analisados também. Comecemos pelo segundo ponto e sejamos francos: o mundo literário foi – e, como outros, ainda é – muito masculino. O passado mostra-nos muito mais grandes escritores homens que mulheres. Porque a elas não era fácil escrever e editar? Com certeza. Mas essa não me parece a principal razão para a predominância masculina nas letras, pelo menos nos tempos mais recentes. A verdade é que os homens – se existisse um sinal de “perigo: generalização” vê-lo-iam agora aqui – são mais maníacos que as mulheres. Muito mais dedicados a análises exaustivas e a comportamentos obsessivos. Não é certamente por acaso que existem mais coleccionadores do sexo masculino que do sexo feminino. Ou mais autistas homens que mulheres. Ou mais serial killers masculinos. A boa literatura dá-se bem com estas características. Actualmente, são editados imensos livros escritos por mulheres. Muitos são excelentes. Mas mais ainda são literatura descartável. Light, como se costuma chamar-lhe. Claro que também há imensos homens a editar literatura descartável. Ainda assim, talvez o balanço (ainda) seja um pouco diferente. E talvez uma revista como a Ler não tenha como escapar a este facto. Deixem-me ser provocador: se alterar muito o balanço, se procurar demasiado deixar de ser “para homens”, transformar-se-á na Os Meus Livros.
Quanto ao facto da maioria dos colaboradores da revista serem homens, aí sim, julgo que é muito possível que os critérios de amizade e apreço pessoal (de FJV e dos outros responsáveis pela revista) tenham desempenhado um papel preponderante. Eles que se defendam.
Alerta final: tudo o que ficou acima é apenas uma hipótese que espero não se transforme no meu momento “reitor de Harvard”.
Quinta-feira, 9 de Abril de 2009
Contraponto semiológico ou a mulher do Jimmy Connors.
Saiu a Playboy portuguesa. Seria uma grande data se a revista valesse alguma coisa. (Isto escrito por quem guarda religiosamente, tanto quanto o termo é aplicável, em casa dos pais - imagine-se -, umas dezenas de números da edição americana do final dos anos oitenta. As raparigas tinham mamas demasiado grandes mas eu comprava-a por causa da entrevista, da ficção, e das anedotas, até porque, na altura, nem sequer percebia de fotografia.)
De qualquer das formas: saiu a edição portuguesa. E, polémicas com a ERC à parte (todas as publicações, especialmente noticiários televisivos, deviam estar em guerra aberta com tão útil e imparcial entidade), é fraquinha. Muito fraquinha. Ao contrário do que escreveu o caro Manuel Jorge Marmelo (hmmm, este apelido proporcionava uns trocadilhos do mais puro humor português, especialmente considerando que estamos a falar da Playboy), na análise semiótica que efectuou ao primeiro número, há poucos motivos para apreciar as fotos da nossas curvilíneas compatriotas (não por culpa delas ou dos seus mui agradáveis atributos, naturais ou, desconfio que em alguns casos, sintéticos). Estamos de acordo em considerar péssima a qualidade de impressão mas eu não consigo olhar as fotos sem pensar em Patti McGuire, a mulher do tenista Jimmy Connors (número 15 nesta lista, que tem outros motivos de interesse, até porque a Patti já tem cinquenta e tal anos). Porquê? Apesar de gostar bastante de ténnis, não é por isso. É que o estilo de fotografia da nossa (como quem diz) Playboy me lembra o estilo da edição Americana nos anos setenta (que devo ter visto em documentários porque não sou assim tão velho), década em que a Pattti apareceu na revista (foi playmate do ano de 1977; ver aqui para um desmoralizador artigo de como se passa de bunny a mommy). E isto não é um elogio. Os anos setenta estão longe de ser a minha década preferida no que respeita às artes (Joy Division à parte). As fotos são timoratas, banais, sofrivelmente iluminadas e, acima de tudo, tristonhas, pouco imaginativas e nada glamorosas. Uma pena porque, repito, as raparigas até têm potencial (energia potencial igual a massa vezes gravidade vezes altura, se bem me lembro das aulas de física).
Já mencionei que as fotos são timoratas? Bom, também não é o ponto principal...
Outra coisa, menos importante: a entrevista é ao Costinha? Isso é que merecia uma análise semiótica.