como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 8 de Junho de 2009
Os extremos da ilusão e o centro do pragmatismo.

As eleições de ontem parecem apresentar resultados razoavelmente consistentes a nível europeu: reforço dos partidos nos extremos do espectro político, tanto à direita como à esquerda, e mais forte penalização de partidos suportando governos de esquerda que de direita. O que justifica isto no meio de uma crise financeira, económica e social?

 
Tenho para mim que há três tipos de eleitores: os militantes, os que se recusam a aceitar a realidade e os pragmáticos. Os primeiros não contam para esta análise porque não mudam facilmente o sentido de voto (ou fazem-no apenas quando mudam de camisola). Analisar os outros dois grupos é mais interessante.
 
Parte da população – em Portugal como noutros países, à direita como à esquerda – não entende a existência de momentos de dificuldade. Quando eles chegam, recusa a realidade e refugia-se nos extremos do espectro político. Os partidos de extrema-direita garantem que é tudo uma questão de autoridade, de proibir a entrada de emigrantes que nos vêm roubar os empregos, de voltar a certos valores morais. Os de extrema-esquerda garantem que a culpa é dos ricos e que se pode combater eficazmente a crise combatendo-os a eles. Jogam também com questões menores mas publicitariamente eficazes – os chamados “temas fracturantes” – que lhes conferem uma imagem de modernidade cool e escondem a realidade dos anquilosados modelos governativos, económicos e sociais em que baseiam as suas ideologias. De um lado e do outro do espectro político cresce-se eleitoralmente.
 
Depois há uma mole de gente que (ainda?) sabe que tem que ser pragmática. E que, nestas eleições, deu vantagem aos partidos de direita. Porquê? Talvez porque sinta que estes também o são. Por muitas promessas impossíveis de cumprir que façam, tendem a esconder menos a realidade. Assumem que, tendo o mundo mudado, é preciso mudar algumas coisas. Correr riscos. Estes votantes podem estar irritados com os banqueiros mas sabem que não é com discursos grandiloquentes e hipócritas contra o capital que se resolve a situação (até porque a culpa não foi só dos banqueiros). Podem não gostar de sentir que os sistemas de protecção social estão sob pressão mas preferem soluções que garantam um mínimo que soluções insustentáveis a prazo. Podem apreciar muito do que o estado providencia mas sabem que os estados estão gordos e acomodados. São votantes que preferem o realismo de um Sarkozy dizendo-lhes que a solução passa por trabalhar mais ou, contra todas as expectativas, de uma Ferreira Leite afirmando que não há dinheiro para investimentos faraónicos sem retorno garantido.
 

Resta saber se os partidos de direita têm efectivamente respostas à altura e se as conseguem aplicar no clima actual, com uma esquerda vociferante, uma extrema-direita a erguer a cabeça e uma comunicação social maioritariamente adversa. Se não forem capazes de o fazer, ou se as soluções falharem, depressa perderão muitos destes votos. Talvez para os extremos.



publicado por José António Abreu às 10:45
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Domingo, 7 de Junho de 2009
Coisas que parecem em noite de eleições europeias.

Parece que nem a presença de Sócrates na campanha ajudou Vital.

 

Parece que a estrategiazinha descarada de Vital e Sócrates para ligar o PSD ao BPN fez ricochete.

 

Parece que, segundo Sócrates, estes resultados nada têm a ver com as legislativas. Parece que, em 2004, o PS tinha outra opinião.

 

Parece que realmente os comícios não são necessários.

 

Parece que o CDS continua a existir, contra todas as empresas de sondagens.
 

Parece que o PSD ganhou, contra todas as empresas de sondagens.

 

Parece que as empresas de sondagens consultam mais pessoas de esquerda que de direita; se calhar há mais gente de esquerda com telefone fixo.

 

Parece que a CDU está a ter dificuldades em engolir um aumento de votos.

 

Parece que o BE já se acha perto de ganhar à geral.

 

Parece que Paulo Portas está tão emocionado por os eleitores lhe terem dado mais quatro meses de vida suspensa como o Federer estava esta tarde depois de ganhar Roland Garros.

 

Parece que a crise internacional não é igualmente má para todos os governos.

 

Parece que, apesar das sondagens terem provado não valer grande coisa, é essencial apresentar uma referente às legislativas ainda durante a noite das europeias.

 

Parece que estas noites estão a acabar cada vez mais cedo.



publicado por José António Abreu às 22:24
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