como sobreviver submerso.

Quarta-feira, 12 de Agosto de 2009
Dez milhões de beneficiários

Os últimos cartazes do CDS têm recebido críticas ferozes. Porquê? Porque há certas verdades que não se exprimem, pelos vistos. Entenda-se: eu também preferiria que nenhum partido sentisse necessidade de chamar a atenção para estes assuntos. E, de um ponto de vista eleitoral, não sei se os cartazes beneficiam o CDS. Mas as questões colocadas são relevantes. Tomemos como exemplo a pergunta “É justo dar rendimento mínimo a quem não quer trabalhar?”. Como é que cada um de nós responde à pergunta? Dir-me-ão que o populismo está precisamente na pergunta empurrar para a resposta “não” quando a resposta exige matizes (quais?). Ou que é injusto ou presunçoso afirmar que há quem não queira trabalhar (mas não preferíamos quase todos não ter que o fazer?). Dir-me-ão ainda que a pergunta traz à superfície as emoções mais primárias das pessoas (a ser verdade, por que será?).

 
Sim, seria menos agressivo usar uma frase do tipo “rendimento mínimo para quem verdadeiramente dele necessita”. Mas a questão não desaparece com frases mais redondas ou silêncios envergonhados. Há indubitavelmente abusos no usufruto de vários subsídios. Reconhecê-lo não transforma ninguém em discípulo de Mussolini ou de Hitler. Calar o assunto só aumenta as tais emoções “primárias” que as pessoas recalcam por pudor. E, a médio prazo, isso é mais perigoso que discuti-lo abertamente. Creio que o CDS não pede o fim do rendimento mínimo. E, independentemente da posição do CDS, poucas pessoas o pedirão. O que se pede é mais cuidado na sua atribuição e fiscalização. E é especialmente oportuno abordar o assunto em período pré-eleitoral porque nestes meses, em muitos pontos do país, as indicações transmitidas aos técnicos de acção social são para aprovar todos os pedidos que entrem. De tal forma que não me surpreenderia se o aumento constante dos encargos com o rendimento mínimo estivesse relacionado não apenas com a crise mas também com este facilitismo pré-eleitoral.
 

Por que não pode discutir-se estes assuntos? Devia poder-se. Sem que fossem automaticamente disparadas acusações de insensibilidade social ou populismo ou outros termos carregados de tanto ou tão pouco significado quanto as motivações por trás do seu uso. E deviam discutir-se também formas alternativas de encarar a questão (como, por exemplo, esta). Que dificilmente a esquerda implementará. Porque a esquerda se encontra paralisada entre a visão do bom selvagem e o horror a qualquer indício de populismo direitista (obviamente, o populismo esquerdista é diferente, tanto que raramente se lhe chama populismo). Mas talvez não seja apenas o pudor do politicamente correcto que refreia a vontade de reforma por parte da esquerda. Talvez também seja a velha ambição de fazer tudo depender do Estado. Na verdade, a esquerda só ficará satisfeita quando aos setecentos mil funcionários públicos, ao meio milhão de desempregados, aos quase quatrocentos mil beneficiários do rendimento social de inserção e aos dois milhões e oitocentos mil pensionistas juntar os restantes portugueses na dependência total do Estado. Entre a fúria controladora do PS e os desejos de nacionalizações do Bloco e do PC, já estivemos mais longe.



publicado por José António Abreu às 19:13
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