Um das formas de verificar que uma relação, de amor mas também de amizade, ainda está viva: ter imediatamente vontade, ao ser informado de algo divertido, inesperado ou incongruente, de partilhar a informação com a pessoa em questão, mesmo sabendo que o assunto lhe interessa pouco. A desilusão: perceber que ainda temos vontade de lhe dizer mas que, mesmo sendo nós a fazê-lo, o assunto lhe interessa pouco. O princípio do fim: ainda pensar em dizer-lhe mas chegar à conclusão de que não vale a pena fazê-lo porque o assunto não lhe interessa.
O Francês Georges Dussaud gosta de Portugal. Em 2007, as fotos que tirou durante os anos oitenta e noventa do século passado deram origem a uma exposição no Centro Português de Fotografia (CPF), situado no magnífico edifício da antiga Cadeia da Relação, e a um livro, Crónicas Portuguesas, editado pela Assírio & Alvim. Veja-se, por exemplo, a série sobre a matança do porco, tradição entretanto proscrita pelas regras de higiene comunitárias.
Desde 4 de Abril e até 28 de Setembro, Dussaud está de volta ao CPF, agora com fotos recentes, tiradas na cidade do Porto. Está acompanhado por uma série de fotógrafos Franceses, numa exposição intitulada "Invisões - Portugal Visto pelos Fotógrafos Franceses".
A exposição vale a pena (e relembre-se que a entrada no CPF é gratuita), mesmo que as fotografias de Dussaud expostas não façam esquecer as de há dois anos. São belas, evocativas, chamam a atenção para pormenores que a quem calcorreia as ruas do Porto diariamente passam despercebidos, mas, com algumas excepções, não têm a força composicional e pictórica das que Dussaud tirou em Trás-os-Montes. Provavelmente, é inevitável. O Porto é mais "normal" que as aldeias de Trás-os-Montes. É também mais conhecido e torna-se difícil capturar imagens que ainda consigam fazer o espectador suster a respiração por um instante, levá-lo a pensar "uau, aqui está uma visão desconhecida de algo que vejo todos os dias". Provavelmente, com a actual proliferação de imagens nos meios de comunicação (com destaque para a Internet), a tendência agudizar-se-á. Mas, pelo menos por enquanto, um olhar sensível ainda faz alguma diferença. E Dussaud possui-o.
(Fotos tiradas ontem no Centro Português de Fotografia.)
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