como sobreviver submerso.

Sexta-feira, 22 de Janeiro de 2016
Do «presidente de todos os portugueses» a Marcelo

1. Intróito com auto-citação

Permitam-me recuperar parte de um texto pré-histórico (bom, de Julho de 2009):

O conceito de «presidente de todos os portugueses» é, pelo menos na forma como habitualmente surge, um logro. Nenhum presidente representa «todos os portugueses» no sentido de ter que agir como cada um deles deseja. Seria, aliás, impossível. Não pode também pretender-se que represente os portugueses que elegeram o governo acima dos que o elegeram a ele. (Aconteceria se permanecesse em silêncio perante todas e quaisquer medidas do governo.) Também não é, como muitas vezes se defende, um «árbitro». Se o papel do presidente fosse apenas arbitral, bastar-lhe-ia conhecer as regras «do jogo» (definidas na Constituição) e a ideologia seria irrelevante, uma vez que não decidiria em função dela. Aliás, pura e simplesmente não decidiria e elegê-lo configuraria um contra-senso: poderia ser nomeado ou até sorteado entre os portugueses. Um presidente é eleito depois de apresentar um conjunto de posições e de convicções e deve presidir em função delas. Obviamente, não tendo poder executivo deverá procurar consensos com o governo e só o afrontar quando achar indispensável fazê-lo. Mas tem o direito de o fazer. Mais: tem o dever. Em função das suas próprias convicções, cada cidadão decidirá então se ele está ou não certo. Mas não o pode criticar por falar.

 

2. Candidatos de quase todos os portugueses

Mantenho a opinião: «presidente de todos os portugueses» é um conceito que só faz sentido como tentativa de impedir que os presidentes manifestem posições de centro-direita. Após observar a campanha nestas últimas semanas - com uma traumática excepção, de relance, que o meu sistema imunitário anda frágil - devo, no entanto, admitir a existência de «candidatos de quase todos os portugueses». Não por defenderem ideias claras mas altamente consensuais (seria impossível) mas por procurarem agradar a gregos e a troianos; por apresentarem platitudes com ar de quem apresenta soluções; por tentarem parecer assertivos enquanto evitam comprometer-se com medidas e cenários concretos. E, se quase todos os candidatos são culpados disto, é forçoso reconhecer que nenhum o fez com tanto denodo como Marcelo Rebelo de Sousa.

 

3. Os snobes de esquerda têm razão e o pessoal de direita é estúpido?

A esquerda, cosmopolita por inerência, tende a classificar os indivíduos que não concordam com as suas ideias (i.e., todos aqueles à direita do centro-esquerda) como retrógrados, trogloditas e/ou simplesmente estúpidos (mas como é que 38% dos portugueses ainda votaram na coligação PSD-CDS?). Olhando para a forma como Marcelo desprezou o eleitorado de centro-direita, considerando-o no bolso, dá vontade de admitir que, pelo menos no que concerne à parte da estupidez, a sobranceria da esquerda se justifica. À primeira vista, só a estupidez dos eleitores de centro-direita parece explicar que, após uma campanha decorrida inteiramente no terreno da esquerda, sem um único candidato a defender posições como o primado da liberdade de escolha dos cidadãos, a responsabilidade fiscal do Estado ou a necessidade de assentar a redistribuição numa economia capaz de a suportar, eles ainda se dêem ao trabalho de ir às urnas. Porém, embora lhes fosse certamente agradável poder um dia votar numa pessoa (ou num partido) com quem estivessem de acordo em todos os assuntos fundamentais, os eleitores de centro-direita são, acima de tudo, pragmáticos. Encontram-se habituados a escolher o mal menor - e ainda assim a perder quase sempre, nem que seja na secretaria.

 

4. O mal menor, portanto

Na era pós-4 de Outubro de 2015, ao centro-direita (e por conseguinte, na minha opinião, ao país) só interessam eleições quando existir uma razoável probabilidade de PSD e CDS conseguirem maioria absoluta. Sampaio da Nóvoa estaria disponível para as convocar na altura mais conveniente para António Costa. Maria de Belém estaria disponível para as convocar na altura mais conveniente para o PS (e, por conseguinte, para Costa). Marcelo deverá manter uma política de não-hostilidade em relação a Costa (porque se dá bem com ele e porque - inteligentemente - não desejará ser acusado de força de bloqueio) mas, não obstante toda a sua inconstância, tenderá menos a permitir-lhe manobrar os timings. Pagaremos uma factura elevada mas é necessário deixar António Costa governar - até ficar evidente que, com a ajuda dos parceiros de «geringonça», leva (de novo) o país na direcção do abismo.

 

5. Por exclusão de partes e por cansaço

Ponderei seriamente votar em Henrique Neto, o único candidato que assumiu algumas posições com as quais concordo. Não o farei por dois motivos:

a) O pesadelo que seria ter Belém ou - credo - Nóvoa na Presidência (as hipóteses de qualquer deles ganhar na segunda volta parecem reduzidas mas – pragmatismo acima de tudo – mais vale não arriscar);

b) O desejo de terminar com este circo deprimente tão depressa quanto possível.

Votarei pois em Marcelo Rebelo de Sousa.



publicado por José António Abreu às 19:07
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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2016
"A Quinta", edição candidatos à presidência

A falta de desteridade que há muito pulverizou as minhas esperanças de conseguir uma carreira brilhante (embora discreta) no carteirismo, bem como as dimensões minúsculas das teclas do telecomando (seguirá queixa para a Anacom), levaram a me encontrasse, impreparado como um recém-nascido (excepto pela nudez, que o Inverno chegou finalmente), a assistir ao debate de ontem entre Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa. Foi muito estranho. Não obstante sentir imediatamente uma forte vontade de mudar de canal, permaneci incapaz de o fazer, o corpo paralisado, os olhos esbugalhados e a boca semiaberta num arremedo de sorriso. Mais tarde, o cérebro já liberto por acção da publicidade (quem diria...), percebi que era afinal lógico: não passara do conhecido efeito dos reality shows. E, nessa perspectiva, a minha crítica tem de ir para Clara de Sousa. Apenas ela destoou, ficando longe de fazer esquecer Teresa Guilherme.



publicado por José António Abreu às 11:47
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Quarta-feira, 22 de Abril de 2015
Caramba, ainda acabo a votar num socialista...

Sublinhando que ainda não analisou ao pormenor o documento dos economistas escolhidos por António Costa, o ex-empresário e ex-deputado socialista Henrique Neto notou ainda que a preferência do PS pelo aumento do consumo privado, através da reposição mais rápida dos cortes salariais, da diminuição da sobretaxa de IRS e da TSU para os trabalhadores, tem um revés: “conduz quase sempre a um aumento das importações”.

E por isso o candidato independente a Belém tem reticências. “Obviamente não tenho nada contra o aumento das medidas a favor do consumo, mas antes disso é preciso medidas de substituição em certos sectores para não corrermos o risco de desequilibrar a balança comercial”, disse.

Henrique Neto, no Observador.

 

(Desta vez não resisti; passei «setores» a «sectores». Até por estar convencido - sinceramente - de que, ao sair da mente de Henrique Neto e ser atirada - indefesa - para a atmosfera, a palavra vinha com a consoante muda no lugarzinho dela.)



publicado por José António Abreu às 17:21
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