como sobreviver submerso.

Quarta-feira, 5 de Maio de 2010
Ainda estou a tentar decidir que resultado é mais útil mas já sei de qual gosto mais

Primeira sugestão do Google a partir das letras «ho»: hotmail.

 

Primeira sugestão do Bing a partir das letras «ho»: how many exclamation points in portnoy’s complaint.



publicado por José António Abreu às 12:58
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Sábado, 13 de Fevereiro de 2010
Ser deixado em paz
 
Viver condicionado pelos desejos, inseguranças, desequilíbrios ou interesses alheios. Pretender apenas ser deixado em paz. Cometer não mais do que ligeiros erros, por incompreensão e exasperação. Vê-los adquirir proporções absurdas.
 
O inferno que são os outros torna-se ainda pior quando se quer estar à parte. Quando se é demasiado novo para perceber que as relações entre pessoas se baseiam mais em aparências do que em intenções. Menos no que se diz, mais em como se diz. Que estar à parte é sempre uma ameaça para quem se limita a seguir a manada. (Olhamos frequentemente os idosos de lado porque eles já se estão nas tintas.)
 
Marcus Messner é filho único. Nasceu e cresceu num ambiente familiar estável. Depois de entrar para a universidade, o pai, talhante kosher em Nova Jérsia, fica obcecado com a hipótese de ele estragar a vida com actos insensatos. Marcus foge. Muda-se para uma universidade distante e tenta isolar-se. Só quer estudar e acabar o curso sem problemas. Sabe que, para evitar o recrutamento para a guerra da Coreia, onde rapazes da idade dele morrem todos os dias, não pode cometer erros. Mas depressa se enreda em regras que não entende e nas expectativas dos colegas, de uma rapariga que revela excessivo à-vontade nas questões do sexo, e até do deão, a última pessoa com quem Marcus deseja arranjar problemas. Quanto mais se tenta isolar, mais se envolve. Acaba morto (para evitar ilusões, Roth informa-nos cedo) a três meses de fazer vinte e um anos. Não há verdadeira  forma de escapar às convenções. (Na verdade, foram sempre modos de escapar – à lógica da sociedade americana, da identidade judaica, dos constrangimentos morais, da inevitabilidade da morte – que Roth procurou nos seus livros.) Mas, por outro lado, também não vale a pena viver em função do que pode correr mal: os receios do pai de Marcus apenas se concretizaram porque Marcus sentiu necessidade de fugir dele. Se o pai não tivesse tido tanto medo, o filho ainda poderia estar vivo.
 
O ponto mais interessante talvez seja que, apesar de todos os erros, de toda a vontade de exclusão, Roth faz Marcus pagar com a vida o único acto que, subtilezas morais à parte, é verdadeiramente condenável. Não é o «bom e velho e provocador ‘fuck you’ americano» que diz ao deão a matá-lo. Não é a forma como trata a namorada. É a única coisa que representa efectivamente uma quebra das regras estabelecidas. Como se, apesar de tudo, Roth se recusasse a aceitar que ser apenas um outsider pudesse ser punido com a mais pesada das penas. Que Marcus tenha sido levado a cometer esse acto pelo protótipo do aluno americano perfeito (atraente, desportista, sem indícios de dúvidas existenciais) é uma ironia que não pode ser acidental.
 
Indignação, de Philip Roth
Edição D. Quixote, tradução de Francisco Agarez


publicado por José António Abreu às 19:03
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