como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 1 de Fevereiro de 2010
Proximidade

Este post é uma espécie de antítese deste outro. Torna-se mais fácil manter a vontade de esmagar (ou, no mínimo, de ignorar) os seres que nos irritam (incluindo os humanos) assegurando alguma distância deles. A proximidade revela fragilidades e gera empatia.
 
(E agora vou matar um mosquito – não, não é o da foto, mas ainda que fosse – que anda aqui a chatear-me.)

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publicado por José António Abreu às 20:00
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Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009
Partilha

Um das formas de verificar que uma relação, de amor mas também de amizade, ainda está viva: ter imediatamente vontade, ao ser informado de algo divertido, inesperado ou incongruente, de partilhar a informação com a pessoa em questão, mesmo sabendo que o assunto lhe interessa pouco. A desilusão: perceber que ainda temos vontade de lhe dizer mas que, mesmo sendo nós a fazê-lo, o assunto lhe interessa pouco. O princípio do fim: ainda pensar em dizer-lhe mas chegar à conclusão de que não vale a pena fazê-lo porque o assunto não lhe interessa.



publicado por José António Abreu às 08:45
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Sábado, 29 de Agosto de 2009
Má ficção

Às vezes, quando vêem certos comportamentos em novelas televisivas, as pessoas dizem “mas olha que isto acontece na vida real” ou “há pessoas assim”. Houve uma altura em que eu achava que isso não era verdade. Porque as novelas são simplistas e as pessoas são complexas. Hoje penso que é muitas vezes verdade. Porque as pessoas, embora complexas, tendem a imitar a má ficção a que assistem.

 

(Por que é que de repente me lembrei de coisas como os Morangos com Açúcar e da Carolina Patrocínio?)



publicado por José António Abreu às 17:49
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Quinta-feira, 21 de Maio de 2009
Cenas no metro de Paris.

O metro de Paris pode ser dos mais completos do mundo (aparentemente, nenhum edifício da cidade se encontra a mais de 500 metros de uma estação) mas não é agradável. E, em mais de vinte anos (período em que não visitei Paris), não evoluiu. Muitas carruagens estão degradadas. A maioria das estações é feia e poucas têm acesso por escadas rolantes. O metro de Lisboa é melhor. O do Porto é muito melhor mas não é um verdadeiro metro (isto pode custar-me caro). Numa estação de Paris, em momento de acalmia no fluxo de passageiros, uma ratazana passeava calmamente sob uma cadeira de plástico. Um parente do Ratatouille?

 
Os músicos que entram nas carruagens do metro usam instrumentos para todos os gostos: violas, acordeões, saxofones. Muitos tocam-nos bastante bem. Mas o único que vi – e ouvi – tocando violino devia ser alertado para o facto de se tratar de um dos instrumentos mais difíceis de tocar bem. Apesar de toda a sua boa vontade e talvez em parte por causa dos solavancos, o que o homem extraía do instrumento era de molde a fazer ranger os dentes. E também soava como tal.
 
Pela amostra do metro mas também pela de muitas ruas, os Parisienses são hoje negros ou de ascendência árabe. As mulheres brancas continuam a ter feições delicadas, com narizes finos, aduncos na parte central e ligeiramente arrebitados na ponta. Ou então sou eu a extrapolar mais que o conveniente.
 
Quando existem escadas rolantes, as pessoas encostam-se à direita para permitir a passagem de quem tem pressa. Frequente em várias cidades mundiais, ainda raro em Portugal.
 
Sentada de frente para mim e de costas para o sentido da deslocação, uma rapariga lê “Anjos e Demónios”, de Dan Brown, com os auriculares do iPod enfiados nos ouvidos. Multitasking, penso. As mulheres são excelentes na gestão de tarefas múltiplas. Mas logo a seguir sinto vontade de lhe pedir que dispense o iPod e leia antes um livro que mereça atenção exclusiva. Ou vice-versa.
 

Entraram na estação de Bir-Hakeim e saíram duas estações depois. Um casal e um miúdo. A mulher arrastava uma bicicleta infantil. A origem portuguesa era óbvia ainda antes de algum deles dizer uma palavra. A mulher, rechonchuda, com trinta e poucos anos, podia ter acabado de sair de uma aldeia de Trás-os-Montes. Da Trás-os-Montes dos anos sessenta. Quando falou, para o miúdo irrequieto e barulhento, a sensação foi reforçada. Tinha uma voz cantada, transmontana, estranha de ouvir em plena cidade-luz. Pensei em meter conversa. Mas, como muitas vezes nestas situações, fiquei na dúvida: há uma certa liberdade em falar uma língua que ninguém entende. Dizer “olá” pareceu-me quase uma intromissão. Um acto agressivo. Enquanto ponderava o assunto, o metro parou numa estação e eles saíram.

 

Em todo o lado, as pessoas nos transportes públicos e especialmente no metro onde não há sequer vista, adquirem uma melancolia peculiar. Como se a viagem fosse um momento de pausa em que tudo pode ser recontextualizado. Para o melhor e para o pior.



publicado por José António Abreu às 13:01
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