Apesar da fama de chauvinismo, muitos parisienses falam ou tentam falar inglês. Muito mais que os espanhóis (que pura e simplesmente não tentam). De tal forma que me foi difícil praticar o enferrujado francês.
1. No museu do Louvre, perante o amontoado de pessoas especadas em frente à Mona Lisa. A rapariga, cujo olhar nos segue pela sala, não tem culpa (e daí, com as mulheres nunca se sabe) mas ofusca todas as outras obras presentes. Quase ao lado, uma miúda atraente com ar desalentado mostra as mamas mas nem assim consegue que lhe prestem atenção.
2. No impressionante cemitério de Père Lachaise, que em noites de luar deve parecer um cenário de um filme expressionista alemão das décadas de 20 ou 30 do século passado, onde as campas de Balzac, Moliére e La Fontaine, entre inúmeros outros vultos da cultura francesa e mundial, recebem muito menos atenção que a de Jim Morrison. Entretanto, o mausoléu ao lado vai ganhando inscrições. O jovem Rastignac vence ao som de The End? Nem tanto. Jim era um rapaz honesto. Talvez apenas uma prova de que, para muitos, a história começou ontem.
O metro de Paris pode ser dos mais completos do mundo (aparentemente, nenhum edifício da cidade se encontra a mais de 500 metros de uma estação) mas não é agradável. E, em mais de vinte anos (período em que não visitei Paris), não evoluiu. Muitas carruagens estão degradadas. A maioria das estações é feia e poucas têm acesso por escadas rolantes. O metro de Lisboa é melhor. O do Porto é muito melhor mas não é um verdadeiro metro (isto pode custar-me caro). Numa estação de Paris, em momento de acalmia no fluxo de passageiros, uma ratazana passeava calmamente sob uma cadeira de plástico. Um parente do Ratatouille?
Entraram na estação de Bir-Hakeim e saíram duas estações depois. Um casal e um miúdo. A mulher arrastava uma bicicleta infantil. A origem portuguesa era óbvia ainda antes de algum deles dizer uma palavra. A mulher, rechonchuda, com trinta e poucos anos, podia ter acabado de sair de uma aldeia de Trás-os-Montes. Da Trás-os-Montes dos anos sessenta. Quando falou, para o miúdo irrequieto e barulhento, a sensação foi reforçada. Tinha uma voz cantada, transmontana, estranha de ouvir em plena cidade-luz. Pensei em meter conversa. Mas, como muitas vezes nestas situações, fiquei na dúvida: há uma certa liberdade em falar uma língua que ninguém entende. Dizer “olá” pareceu-me quase uma intromissão. Um acto agressivo. Enquanto ponderava o assunto, o metro parou numa estação e eles saíram.
Em todo o lado, as pessoas nos transportes públicos e especialmente no metro onde não há sequer vista, adquirem uma melancolia peculiar. Como se a viagem fosse um momento de pausa em que tudo pode ser recontextualizado. Para o melhor e para o pior.
Estou por Paris, onde não vinha vai para vinte e um anos. O cliché das sirenes das ambulâncias é inteiramente verdade: ouve-se constantemente pelo menos uma. O blog vai sendo fornecido com posts pré-preparados (mas sem corantes nem conservantes). Por uns dias, estou-me nas tintas para a actualidade. E vou terminar este post porque escrevê-lo num teclado francês mata-me. Entre outras coisas, o trabalho que deu evitar palavras que tivessem 'a' com acento agudo...
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