Deixara de ser uma simples rua, era agora um mundo, um tempo e espaço de cinza a tombar e quase noite. Ele caminhava para norte através do entulho e da lama e havia pessoas que o ultrapassavam a correr, com toalhas encostadas ao rosto ou casacos a cobrir a cabeça. Tapavam a boca com lenços de assoar. Traziam sapatos nas mãos, uma mulher com um sapato em cada mão surgiu a correr e deixou-o para trás. Corriam e estatelavam-se, algumas, confusas e desajeitadas, com destroços a tombarem à sua volta, e havia pessoas a abrigarem-se debaixo dos automóveis.
O rugido permanecia no ar, o ronco distorcido da queda. Agora o mundo era assim. O fumo e a cinza rolavam pelas ruas fora e dobravam as esquinas, irrompiam brutalmente às esquinas, ondas sísmicas de fumo com folhas de papel timbrado a surgirem em lampejos, folhas de formato padronizado com bordos cortantes, a pairarem, arrastadas num sopro, coisas inimagináveis na cortina de fumo matinal.
[…]
O mundo era também isto, figuras humanas em janelas trezentos metros acima do chão, a lançarem-se no vazio, e o cheiro nauseabundo do combustível a arder, e o ar rasgado pelas sirenes insistentes. O ruído estava em toda a parte para onde as pessoas corriam, o som estratificado a acumular-se em volta delas, e ele afastava-se e ao mesmo tempo mergulhava no seu seio.
O Homem em Queda, de Don DeLillo
Edição Sextante, tradução de Paulo Faria
Foto retirada daqui.
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