Ele era um adulto consciente de que não podia ter tudo, tal como uma mulher alegre e ao mesmo tempo deprimida em seu nome.
«He gave me an article about the exteriorization of the self. It's pretty self-explanatory. You see it everywhere. People advertise what they are, young people especially, by signage, essencially. People advertise what they are, their affiliations. They wear tee shirts with messages instead of plain, like we wore. They wear violent personal ornaments and tattoos. The idea is that when people dressed more or less all the same, within the same middle-class spectrum, you demonstrated who you were in the things you revealed when you talked to people, what you read, what you knew. Now nobody knows anything different than the next guy. It's all music and media boilerplate on the inside. So therefore why not get wondrously overmuscled or put metal studs in your eyelids? This I've seen. This article calls it a panic over differentiation. And it´s true. Well.»
Norman Rush, Mortals.
Edição Jonathan Cape.
Estamos preguiçosos e a diferenciação por elementos físicos e visíveis não exige grande trabalho, ao contrário da diferenciação pelos conhecimentos. Proporciona também – ponto tornado crucial – uma gratificação mais rápida: a diferença é imediatamente visível aos olhos dos outros (daqueles que se deseja impressionar, renegar ou provocar). Poder-se-ia pensar que esta diferenciação por elementos superficiais tenderia a revelar-se uma experiência vazia. Talvez em alguns casos o seja: há muitos exemplos onde a felicidade não parece abundar e, pelo contrário, a pertença a uma determinada tribo (ou, hoje em dia é preciso ser simpático, a um determindado grupo) parece gerar mais agressividade do que satisfação. Mas a verdade é que isto pode ser parte do prazer ao configurar um, digamos, statement raivoso. Para a maioria, os principais problemas são mesmo de ordem prática (a pele tem uma superfície finita onde colocar tatuagens ou piercings, os estilos de roupa e de penteado começam a estar todos vistos) e a frustração só nasce com a diluição da diferença por efeito de contágio. Afinal, poucas tribos conseguem permanecer fora do mainstream durante muito tempo. (Que nos imitem é primeiro uma coisa boa, depois uma coisa má.) Curioso é que, numa cultura que mantém cada vez mais relações por computador e telemóvel, esta diferenciação pode nem sequer ter efeitos para o exterior, ficando confinada a pequenas fotografias inseridas num perfil. Não importa. Cada vez mais, a realidade é construída no interior da cabeça: a internet permite que se vogue na comunidade certa, os jornais são ignorados, a televisão vai pelo mesmo caminho (e, seja como for, não é experiência menos vazia nem menos superficial), a verdade cinge-se ao imediato. E a sensação de diferença – e de pertença – dura enquanto dura. Normalmente pouco. Ou, no mínimo, bastante menos do que as tatuagens.
Felizmente, para verdadeira e sempre renovada diferenciação, existem os gadgets.
The love of a woman with a funny mind is the definition of paradise, he thought.
Norman Rush, Mortals.
Edição Jonathan Cape.
Inteiramente verdade. Bom, também não faz mal que a mulher possua outros atributos, incluindo aqueles mais tridimensionais. O próprio Ray Finch, a personagem que tem este pensamento, adora outras características de Iris, a mulher com quem está casado. Mas a funny mind é, de facto, a mais importante (mais do que a pura inteligência, que frequentemente a acompanha). A funny mind não é banalizada pela familiaridade, permite surpresas regulares, momentos de distensão em que se é recordado do motivo por que se gosta daquela pessoa. Nenhuma característica física tem este poder, ou pelo menos não o tem eternamente. Degenerescências médicas à parte, ainda que por vezes abalada pelas dificuldades da vida, a funny mind consegue resistir à passagem do tempo. Mais: nas mulheres como nos homens, revela-se extremamente útil para aprender a relativizar os seus efeitos, limitando-os ao plano físico.
Ray Finch, a personagem principal de Mortals, de Norman Rush, pensa a dada altura que a religião e a família são conspirações contra o tempo livre. Ray considera o tempo livre como uma coisa boa, algo sempre agradável, o que é discutível porque, como sabemos, o tempo livre tem muitos aspectos perniciosos. Há desde logo quem não saiba o que fazer com ele. Depois, não tivessem inventado a televisão, a internet e os centros comerciais e poderia colocar-nos a executar actos de utilidade tão discutível como ler, conversar, passear num espaço verde ou à beira rio, ouvir música, ver filmes e peças de teatro, ir a exposições ou apenas pensar. De qualquer modo, estas considerações são irrelevantes porque, na verdade, o que nós queremos não é tempo livre mas a ilusão de tempo livre. Sentirmo-nos soltos sem o sermos. Afinal, o que Ray mais deseja no mundo é que Iris, a mulher que adora mas que parece escapar-lhe um pouco mais a cada instante, o mantenha preso. Ou, para ser mais exacto, que seja livre com ele, segundo os parâmetros de liberdade dele. O que nós queremos é tempo livre com alguém preso a nós.
"Ray, look at me when you say that."
He did. "I'll do my best."
"Because I want you to say this as yourself."
"Don't follow."
"There's a difference between being yourself and playing yourself, which is something we all do. You do it when you're tired and want to get through something that's difficult in some way. Men do it more, I think."
Norman Rush, Mortals.
Edição Jonathan Cape.
Claro que sim. Sendo todas as palavras perigosas, e quase todas erradas, antes o risco da artificialidade. Apesar de tudo, a maioria das mulheres, como a maioria dos chefes (não, não será apenas coincidência), prefere ouvir as palavras certas ditas em tom ligeiramente oco do que as palavras erradas proferidas com indiscutível sinceridade. Quanto aos homens, e excepto em caso de ciúmes*, tendem a satisfazer-se com o valor facial do que ouvem e a evitar esforços que, se obrigados a pensar sobre o assunto, classificariam como desnecessários. Todos os homens? Infelizmente, não. Umas quantas almas sofridas, incapazes de escapar ao excesso de análise e à heterossexualidade, agrupam o pior dos dois mundos.
* A competição é coisa para levar a sério, o sentido de posse ainda mais e, afinal – não no-lo dizem centenas de obras literárias, cinematográficas e musicais? –, os ciúmes funcionam como uma inesperada reavaliação da cotação de um bem. É assim como possuir um carro que pensávamos valer cinco mil euros e que começa a suscitar tanto interesse que não podemos deixar de pensar que talvez valha sete mil e quinhentos. Afinal, era tão giro em novo...
I'm not boring, he thought: Except that a lot of me is like the storage areas in a good museum.
Norman Rush, Mortals
Edição Jonathan Cape, 2003
INTERVIEWER
So which novelists were you reading on your own?
RUSH
Conrad and Dostoevski above all. Conrad continued to be a huge revelation to me about serious political thinking taking place in a novel. Under Western Eyes and, especially, The Secret Agent. Dostoevski meant Notes From Underground and The Idiot, especially, though it’s very hard to privilege one of his books over another. All were important to me.
But the most significant literary moment at Swarthmore came when I met Elsa. Elsa was everything. I was only there a few months before we met but—she would do a much better job with these stories. Shall we invite her to join us?
INTERVIEWER
Why not?
ELSA
Well. Do you know Swarthmore? It was in their main building, in a quite formal parlor with velvet sofas and big oil paintings. I was sitting on one of these sofas with—my God, it was heaven!—young men all around, talking to me. At least five. Maybe eight. Some were sitting on the floor.
INTERVIEWER
All competing for your attention?
ELSA
I was naïve. I was eighteen. I’d only had one boyfriend and never got over being shy with him, so I didn’t think of myself as holding court. I just thought, Gosh, this is fun! No good dates in high school and now all of these conversations, with clever men asking my opinion about philosophy to show how sophisticated they were. At some point a mysterious stranger appeared in the doorway, wearing a black coat. He stood and listened for a minute, and when someone asked me a question—I wish I could remember what; I’ve thought of it many times—this man in the doorway said, “You don’t have to answer that.”
RUSH
I thought the question was intrusive.
ELSA
I actually wasn’t upset by the question, though I did understand what this man in the doorway meant. Then one of my couch suitors said something provocative, and the man gave a reply that infuriated them all. He said—instead of arguing, he said—
RUSH
I gave them a reading recommendation.
ELSA
And they hated it. He said, Why don’t you read such and such? Which is very annoying, of course. It’s a way of saying, “You’re not equipped to have this conversation with me.” I wish I could remember the book he recommended, though in a way it doesn’t matter, because Norman has done that so many times in his life.
RUSH
She means that I’ve often been aggressively, unpleasantly authoritative.
ELSA
Correct. Though at the time, I was smitten. I went back to my dormitory and told everyone that I’d met the man I want to be with forever. I was completely taken by his gestalt. And even later, after we’d married and departed Swarthmore, I remained this way, though when I disagreed with him, I certainly said so.
pessoais
Amor e Morte em Pequenas Doses
blogues
O MacGuffin (Contra a Corrente)
blogues sobre livros
blogues sobre fotografia
blogues sobre música
blogues de repórteres
leituras
cinema
fotografia
música
jogos de vídeo
automóveis
desporto
gadgets