como sobreviver submerso.
Domingo, 18 de Outubro de 2009
Pequenas estrelas com luz particularmente bela: Minnie Driver
Os caracóis. As sardas. A – meu Deus – voz.
Em Grosse Point Blank, de 1997 (um daqueles filmes que surgem de nenhures e, sem pedirem autorização mas também sem forçarem, se aninham no cantinho das nossas preferências onde se aconchegam as obras que, não sendo «primas», apreciamos tanto ou mais do que as que o são), as personagens interpretadas por John Cusack e Minnie Driver, ex-colegas de escola e ex-namorados, encontram-se após vários anos sem se verem. Ele é assassino profissional e foi contratado para matar o pai dela mas ela não o sabe (no início, nem ele). A química permanece intacta, não há (muita) mágoa – mas há desconfiança e prazer em brincar com as expectativas (as que cada um tem do outro e as que o espectador tem do filme). A certa altura, ele acompanha-a a casa e, depois de meia dúzia de frases que parecem carregadas de duplo sentido mas que, como sempre nestas situações, têm afinal apenas um, acaba por entrar. Pouco depois está deitado de costas na cama com ela em cima, apoiada nos pés dele, braços abertos, fazendo de avião e rindo (com – meu Deus – aquela voz rouca) ao lembrar os tempos antigos. Como são tão mais interessantes as obras em que os clichés são fintados com a classe do Maradona (o futebolista, não o blogger) no pico de forma. E como ter os actores certos faz a diferença. Olhe-se e ouça-se – meu Deus, ouça-se – Minnie Driver e quão facilmente se percebe que há ali um elemento de off-beatness (é muito possível que a palavra não exista mas isso ainda a torna mais adequada) que é sumamente atractivo. Como se ela estivesse permanentemente à procura de uma piada. Ou da oportunidade para nos (e este “nos” é tão tristemente hipotético) dar um calduço ou pespegar um beijo, consoante o que lhe apetecer no momento.
Minnie – cujo nome de baptismo é, na realidade, Amelia – passou os primeiros anos de vida em Barbados. Ficou conhecida pelo papel de namorada de Matt Damon em Good Will Hunting e por pouco mais. Da mesma altura são Grosse Point Blank e An Ideal Husband que, sem ser perfeito, é bastante divertido (baseado em Oscar Wilde, tem ainda Cate Blanchett, Julianne Moore e Rupert Everett). Minnie também canta. Uma pop agradável, que não lhe permitirá ficar na história da música mas que, ainda assim, é melhor do que oitenta e oito vírgula sete por cento do que se ouve nas rádios nacionais (dados de Setembro). É, por isso, ligeiramente irónico que tenha sido dobrada em O Fantasma da Ópera, de Joel Schumacher, que um dia destes, ultrapassando a minha profunda aversão a tudo o que inclua música de Andrew Lloyd Webber, ainda hei-de ver. (Talvez para compensar, deixaram-na cantar o tema do genérico final.) Fez de Minnie Driver num episódio de Absolutely Fabulous. Co-protagonizou a muito razoável série Os Ricos. Devia aparecer mais. O que se passa com os produtores e realizadores de Hollywood? São cegos? E – meu Deus – surdos?
Um último pormenor que devia ser irrelevante mas, por qualquer razão, também me parece espectacular: Minnie é filha da amante do pai e não diz quem é o pai do filho que deu à luz em 2008. Far out.
(Foto retirada do site dela.)