como sobreviver submerso.
Visitei a ilha da Berlenga pela primeira vez num dia de Verão absurdamente quente do início da década de noventa. A quantidade de gaivotas era impressionante. O guano cobria as rochas e o ruído ensurdecia. Quando, no sábado passado, terminei a subida que leva ao farol foi como regressar a um sítio de que se tem uma imagem construída em criança e verificar que os espaços são todos mais acanhados do que no registo guardado na memória. Desde 1998, por questões de equilíbrio do ecossistema da ilha, partem os ovos às gaivotas para limitar-lhes a reprodução. Ainda há bastantes e a diminuição do nível de decibéis e do risco de ser atingido por um bombardeamento com armas químicas são factores inegavelmente positivos. Apesar disso, senti falta da disparatada quantidade de gaivotas de outrora. Quando regressamos a um local que já não visitamos há muitos anos, as alterações são quase sempre negativas: obrigam-nos a reajustar (e, consequentemente, a questionar) as memórias. (Ainda por cima, as memórias de viagens tendem a melhorar com o tempo.) Desde sábado, é-me mais difícil recordar a Berlenga com o sorriso de incredulidade que, durante anos, surgia de forma automática.
De resto, as águas permanecem límpidas, a subida do Forte de S. João Baptista até ao farol, exigente, e o próprio Forte continua a parecer-me digno de um filme de piratas.