como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2011
A polémica que resta

Curiosamente, agora todos passámos a ser anti-Kadhafi. É uma coisa bonita de se ver. A unanimidade seria mesmo total se nos conseguíssemos entender quanto ao modo de lhe escrever o nome.



publicado por José António Abreu às 08:44
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Domingo, 27 de Fevereiro de 2011
A inteligência no ritual da discussão civilizada

Há meio século que ouço conversas como esta. Lembro-me bem do que diziam pessoas inteligentes e informadas nos últimos anos da República de Weimar, o que diziam uns aos outros nos primeiros dias depois de Hindenburg nomear Hitler. Lembro-me das conversas à mesa de jantar no tempo de Léon Blum e Édouard Daladier. Lembro-me do que diziam as pessoas sobre a aventura italiana na Etiópia e sobre a Guerra Civil Espanhola e sobre a Batalha de Inglaterra. Estas discussões inteligentes nem sempre se revelaram erradas. O que têm de errado é que os interlocutores transmitem invariavelmente a sua inteligência ao tema da discussão. Posteriormente, os estudos históricos revelam que o que aconteceu na realidade era desprovido de tal inteligência. Essa inteligência esteve ausente dos Campos da Flandres e de Versalhes, ausente quando se tomou o Ruhr, ausente de Teerão, Ialta, Potsdam, ausente das políticas britânicas durante o Mandato da Palestina, ausente antes, durante e depois do Holocausto. A história e a política não se assemelham em nada às noções concebidas por pessoas inteligentes e bem informadas. Tolstói tornou isso bem claro nas páginas iniciais de Guerra e Paz. No salão de Anna Scherer, os elegantes convidados discutem o escândalo de Napoleão e do duque d’Enghien, e o príncipe Andrei diz que apesar de tudo há uma grande diferença entre Napoleão o imperador e Napoleão a pessoa privada. Há raisons d’état e há crimes privados. E a conversa prossegue. O que continua a ser perpetuado em todas as discussões civilizadas é o próprio ritual da discussão civilizada.

Saul Bellow, Jerusalém, Ida e Volta. 
Edição Tinta-da-China, tradução de Raquel Mouta.
 
Bellow escreveu isto em 1976 mas infelizmente mantém-se e manter-se-á actual. Afinal, ainda há poucos dias Kadhafi era um tipo que reconhecera os erros do passado e em quem se podia confiar, não era?


publicado por José António Abreu às 00:18
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Sábado, 12 de Fevereiro de 2011
Fado
No interessante e breve livro que Jakov Lind escreveu sobre Israel, o autor cita assim Ben-Gurion: «Os judeus desconhecem quase por completo a ideia de um inferno onde possam ir parar. O inferno dos judeus é um descontentamento consigo mesmos quando sentem que foram medíocres.» (The Trip to Jerusalem, Nova Iorque, 1973.) É sabido que os judeus exigem coisas desmesuradas de si mesmos e uns dos outros. E também do mundo. Pergunto-me ocasionalmente se será por isso que o mundo se sente tão pouco à vontade com eles. Por vezes, suspeito que o mundo ficaria contente se visse o fim do cristianismo, e que é a perseverança dos judeus que impede isso mesmo. Digo isso por me recordar que certa vez Jacques Maritain caracterizou o anti-semitismo europeu do século XX como uma tentativa de os europeus se livrarem do fardo moral do cristianismo. E o que levou os judeus a fixarem-se, no seguimento da maior catástrofe da sua história, numa zona perigosa? Um professor judeu de Harvard disse-me recentemente: «Não seria de uma ironia horrível que os judeus se tivessem juntado, com toda a conveniência, num único país para um segundo Holocausto?» É um pensamento que por vezes passa pela cabeça dos judeus. Vem acompanhado da reflexão, (meio orgulhosa, meio amarga) de que os judeus parecem ter o condão de encontrar o âmago da crise.
Saul Bellow, Jerusalém, Ida e Volta.  
Edição Tinta-da-China, tradução de Raquel Mouta.


publicado por José António Abreu às 13:29
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Terça-feira, 31 de Agosto de 2010
Ministro iraniano ao espelho (spiegel)
Quando à primeira pergunta se responde com um facto histórico que o entrevistador estará longe de defender e que, para mais, foi posto em dúvida pelo próprio chefe do governo que o entrevistado representa, está tudo dito quanto ao nível de argumentos e honestidade intelectual que se seguem. Mas é de realçar a frontalidade das perguntas, tão pouco habitual num mundo de jornalistas subservientes, mal preparados e com tendência para atenuar os crimes de quem quer que seja que declare opor-se a Israel e aos Estados Unidos.

 

Cheguei à entrevista por aqui


publicado por José António Abreu às 20:26
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