como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 13 de Abril de 2009
Bono tem um submarino.

Estou no aparentemente amplo grupo dos que acham que o último álbum dos U2, No Line on the Horizon, é bastante bom mas está a alguma distância de ser uma obra-prima (e todavia, como fã de longa data, confesso que as cinco estrelas da Rolling Stone me sensibilizaram). Os rapazes continuam a tentar fazer algo de diferente, o que é meritório, com resultados mitigados, o que provavelmente é já inevitável. Mas deixemos de lado a música e centremo-nos nas letras. Por alturas do Achtung Baby eu reverenciava as capacidades de letrista de Bono. Vejam-se exemplos retirados de três canções que nem sequer foram singles:

 

“The men who love you / You hate the most / They pass through you / Like a ghost.”

“She wears my love / Like a see-through dress”

So Cruel. Lembro-me que, ainda nos dias de glória do jornal “O Independente”, numa lista de resoluções para 1992, Miguel Esteves Cardoso decretou que ouviria esta faixa pelo menos uma vez por semana. (Só por questões de precaução, porque a minha memória já não é o que era, pode não ter sido uma vez por semana e a lista pode não ter sido de resoluções para 1992, mas, se não foi bem assim, foi parecido.)

 

“I know you'd hit out / If you only knew who to hit / And I'd join a movement / If there was one I could believe in.”

“I must be an acrobat / To talk like this and act like that / And you can dream / So dream out loud / And don't let the bastards grind you down.”

Acrobat.

 

“Time is a train / Makes the future the past / Leaves you standing in the station / Your face pressed up against the glass.”

Zoo Station. OK, a símile inicial pode não ser de uma originalidade inatacável mas resulta bem quando se chega à imagem final.

 

Podiam mencionar-se mais exemplos, do mesmo álbum ou de outros, mas não vale a pena. Regressemos a No Line.

 

“Women of the the future / Hold the big revelations / I’ve gotta submarine, you’ve got gasoline / I don’t wanna talk about wars between nations.”

Get on your boots. Será o submarino uma imagem fálica?

 

“I was right there at the top of the bottom.”

Unknown Caller. Um pouco básico, não?

 

“16th of June, Chinese stocks are going up and I’m coming down with some new Asian virus. Ju Ju man, Ju Ju man, doc says you’re fine, or dying. Please.”

Breathe. “Please” indeed…

 

Claro que há boas passagens incluindo, como vários críticos notaram, algumas com apreciável auto-ironia:

 

“I gotta stand up to ego / But my ego’s not really the enemy /It’s like a small child crossing an eight lane highway / On a voyage of discovery.”

“Stand up to rock stars / Napolean is in high heels / Josephine, be careful / Of small men with big ideas.”

Stand Up Comedy.

 

“The right to appear ridiculous is something I hold dear.”

I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight.

 

Enfim, talvez duas ou três passagens tíbias possam ser desculpadas. Já aquele riff roubado aos Pink Floyd na de resto excelente Moment of Surrender é mais difícil de engolir…



publicado por José António Abreu às 19:38
link do post | comentar | favorito

dentro do escafandro.
pesquisar
 
Janeiro 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
18
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
29
30
31


à tona

Bono tem um submarino.

reservas de oxigénio
tags

actualidade

antónio costa

blogues

cães e gatos

cinema

crise

das formas e cores

desporto

diário semifictício

divagações

douro

economia

eleições

empresas

europa

ficção

fotografia

fotos

governo

grécia

homens

humor

imagens pelas ruas

literatura

livros

metafísica do ciberespaço

mulheres

música

música recente

notícias

paisagens bucólicas

política

porto

portugal

ps

sócrates

televisão

viagens

vida

vídeos

todas as tags

favoritos

(2) Personagens de Romanc...

O avençado mental

Uma cripta em Praga

Escada rolante, elevador,...

Bisontes

Furgoneta

Trovoadas

A minha paixão por uma se...

Amor e malas de senhora

O orgasmo lírico

condutas submersas
subscrever feeds