Folheio a Ler numa tabacaria. Há mais de ano e meio que não a compro. Passo os olhos por dois artigos, um sobre Joyce Carol Oates, o outro, de Rogério Casanova, sobre O Bom Soldado Svejk. Em condições normais, qualquer deles seria suficiente para eu gastar cinco euros. Reparo no editorial. João Pombeiro despede-se. Escreve: Por decisão da administração do Grupo Bertrand Círculo (do qual faz parte a Fundação Círculo de Leitores), decisão que respeito integralmente, deixo hoje a direção da LER. Vou às últimas páginas verificar a tiragem da revista. 10000 exemplares. Há um ano e meio era de 12000. Resultado da crise? É possível. Tenho pena? Não. Certas dificuldades são merecidas. Como noutros casos (imprensa escrita, maioria das editoras de livros), a adopção do Acordo Ortográfico terá originado poucos ou nenhuns efeitos positivos (quem é que passou a comprar a Ler porque nela se aboliram as consoantes mudas?) mas vários efeitos negativos. Um (posso garanti-lo), cem, talvez dois mil efeitos negativos. Em época de crise, provocar clientes é capaz de não ser grande ideia. Fica, a partir deste meu cantinho de irrelevância, uma mensagem para o futuro diretor da Ler ou para a «administração do Grupo Bertrand Círculo»: revertam a decisão e a revista ganhará de imediato mais um leitor. Talvez cem, quiçá dois mil.
No último editorial que escreveu enquanto director da Ler, Francisco José Viegas anuncia para Setembro a implementação do acordo ortográfico na revista. É pena. Mas estamos em crise. E se, por falta de opção, pode vir a existir um momento em que eu comece a comprar livros, jornais e revistas escritos segundo o acordo, esse momento não será em Setembro de 2011. Para mim e por enquanto, a decisão da Ler representa uma poupança de cinco euros por mês.
A Ana de Amsterdam, que gosto de ler regularmente, fez ontem um ataque – com mais desencanto que raiva – à revista Ler. Frase inicial: “Cheguei ontem a uma conclusão: a Ler é uma revista feita por homens, sobre homens e para homens”. A Origem das Espécies tem estado em hibernação (presume-se que por o inspector Jaime Ramos se encontrar prestes a deslindar mais um assassinato) mas espero que o Francisco José Viegas leia o artigo. Eu estou a escrever isto apenas porque não descobri forma de colocar um comentário no blogue da Ana.
Alerta final: tudo o que ficou acima é apenas uma hipótese que espero não se transforme no meu momento “reitor de Harvard”.
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