A forma como a memória nos prega partidas. Como, sem perceber que mentimos, a moldamos de forma a podermos manter uma visão aceitável de nós próprios. Mas também as consequências de actos que julgávamos insignificantes. Que lembramos como tal, mesmo sabendo que por vezes actos insignificantes para uma pessoa são estocadas mortais para outra. Os efeitos da passagem do tempo na memória e nas nossas ilusões. Tudo em cento e cinquenta páginas de pura filigrana.
Também pode ser descrito assim: Tony Webster, o narrador, é um homem de sessenta e tal anos, com uma ex-mulher, uma filha, uma vida igual a tantas outras. Há cerca de quarenta anos, na universidade, namorou Veronica, tendo chegado a passar um fim-de-semana em casa da família dela. Pouco tempo depois separaram-se. Tony tinha três amigos. Adrian era o mais inteligente, o mais estranho, o mais indecifrável. Tão indecifrável que cometeu um acto que nenhum dos outros percebeu. Agora, quatro décadas depois, Tony recebe uma carta escrita pela recentemente falecida mãe de Veronica que o vai levar a reexaminar os acontecimentos. E o seu papel neles.
I certainly believe we all suffer damage, one way or another. How could we not, except in a world of perfect parents, siblings, neighbours, companions? And then there is the question, on which so much depends, of how we react to the damage: whether we admit it or repress it, and how this affects our dealings with others. Some admit the damage, and try to mitigate it; some spend their lives trying to help others who are damaged; and then there are those whose main concern is to avoid further damage to themselves, at whatever cost. And those are the ones who are ruthless, and the ones to be careful of.
-----
Does character develop over time? In novels, of course it does: otherwise there wouldn´t be much of a story. But in life? I sometimes wonder. Our opinions and attitude change, we develop new habits and eccentricities; but that’s something different, more like decoration. Perhaps character resembles intelligence, except that character peaks a little later: between twenty and thirty, say. And after that, we’re just stuck with what we’ve got. We’re on our own. If so, that would explain a lot of lives, wouldn’t it? And also – if this isn’t too grand a word – our tragedy.
Julian Barnes, The Sense of an Ending (Prémio Man Booker 2011).
Edição Jonathan Cape, 2011 (p. 44 e 103).
pessoais
Amor e Morte em Pequenas Doses
blogues
O MacGuffin (Contra a Corrente)
blogues sobre livros
blogues sobre fotografia
blogues sobre música
blogues de repórteres
leituras
cinema
fotografia
música
jogos de vídeo
automóveis
desporto
gadgets