Por entre a confissão de que, em criança, inventou um telegrama para que o pai (flautista e compositor) pensasse durante alguns minutos que tinha sido convidado para escrever a música de um filme de Hollywood e a de que nunca viu Os Sopranos, Francis Ford Coppola, que já tentava fazer filmes aos dez anos de idade, foi colega universitário e amigo de Jim Morrison e tornou Wagner mais popular que o festival de Bayreuth alguma vez conseguirá, diz no i que gostaria de ter sido escritor mas que descobriu não ter jeito para tal e confessa uma velha ligação ao vinho tendo, a dada altura, despendido trinta mil dólares ganhos numa sessão de jogo em garrafas de Romanée. Fico sempre espantado com a capacidade que algumas pessoas têm para, usando os pontos fortes e contornando os fracos, se manterem perto daquilo que amam. Coppola, para além do cineasta da trilogia O Padrinho, de Apocalipse Now ou desse fascinante objecto estranho que é One From the Heart, é também produtor de vinho e fundador da revista Zoetrope All-Story, que tem como primeiro objectivo a publicação de contos. Assinei-a entre dois mil e quatro e dois mil e sete, antes de me render ao facto de que a folheava com prazer (o design é feito por convidados tão distintos – e “distinto” tem aqui o duplo significado de diferente e de conceituado – como Tom Waits ou Wim Wenders) mas raramente arranjava tempo para a ler (mesmo assim, ainda me despertou a atenção para Miranda July, que escreve contos tão deliciosamente peculiares como o sublime filme Me and You and Everyone We Know que realizou em 2005). Mesmo num país como os Estados Unidos, revistas deste género vivem com dificuldades (a The Paris Review, que ainda assino, tinha há uns anos o ridículo – para uma revista americana – número de dez mil assinantes) e decidi ir ver se ainda existia. Não só existe como a capa do último número, com grafismo do cantor Antony, quase me fez retomar a assinatura. O número inclui um artigo do próprio Coppola sobre o processo de concepção do seu filme mais recente, Tetro, que se anuncia como o melhor Coppola desde há muitos anos.
Parte de Tetro passa-se na Argentina e, a umas páginas de distância do artigo sobre Coppola, um português que admiro bastante chamado António Barreto, conta como ficou refém de revolucionários bolivianos (eu sei que o raccord não é grande coisa mas foi o que se arranjou) no início da década de setenta (o resgate era uma escola e um centro de saúde) e, como Coppola, diz que descobriu não ter jeito para escrever ficção. Confessa ainda grandes paixões pela música e pela fotografia. Embora não fale disso nesta entrevista, é também conhecida a sua paixão pelo vinho.
Claro que antes ainda posso experimentar deixar crescer a barba.
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