como sobreviver submerso.
Os actores estão em overacting mas o público costuma gostar disso. O guião segue temas repisados mas nunca há grande inovação nas novelas de maior audiência. Acima de tudo, a farsa montada pelo governo é a melhor, a mais eficaz peça que poderia ser levada à cena, tendo em conta as circunstâncias. As deixas parecem já ser debitadas no passado. A culpa foi deles. Nós estávamos dispostos a negociar. A execução orçamental estava a correr bem. Seriam sempre necessárias mais medidas e não, nunca dissemos o contrário. O congelamento das pensões mais baixas não era bem um congelamento. Tudo podia ter sido discutido, apesar da Sra. Merkel. Teríamos conseguido evitar o pedido de ajuda externa.
Deveria o PSD ter negociado novamente? Pela quarta ou quinta vez, até já lhes perdi a conta? Mas de que vale negociar com mentirosos compulsivos? Repare-se no portento de hipocrisia que é a resposta «não revelo conversas com o Presidente»,
dada hoje pelo Primeiro-Ministro no Parlamento quando questionado sobre as razões por que não comunicou a Cavaco Silva as medidas do PEC 4. Trata-se de uma resposta ridícula e desnecessária, tendo nós conhecimento de que não houve conversa alguma, porque o Presidente o fez saber e porque o próprio Sócrates o admitiu há dias, quando defendeu ser o PEC assunto da esfera governativa. Mas revela (perdão,
comprova) como Sócrates é patologicamente incapaz de assumir o que quer que seja. De que valeria uma garantia dada por ele de que as pensões mais baixas não seriam congeladas? Duraria apenas até ao PEC 5. Com este governo, com Sócrates e Teixeira dos Santos e Silva Pereira e Jorge Lacão e Santos Silva (que troupe, hã?), não há saída, apenas um buraco cada vez mais fundo. É preciso mudar. Fazer corresponder às medidas de austeridade políticas que possam permitir crescimento económico. Será o PSD capaz disto? Não sei. (Por que não contesta Passos Coelho o avanço do projecto do TGV, ao contrário do que tem feito Paulo Portas?) E está longe de ser líquido que o público não aprecie a peça. Gostamos de histrionismo e queremos (uma e outra vez) acreditar que a realidade é como a (má) ficção, onde tudo acaba sempre bem. Mas esse é outro problema. Para já, este governo precisa de ser removido. Como o tumor que é. Já basta.
A propósito da remoção do governo,
isto é o que devia acontecer. Mas desconfio que Cavaco é um saco cheio de nada. O presidente mais inconsequente que alguma vez elegemos. Se ficar quieto, sentir-me-ei envergonhado de, ainda que sem entusiasmo, ter votado nele.
Sobre a execução orçamental, ler
aqui Álvaro Santos Pereira.