como sobreviver submerso.
Quando à
primeira pergunta se responde com um facto histórico que o entrevistador estará longe de defender e que, para mais, foi posto em dúvida pelo próprio chefe do governo que o entrevistado representa, está tudo dito quanto ao nível de argumentos e honestidade intelectual que se seguem. Mas é de realçar a frontalidade das perguntas, tão pouco habitual num mundo de jornalistas subservientes, mal preparados e com tendência para atenuar os crimes de quem quer que seja que declare opor-se a Israel e aos Estados Unidos.
Cheguei à entrevista por aqui.
As eleições no Irão e tudo o que se lhes seguiu têm suscitado comentários de preocupação, esperança, raiva, perplexidade. A fraude eleitoral, a coragem dos manifestantes, a violência da polícia, o uso das novas tecnologias, a personalidade de Mousavi, a luta entre Khamenei e Rafsanjani, as tentativas de Ahmadinejad associar os protestos a manipulações dos Estados Unidos e da União Europeia – tudo tem sido discutido até à exaustão. E ainda bem. Pela minha parte, espero que o regime iraniano caia ou que, pelo menos e mais realisticamente, sofra um susto que acabe por obrigar à introdução de reformas e, a prazo, à realização de eleições verdadeiramente livres. Contudo, também receio que o resultado possa ser um endurecimento do regime, mesmo que temporário, e dificuldades acrescidas no diálogo entre o Irão e os Estados Unidos.
Entretanto, tem sido enternecedor assistir à unanimidade de políticos e comentadores, da direita à esquerda. Todos parecem desejar a queda do regime. Todos saúdam a coragem dos manifestantes. Todos criticam a acção policial. É bonito de se ver. Mas provoca-me algum desconforto. Eu sei que às vezes acontece – ah, os tempos que precederam a independência de Timor – mas, num caso como este, em que ainda há duas semanas as posições da direita e da esquerda pareciam tão distantes (a primeira desejosa de bombardear umas centrais nucleares quaisquer, a segunda no limiar da defesa de um estado teocrático), ver toda a gente unida assim de repente causa-me espécie. Suscita-me comentários jocosos imediatamente afogados na mais pura vergonha. A sério – nenhuma hesitação –, ainda bem que é assim. Não se prevê que dure mas deve aproveitar-se enquanto for possível. Alguém é capaz de ir buscar o Represas e, de caminho, pedir-lhe para mudar a letra para “Ai, Irão"?