Ontem à noite, na sala um do Hard Club, submerso num público de jovens brandindo telemóveis com ecrãs gigantescos (a famosa geração «à rasca»?), perguntei-me o que levará as pessoas da minha idade a ficar em casa. Os filhos são uma boa justificação. Mas e quando estes não existem ou já estão crescidinhos? Por que é que mesmo nestes casos as pessoas ficam em casa e, pior, se mantêm agarradas apenas àquilo de que aprenderam a gostar nos tempos em que foram jovens?
Hoje de manhã, quando às seis e cinquenta e quatro (gosto de adicionar minúsculos factores de estranheza à normalidade, ok?) o despertador tocou e tive de fazer um esforço sobre-humano para me arrastar para fora da cama, percebi porquê.
Estou a chegar à conclusão de que apenas fisicamente se tem quarenta e poucos anos. Só consigo pensar e escrever como se tivesse mais trinta ou menos trinta.
O cabelo branco tem uma certa distinção enquanto isso é apenas um ridículo e pouco ecológico desperdício de gel.
Podes saber utilizar um iPhone mas tens que pensar dois minutos para responder quantos são sete vezes oito.
Consegues escrever mensagens sms mais depressa do que eu mas pelo menos as minhas vão em português.
Não estou no Facebook porque ainda sei falar sem necessitar de um teclado; e porque encontraria lá muita gente como tu.
Posso já não ter a força que tive mas ainda tenho mais inteligência do que tu alguma vez terás.
O queixume que me ouves emitir ao levantar-me e ao sentar-me é uma tentativa de te dar a entender o idiota que és; obviamente, passa-te ao lado.
Isto não é calvície, é depilação natural e, ao contrário da que tu fazes, executada nas zonas certas.
Pára lá com a histeria à volta dos jogos de vídeo; eu já jogava Doom quando tu ainda procuravas aprender a usar o bacio.
Nasci na época do Eusébio, tu nasceste na época do Futre; consegues perceber a diferença?
Seu ignorante: todas as bandas actuais soam a bandas de há vinte, trinta ou quarenta anos.
Sim, quando nasci a televisão era a preto e branco mas tinha os monólogos do Vitorino Nemésio enquanto agora tem os do Professor Marcelo; desculpa, não conheces nem um nem outro, pois não?
Distingues bem a roupa de marca da restante mas tens dúvidas quanto ao aspecto de uma ovelha.
Simpatizas com a esquerda radical-chic mas desconfias que Che Guevara foi uma criação da Coca-Cola e não sabes quem foi Lev Trotsky. (Exactamente, um escritor ou pintor russo que viveu há mais de quinhentos anos.)
A minha preocupação ao terminar os estudos era arranjar um bom emprego, a tua vai ser arranjar um emprego; e olha que há uma certa justiça nisto.
O valor da minha reforma vai ser ridiculamente baixo mas vou ter o prazer de saber que és tu quem a está a pagar; e que nem sequer terás direito a uma.
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