como sobreviver submerso.
Sábado, 14 de Fevereiro de 2015
Ressaca do vitorianismo
Lytton Strachey, o amigo de Woolf com quem ela esteve comprometida a certo ponto, teve numerosas relações homossexuais, muito embora também ele tenha assentado num arranjo de longa duração, no seu caso com Dora Carrington, uma jovem mulher que o adorava, e o marido dela, Ralph Partridge, que ele adorava.
Sandra M. Gilbert, introdução a Orlando, de Virginia Woolf, edição Penguin Classics. Tradução minha.
Resta a questão: quem adorava a Dora? Desde que Ralph a adorasse, era o triângulo perfeito.
Segunda-feira, 5 de Julho de 2010
Teoria para acabar com todas as outras teorias sobre a origem e as razões da homossexualidade
Evitei abordar a questão do casamento entre «pessoas do mesmo sexo» (
adoro expressões politicamente correctas) enquanto a polémica esteve no auge. Também não pretendo fazê-lo agora. Porém, há algo que me parece evidente, e que considero positivo: a homossexualidade começa a não ser um estigma demasiado pesado. Um dos efeitos desta evolução é, claro, parecer existirem cada vez mais homossexuais. E é aqui que me surge uma dúvida: será apenas uma sensação ou terá a percentagem de homossexuais (entre dois e treze por cento da população, de acordo com os estudos indicados nas referências
deste artigo da Wikipedia) vindo mesmo a aumentar ao longo do tempo? Sabemos que na Grécia Clássica (e, depois, em Roma) os actos sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram frequentes mas isso não significa que gregos e romanos fossem verdadeiramente homossexuais; muitos podiam praticá-los apenas por diversão e respeito pelas convenções: em certos círculos, era o que se esperava das pessoas (de resto, ainda hoje este fenómeno sucede em sectores de actividade como a moda, onde verdadeiros homossexuais parecem misturar-se com homossexuais de conveniência). Não possuo dados concretos (devia fazer-se um estudo académico sobre o assunto) mas afigura-se-me inegável que a quantidade de gays e de lésbicas que por aí se vê é hoje elevadíssima (experimentem ligar a televisão), e isso deixa-me a pensar ser provável que de facto o número de homossexuais tenha vindo a crescer, e que esse crescimento dá novos argumentos às religiões que acreditam na reencarnação. Porque, não sei se estão a ver, a reencarnação explica a homossexualidade. Afinal, é ou não compreensível que um heterossexual convicto reencarnado num corpo do sexo oposto seja homossexual? Eu seria. Vai-se a ver, da primeira vez que nasce toda a gente é heterossexual (premissa que, estou certo, agradará aos que crêm na infalibilidade e discernimento divinos), mas nas seguintes tudo depende do corpo em que se reencarna. Se for no de um escaravelho, ninguém a não ser os tipos da National Geographic se preocuparão com as tendências sexuais demonstradas. Se for no de outro humano, há cinquenta por cento de probabilidades de se acabar uma «mulher aprisionada num corpo de homem» ou um «homem aprisionado num corpo de mulher». Ao longo dos anos, das décadas, dos séculos, o número de pessoas com as «correctas» tendências originais «aprisionadas» em corpos do sexo errado foi aumentando. Mais: o ritmo de crescimento é cada vez maior. Torna-se impossível determiná-lo sem saber quantas pessoas novas nascem (será um valor constante?), de quantas em quantas reencarnações um humano reencarna sob a forma humana, e, no caso de existir um limite para o número máximo de reencarnações, qual é esse número. Mas trata-se de pura matemática. De resto, custa assim tanto acreditar que uma daquelas lésbicas tipo-camionista possa ter sido um Zezé Camarinha na vida anterior? Ou o José Castelo Branco uma cortesã parisiense do século XIX?
Sexta-feira, 17 de Abril de 2009
«I kissed a girl»? Who the f**k gives a s**t?
Pelos vistos muita gente, considerando o sucesso que a rapariga (Katy Perry) obteve com o tema em questão. (Já agora, uma pepita de informação irrelevante: o apelido dela é Hudson mas, por receios de confusões fonéticas, adoptou o nome de solteira da mãe.) E o sucesso do tema, e dela, leva-me à pergunta: por que raio é que temas idiotas com letras infantilmente eróticas vendem tanto? Não devíamos já ter passado a fase em que a simples menção de um beijo entre duas gajas era suficiente para tornar famosa uma canção e a respectiva cantora? Que, em meados dos anos 80, ainda muita gente sentisse um frémito de surpresa ao ouvir Madonna cantar «like a virgin touched for the very first time», poderá ser compreensível. Mas actualmente? Ainda por cima é recorrente e parece funcionar sempre: lembram-se das Tatu? E do famoso beijo entre a Madonna e a Britney Spears que fez disparar a notoriedade do vídeo desta (e, suponho, as vendas do álbum)? É verdade que estamos quase sempre em território pop-adolescente-borbulhento (com alguns trintões e quarentões pelo meio, atenção) mas, mesmo assim… Os adolescentes não vêem a MTV? Há lá reality-shows onde um beijo entre duas raparigas é apenas o primeiro episódio. «I kissed a girl and I liked it»? Haverá letra mais infantil? O único ponto positivo é que o tema pode ter levado umas quantas miúdas na vida real (as que não têm MTV) a experimentar a coisa e podem muito bem ter gostado e decidido verificar que outros actos íntimos entre raparigas são igualmente agradáveis (sugestão de letra para outra canção: «I nibbled on a girl’s nipples and she moaned») e isso abre algumas hipóteses de fantasia. Ainda assim fraquinhas.