Por exemplo, se alguém empregasse numa conversa a palavra «caridade», achávamos que era uma espécie de citação frívola, irrelevante ou despropositada do Livro de Sermões. Para falarmos na nossa casa acerca de fazer «caridade», usávamos a expressão «ter bom coração», e uma pessoa caridosa, como se diz numa linguagem espiritual, era simplesmente uma pessoa com «bom coração» ou «boa». A palavra «amor» também nunca se ouvia na nossa casa, excepto se algum bêbado ou uma criada solteira particularmente estúpida vinda do campo se lembrasse de citar alguns versos de um poeta moderno qualquer; e, ainda por cima, o vocabulário desses poemas era de tal maneira indecente que se acontecesse ouvi-los, desciam-nos arrepios gelados pela espinha abaixo, e o meu avô sentar-se-ia sobre as mãos, por vezes inclusivamente lá fora, no muro do jardim, fazendo caretas, encolhendo os ombros e contorcendo-se como se tivesse piolhos, e diria: «Toc, toc!» e «Francamente!». Globalmente, a poesia moderna tinha em nós o mesmo efeito da lona a ser raspada.
Halldór Laxness, Os Peixes Também Sabem Cantar.
Edição Cavalo de Ferro, tradução de Mário Cruz e João Cruz.
OK, é tudo circa 1900 mas ainda assim...
pessoais
Amor e Morte em Pequenas Doses
blogues
O MacGuffin (Contra a Corrente)
blogues sobre livros
blogues sobre fotografia
blogues sobre música
blogues de repórteres
leituras
cinema
fotografia
música
jogos de vídeo
automóveis
desporto
gadgets