O meu carro avariou. Antes de o içar para o reboque, o homem da assistência em viagem pulverizou-o com um produto cheirando a álcool. Na oficina, os mecânicos colocaram máscaras antes de se aproximarem dele. Estão todos com medo que seja o motor gripado.
(Exoneração de responsabilidade: o que se encontra acima é uma piada e, para mais, completamente estúpida. Na realidade, o meu carro não tem gripe. Só espirra de vez em quando e dá sinais de febre se fica muito tempo ao sol.)
Estou farto da gripe. (Que, apesar das deslocações à Alemanha e a Espanha, não tenho, deixem-me acrescentar antes que alguém saia precipitadamente do blogue.) Está em todo o lado. A comunicação social massacra-nos diariamente com o número de casos novos e várias vezes por semana mostra-nos o inefável Francisco George, que me provoca sempre vontade de atirar qualquer coisa ao ecrã do televisor, nem que seja uma baforada de fumo de tabaco (logo eu que nunca fumei), ou de contratar um gangster barbeiro que o enfiasse num furgão e lhe cortasse a barba. Em empresas onde os gestores nunca se preocuparam com a qualidade do ar que os funcionários respiram emitem-se normas internas com partes mais ou menos iguais de paternalismo e de ameaça. Afixam-se bandas desenhadas ensinando como lavar as mãos nas portas de casas de banho públicas e privadas. Instalam-se pulverizadores com um líquido cheirando a álcool em restaurantes, empresas financeiras e – suponho – prostíbulos. (Aposto que há quem, sem dinheiro para melhor, experimente bebê-lo.) A ministra da Saúde anda num corrupio de visitas e declarações que incluem ameaças a quem espirra em público. Os pais engasgam as crianças com Tamiflu antes dos médicos avisarem que não se deve dar Tamiflu às crianças.
Não é de agora, claro. Muito pelo contrário. É sempre assim, seja quando as vacas – loucas – começam a fazer bilu-bilu-biluuuu, os frangos – tóxicos – destilam nitrofuranos, as galinhas – febris – põem ovos cozidos ou os porcos – engripados – fungam ainda mais que o costume. Compare-se o tempo gasto com a gripe pelos noticiários televisivos nacionais com o que os canais estrangeiros lhe dedicam. Sim, eu sei, não há comparação possível. Leia-se o que Bernardo Pires de Lima escreveu no União de Facto. É verdade. Totalmente verdade. Mas, para ser honesto, nada disto admira. Temos um Primeiro-Ministro que, após quatro anos e meio de actos de fé e arrogância, pretende que, sem ele, o país retrocederá à Idade Média. Somos – ou tentam fazer-nos – um povo de histéricos.
Imagem retirada daqui.
É só em mim ou títulos como este provocam uma ligeira sensação de desilusão?
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