Em 2016, com quatro meses de antecedência, o primeiro-ministro britânico convocou um referendo prometido dois anos antes. Perdeu, afirmou que respeitaria a decisão dos britânicos e demitiu-se.
Em 2015, com oito dias de antecedência, o primeiro-ministro grego convocou um referendo nunca antes anunciado. Ganhou, afirmou que respeitaria a decisão dos gregos, fez o oposto e manteve-se no cargo.
Uma e outra vez, recusamos as evidências e cometemos os mesmos erros. Guterres sabia o que era necessário fazer mas desistiu antes de começar. Durão foi eleito prometendo fazê-lo mas fugiu quando isso se revelou difícil. Sócrates garantiu tudo e o seu oposto e só fez o oposto. Apenas Passos avançou realmente no sentido correcto. Timidamente. Com erros, constrangimentos (incluindo os gerados por facções dentro do PSD e CDS), adiamentos (fatais, num país de tamanha inércia). Enfrentando bloqueios constitucionais e níveis recordes de demagogia (por parte do PS, que levara o país à beira do abismo, mas também de inúmeras vozes com direito a tempo de antena). Obteve resultados ténues (tudo isto demora, exige paciência e capacidade de perseverança) mas encorajadores. Nos próximos meses, Costa e Centeno, agrilhoados às fantasias utópico-revolucionárias de Jerónimo, Catarina e Arménio, inverterão o ciclo. O sector público será novamente privilegiado à custa do privado. O investimento e o emprego (este muito em particular se a CGTP conseguir juntar o reforço da contratação colectiva e a limitação dos recibos verdes ao já programado aumento do salário mínimo) ressentir-se-ão. É verdade que, no imediato, haverá mais dinheiro disponível e tudo parecerá correr melhor. Depois, os problemas regressarão - mais graves, esgotada a acção do BCE e o capital de simpatia conseguido junto dos parceiros europeus, com os investidores cada vez menos predispostos a apostar num país que muda de ideias a cada governo e uma economia mundial que dificilmente escapará a uma crise (basta a FED subir as taxas de juro e os BRICs ressentir-se-ão).
Em Portugal - como na Grécia, como na maioria dos países da América Latina, como até em Itália e em França -, continua a acreditar-se que a riqueza é gerada através da despesa pública, da governação por decreto, da perseguição ao lucro. Acontece desta forma porque os cidadãos temem a mudança e porque dá jeito aos políticos que assim seja: um Estado leve, com menos a distribuir (empregos, contratos, obras, apoios), não liberta apenas a economia; liberta também os eleitores.
Treze gráficos. E podiam ser mais. Mas para quê? Em Portugal, poucos os querem ver, menos ainda os desejam perceber.
Preços fixados administrativamente são sempre uma óptima ideia. Há-de correr tudo bem.
14h39 - Alexis Tsipras é recebido "com aplausos" pelos deputados do Syriza em Atenas - incluindo o presidente do Parlamento, que se absteve na votação do pacote de medidas que foi apresentado em Bruxelas - antes da reunião à porta fechada que antecede as votações do pacote de reformas previsto para esta quarta-feira à noite.
- A Comissão Europeia espera que a Economia da Grécia caia entre 2% e 4% este ano, agravando a queda do PIB face aos 0,5% que eram previstos em Maio, aquando da divulgação das previsões da Primavera [e, acrescento eu, aos 2,9% positivos que o FMI antecipava em Outubro passado]. A confirmar-se, isto significa o regresso da Grécia à recessão depois de em 2014 a Economia ter avançado uns ligeiros 0,8%. O regresso ao crescimento está agora previsto acontecer apenas em 2017, isto diz a Comissão Europeia, "assumindo que a estabilidade política é restaurada em breve" e que vão sendo retiradas as medidas restritivas impostas sobre o sector bancário.
O governo grego perdeu porque, na vigésima quinta hora e após cinco meses e meio de um comportamento que, fosse o Syriza de direita, teria levado as mentes bem-pensantes do planeta a despejar sobre ele uma chuva de acusações impregnadas de desprezo e salpicadas de impropérios, renegou todas as promessas que jurara cumprir. O governo alemão perdeu porque não somente foi mais uma vez coagido a manter no euro quem recusa comprometer-se com as regras deste, num processo que tenderá a arrastar a economia alemã para uma lógica terceiro-mundista, como tem de arcar com a imagem de polícia mau. Hollande ganhou porque saiu das negociações como o polícia bom e, mesmo forçado a aceitar o dano colateral (menor) de obrigar Syriza e Grécia a meter o socialismo na gaveta (até ver), atingiu o seu objectivo de conservar o destino da Alemanha preso ao da França. Quanto à União Europeia e, em particular, à Zona Euro, aparentemente ganhou (oxalá), provavelmente perdeu.
1. Por motivos históricos, culturais, geopolíticos e, acima de tudo, porque a maioria dos gregos ainda o parece desejar, seria importante que a Grécia permanecesse na Zona Euro. Infelizmente, a acção do governo grego ao longo dos últimos meses tornou-o difícil, se não impossível. Primeiro, porque agravou significativamente a situação económica e financeira do país, fazendo com que este necessite hoje de muito mais dinheiro do que necessitava em Janeiro. Depois porque, sendo já por si difícil acreditar que um governo eleito com base em promessas de aumento de despesa pública levaria a cabo as reformas eternamente adiadas no sentido da liberalização da economia, destruiu todos os laços de confiança que poderiam garantir-lhe boa vontade junto dos governos e das populações dos restantes países europeus. Pior ainda: não é de excluir que, ao fazê-lo, tenha tornado mais difícil para qualquer outro estado-membro obter compreensão e flexibilidade nos próximos anos.
2. Na Grécia como noutros países, os riscos ligados às tensões sociais e aos partidos extremistas – quase inevitáveis em tempos de dificuldades económicas – devem ser levados muito a sério. Mas isso não pode significar continuar a adiar os problemas. Ou as economias são reformadas no sentido da auto-sustentabilidade e da diminuição do nível de endividamento, o que significa austeridade, ou a situação acabará por rebentar, no plano financeiro, económico e social, de modo ainda mais grave. Em tempo de Keynesianistas, talvez seja conveniente lembrar Mises: There is no means of avoiding the final collapse of a boom brought about by credit expansion. The alternative is only whether the crisis should come sooner as a result of a voluntary abandonment of further credit expansion, or later as a final and total catastrophe of the currency system involved. Na verdade, pode já ser demasiado tarde.
Já se pode voltar a chamar «Troika» às «Instituições»?
E, claro, após cinco meses e meio em que o governo grego fez questão de piorar a situação das contas do país, aumentada em 53 ou 78 mil milhões de euros, existirão ainda mais motivos para considerar insustentável a dívida da Grécia.
Afinal o governo grego também pretende salvar bancos com dinheiro público. Mas, justiça seja feita, há uma diferença: foi o próprio governo que os conduziu ao limiar da falência.
A intervenção de Guy Verhofstadt no Parlamento Europeu esta manhã.
Austeridade.
1. O referendo na Grécia vincula o governo grego, não os restantes. Os gregos apenas têm legitimidade para decidir sobre o seu próprio orçamento. Não sobre o português, o espanhol, o alemão ou o eslovaco.
2. Mostrar solidariedade com a Grécia não é ajudá-la a manter as distorções que sempre lhe caracterizaram a economia (como, de resto, a Portugal). Não é dar-lhe o peixe (ainda que, provisoriamente, algum deva ser dado), é ensiná-la a pescar (como, de resto, a Portugal).
3. Se tal sucedesse, nunca mais seria possível convencer qualquer dos governos do Sul da Europa (começando pelo próprio grego) a efectuar reformas com um mínimo de dificuldade. Aberto o precedente, os referendos ou, onde constitucionalmente proibidos (em grande medida porque, colocadas perante a questão de pagar ou não pagar, as pessoas tendem a escolher não pagar), outras formas de manifestação de desagrado tratariam de o garantir. O resultado? A implosão da UE ou a sua transformação numa Venezuela com 500 milhões de pessoas, onde a riqueza hoje produzida seria rapidamente desbaratada. Outros blocos políticos e económicos agradeceriam. De resto, talvez não por acaso todos pressionam (sem que alguém os acuse de ingerência nos assuntos alheios) no sentido da Grécia obter as condições que pretende.
4. O incumprimento da Grécia teria efeitos potencialmente perigosos nas contas públicas dos restantes países (através dos fundos de apoio e da eventual necessidade de recapitalizar o BCE) mas ceder a uma chantagem feita por um governo com as políticas do governo grego (i.e., que nunca colocarão a Grécia a crescer de forma sustentada) apenas adia e agrava o problema. Sendo certo que as instituições europeias têm hoje mais instrumentos para lidar com a saída da Grécia do que há alguns anos, não é líquido que cheguem. Ironicamente, o alargamento de prazos de que a Grécia goza facilitará um pouco a tarefa, adiando a conta e distribuindo-a por mais anos. Mas o efeito de contágio não está afastado e este escalonamento não se aplica à dívida (do Estado e dos bancos gregos) ao BCE. Seja como for, se pode defender-se a tese de que teria sido preferível deixar cair a Grécia em 2010 ou 2012, em vez de continuar a emprestar-lhe dinheiro, mais difícil de entender é prosseguir na mesma via, sem existirem indícios que permitam acreditar que, dentro de dois ou três anos, a situação terá evoluído para melhor. Pelo contrário: tudo indica que a bola de neve aumentará de tamanho.
5. O próprio corte de 30% na dívida grega, como exigido por Tsipras, também teria custos para os cidadãos dos restantes países e, acima de tudo, feito desta forma, abriria a porta a outros perdões logo que a dívida atingisse patamares considerados «injustos» (imagine-se Iglesias como primeiro-ministro de Espanha, Berlusconi ou similar à frente de Itália, Le Pen na presidência francesa). A dada altura, este cenário confundir-se-ia com o de default total pois entrar-se-ia numa via de insustentabilidade. Chegaria também o momento em que os contribuintes e/ou depositantes seriam chamados a cobrir as perdas decorrentes do accionamento dos famosos CDS, ou seguros contra incumprimento (a dívida de Itália, de Espanha ou de França encontra-se essencialmente em mãos privadas), que têm potencial para arrasar muitas instituições de crédito.
6. Perdoar dívida a uns significa aumentar dívida a outros. E, mesmo no caso dos credores serem privados, toda a gente acaba atingida.
7. Muitos na esquerda sabem isto. (O governo grego joga com isto.) Mas que melhor forma de tentar fazer implodir o sistema capitalista, mantendo a retórica de que foi ele próprio o causador da queda? (A acontecer - ver-se-á então o que é recuar dezenas de anos em termos de rendimento disponível -, tê-lo-á sido em parte; governos irresponsáveis fizeram o resto.)
8. A situação actual valida a posição dos que, um pouco por toda a Europa, receavam que a compatibilidade entre uma moeda assente na responsabilidade (como as do Norte da Europa tendiam a ser) e políticas centradas na demagogia (como as do Sul da Europa quase sempre foram) se revelasse impossível. Poucos terão hoje mais razões para dizer "bem vos dissemos" do que os cépticos que, na Alemanha, contestaram o abandono do marco. A Alemanha cedeu porque desejava apoio político para a reunificação e a França exigia o euro, invejosa que sempre esteve da força do marco e incapaz de perceber o que ele implicava em termos de contas e políticas públicas. Ilusões da França (e de Espanha, Itália, Portugal e Grécia), ingenuidade da Alemanha (e da Holanda, Áustria, Finlândia e - quão estranho é escrevê-lo - Irlanda). Moral da história: por norma, é preferível considerar como correctos os melhores cenários dos pessimistas - e não misturar mundos incompatíveis.
(Fotografia: Alamy Alamy / Alamy, recolhida no Bing.)
Eurocépticos espalhados pela UE ficaram em júbilo com a rejeição do que Marine Le Pen, a líder do partido de extrema direita francês Frente Nacional, chamou "a oligarquia da União Europeia".
"É um voto "não" de liberdade, de rebelião contra os 'diktats' europeus daqueles que querem impor a moeda única a qualquer preço, através da mais inumana e contraproducente austeridade", afirmou ela em comunicado.
Na Grã-Bretanha, Nigel Farage, líder do partido UK Independence Party, anti-EU, elogiou os eleitores gregos por "desafiarem o bluff da UE".
"O projecto da UE está a morrer. É fantástico ver a coragem do povo grego em face do bullying político e económico de Bruxelas", disse ele.
Eurocépticos na Holanda e na Itália juntaram-se ao coro de satisfação com a derrota da UE. Em Espanha, o líder do partido de extrema-esquerda Podemos, Pablo Iglesias, próximo de Tsipras, tuítou: "Hoje na Grécia, a democracia venceu".
Top Syriza officials say they are considering drastic steps to boost liquidity and shore up the banking system, should the ECB refuse to give the country enough breathing room for a fresh talks.
"If necessary, we will issue parallel liquidity and California-style IOU's, in an electronic form. We should have done it a week ago," said Yanis Varoufakis, the finance minister.
California issued temporary coupons to pay bills to contractors when liquidity seized up after the Lehman crisis in 2008. Mr Varoufakis insists that this is not be a prelude to Grexit but a legal action within the inviolable sanctity of monetary union.
[...]
Syriza sources say the Greek ministry of finance is examining options to take direct control of the banking system if need be rather than accept a draconian seizure of depositor savings - reportedly a 'bail-in' above a threshhold of €8,000 - and to prevent any banks being shut down on the orders of the ECB.
Government officials recognize that this would lead to an unprecedented rift with the EU authorities. But Syriza's attitude at this stage is that their only defence against a hegemonic power is to fight guerrilla warfare.
Hardliners within the party - though not Mr Varoufakis - are demanding the head of governor Stournaras, a holdover appointee from the past conservative government.
They want a new team installed, one that is willing to draw on the central bank's secret reserves, and to take the provocative step in extremis of creating euros.
"The first thing we must do is take away the keys to his office. We have to restore stability to the system, with or without the help of the ECB. We have the capacity to print €20 notes," said one.
Alguém terá de limpar a π€Ω&@ que o governo grego fez nos últimos meses.
A Grécia entrou no Euro em 2001. Desde essa altura, teve um crescimento imparável.
Varoufakis afastou a possibilidade de um referendo aos termos do acordo dizendo que seria efectivamente um voto à manutenção do euro como moeda.
«Seria injusto para os cidadãos gregos terem de tomar uma posição sobre o assunto, respondendo com um sim ou um não», disse ele.
Falando acerca disto após o Eurogrupo, o loquaz ministro das finanças da Grécia, Yannis Varoufakis, tombou em incoerências. A recusa dos ministros em aprovar uma extensão do programa, disse ele, causou «danos permanentes à credibilidade da UE». Porquê? Porque havia uma «muito elevada probabilidade» de que os gregos ignorassem o governo e aprovassem a proposta dos credores. A Grécia, parecia estar a argumentar o Sr. Varoufakis, merecia ainda mais uma extensão do programa para dar tempo ao governo para aconselhar os eleitores a rejeitar os seus termos porque esse conselho poderia bem ser rejeitado.
O referendo constituiria uma opção razoável se realizado antes do final de Junho. Para que tal fosse possível, o governo grego não poderia ter queimado meses em manobras dilatórias. Mais: considerando o apelo ao voto no «não» por parte do Syriza, seria de toda a conveniência garantir uma margem de várias semanas, uma vez que a vitória do «sim» deixaria o governo numa posição insustentável, podendo ser necessário realizar eleições antecipadas.
Agora tudo se precipita e, a menos de um golpe de teatro de último instante, o referendo nem sequer faz sentido (no próximo domingo, a proposta terá perdido a validade). Como, de resto, a análise acima também pode não fazer - porque é bem possível que Tsipras tenha conseguido o seu verdadeiro objectivo: retirar a Grécia da zona euro sem, junto dos seus cidadãos e de ingénuos espalhados um pouco por toda a Europa, parecer ter manobrado para o fazer. Caso em que restará dar-lhe os parabéns por um trabalho bem feito.
«O diálogo com o governo grego tem que ser feito com adultos na sala.»
Christine Lagarde, há minutos, na conferência de imprensa após a reunião do Eurogrupo.
2. Assistir à valorização do euro;
3. Trocar os euros disponíveis por dólares (ou recolher os benefícios de apostas no mercado de futuros);
4. Aguardar enquanto os desmentidos e a passagem do tempo mostram a falsidade da notícia;
5. Assistir à desvalorização do euro;
6. Trocar os dólares por euros (ou recolher os benefícios de apostas no mercado de futuros);
7. Voltar a 1.
Considere as seguintes previsões para a variação do PIB da Grécia em 2015:
A. O governo grego (que - tenha em atenção - é diferente para melhor de todos os outros, com excepção do cubano e do venezuelano):
1. Devia acreditar mais nas suas capacidades.
2. Embora não o possa admitir, sabe que as perspectivas de crescimento pioraram desde que tomou conta da situação e está a ser realista.
3. Na linha de tantos governos acusados de apresentarem números fantasiosos, está ainda assim a ser optimista.
4. Não faz ideia do que está a fazer nem do que vai acontecer.
1. Acima de 3% (a austeridade era o problema e a Merkel cederá em toda a linha).
2. Entre 2% e 3%, como previam as instituições internacionais (o Syriza tem estilo mas é irrelevante).
3. Entre 1,4% e 2% (Varoufakis é ainda melhor do que pensa ser).
4. Exactamente 1,4% (Varoufakis é infalível).
5. Entre 0% e 1,4% (a teimosia da União Europeia tem custos).
6. Entre -1 e 0% (a teimosia da União Europeia e do BCE tem custos).
7. Mais negativa do que a temperatura média em Murmansk durante o mês de Janeiro (a Grécia liberta-se do euro e adopta um novo dracma, ligado ao rublo).
C. Elabore um texto com não mais de dez linhas sobre a hipótese de Varoufakis chegar um dia a líder do FMI.
(*) São mais 70 (ou 30%) do que no português. A Grécia tem mais um milhão de habitantes (ou 10%) do que Portugal.
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