Mas Génova tem ainda outros monumentos interessantes, como a catedral San Lorenzo, e tem também uma das maiores zonas históricas da Europa, constituída por um emaranhado de ruas estreitas e pitorescas. Por que não é então um destino turístico tão importante como outras cidades italianas? Em grande medida, porque ruas estreitas não conseguem rivalizar com palácios e catedrais (na eterna luta entre cidades italianas, neste tempo em que o turismo é o Santo Graal de qualquer região, a derrota de Génova foi decidida há quinhentos anos). Mas também porque, independentemente da existência de catedrais ou palácios (e, volto a realçar, Génova possui exemplares de umas e outros), o centro histórico de Génova não parece um destino turístico. Os centros históricos de Florença, Pisa e Siena parecem destinos turísticos. Os centros históricos de quase todas as cidades espanholas parecem destinos turísticos. Os centros históricos de Braga e de Guimarães parecem destinos turísticos. As ruas e os canais de Veneza são o expoente máximo de como um centro histórico pode parecer um destino turístico. O centro histórico de Génova, pelo contrário, é um sítio onde pessoas – e pessoas não especialmente organizadas ou cuidadosas – parecem viver.
Onde quero chegar? Na ânsia de atrair turistas, as cidades, e em especial as zonas históricas das cidades, são hoje pouco mais do que museus ao ar livre: em vez de quadros e estátuas, expõem edifícios retocados para parecerem mais bonitos; em vez de uma loja de souvenirs, têm centenas; em vez de se pagar um bilhete para entrar, pagam-se preços inflacionados nas bebidas, refeições e alojamento. São, em muitos casos, locais com muito pouca vida para além da que depende do turismo. São zonas arranjadinhas, limpas, assépticas. Há um par de anos, parado no Cais de Gaia, fui interpelado por um espanhol. Queria saber qualquer coisa, já não me lembro o quê, mas depois continuou a falar e ao fim de minutos estava a dizer-me que a Ribeira, do outro lado, devia ter os prédios mais bem arranjados e que devia haver mais hotéis junto ao rio e outras coisas que também já não recordo. Nem me dei ao trabalho de discordar porque é inútil fazê-lo: mais do que cidades vivas, a maioria das pessoas deseja cenários perfeitos. É a minoria capaz de apreciar um mínimo de realismo (e, como é óbvio, não estou a defender que se facilite a degradação) que apreciará as ruas estreitas e escuras, nem sempre limpas, nem sempre bem cheirosas, nem sempre bem frequentadas, e os edifícios com pintura degradada dos bairros da Ribeira, da Sé ou de Miragaia, no Porto. Ou as ruas do centro histórico de Génova. Onde, descontada a profusão de anúncios luminosos e de cabos eléctricos pendurados, se consegue mais facilmente imaginar como seria a vida há quatrocentos ou quinhentos anos do que nas ruas inegavelmente mais bonitas de muitas outras cidades.
Mas afinal eu também não permaneço em Génova mais do que algumas horas antes de seguir para Pisa e Florença.
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