Anteontem, Francisco Louçã escandalizava-se nas TVs contra os «especuladores» que fazem subir os juros da dívida nacional. Explicava, naquela voz de inquebrantáveis certezas e indisfarçado ultraje, que na emissão desse mesmo dia eles haviam ganho não sei quantos milhões de euros à conta do elevado nível de juros exigido pelo «mercado» ao governo português. Ou Louçã não percebe o conceito de adequar o preço ao risco, seguido por qualquer instituição financeira (o que seria estranho, sendo ele um economista academicamente brilhante), ou está a defender que ele deixe de ser aplicado e que o custo de contraír um empréstimo ou de fazer um seguro seja igual para toda a gente, independentemente dos factores de risco. Afinal, é inteiramente verdade que, actualmente, se um jovem que acabou de tirar a carta não tiver acidentes durante o primeiro ano de condução, a sua seguradora lucrará mais com ele do que com um cliente com a carta há dez ou vinte anos e também sem acidentes nesse ano. E o mesmo se pode dizer em relação a outros seguros, ou ao crédito bancário, ou até, de certa forma, a tudo o que implique avaliação de riscos (por que é que a lei exige maior nível de protecção – e, por conseguinte, custos mais elevados – a fábricas de produtos químicos perigosos do que ao café da esquina?). Mas talvez as associações de bancos e de seguradoras – nacionais e internacionais – devessem solicitar ao Dr. Louçã uma tabela com as taxas justas a cobrar em cada produto. Estou convencido que ele não teria dificuldades em defini-las.
Louçã é um enigma por trás de uma evidência. Como ele faz questão de mostrar apenas a evidência (com uma ou outra excepção controlada, como o recente artigo do Público sobre a sua excelente biblioteca), ficar-me-ei por ela. Louçã é o homem perfeito. Alto, magro, inteligente, bom orador, aparentemente liberal (nos costumes, sosseguem os fãs), com uma carreira académica brilhante, é portador de uma enorme série de opiniões que, no instante em que lhe saem da boca, se transmutam em dogmas. Pode possuir 6000 livros (ah, os exageros da propriedade privada) mas, sendo quem é, lê-os não para aprender coisas novas mas para confirmar ideias. Como sucede com Jerónimo e – pelo menos no discurso – com Sócrates, elas não estão expostas à mudança (apenas a direita – esse campo ideológico extremista – parece aceitar que alterações de contexto podem originar mudanças de opinião). Na verdade, Sócrates é Primeiro-Ministro e Louçã apenas líder de um pequeno partido mas, exceptuando esse detalhe, Louçã é tudo o que Sócrates gostaria de ser.
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