como sobreviver submerso.

Sábado, 22 de Abril de 2017
Mélenchon ou o populismo que não costuma receber tal designação

Simpatia para com Putin. Desejo de aderir à Aliança Bolivariana, onde pontificam regimes como o de Cuba e o da Venezuela. Abandonar a NATO. Alterar os tratados que regem o euro. Estabelecer um «novo papel» para o BCE. «Libertar» as finanças públicas das «garras» dos mercados financeiros. Criar um «Fundo Europeu de Desenvolvimento Social» para a «expansão dos serviços públicos, do emprego e das qualificações». Aumentar o salário mínimo em 15% (para os 1700 euros). Fixar o tempo de trabalho nas 35 horas semanais e limitar as horas extraordinárias («sob controlo de representantes dos trabalhadores»). Instaurar tectos salariais. Aumentar o poder dos trabalhadores nas empresas e dos cidadãos nas instituições bancárias. Fixar a idade da reforma nos 60 anos, com pagamento integral das pensões. Integrar 800 mil precários na Função Pública. Implementar um plano contra a «especulação imobiliária». Congelar as rendas. Construir 200 mil habitações sociais. Criar um «estatuto social» para os jovens, remunerando-os em situações como a procura do primeiro emprego. Nacionalizar empresas, com enfoque nas do sector sector energético (e.g., Total). Criar «pólos» públicos de produção em vários sectores (energia, banca, medicamentos, ...).

E por aí fora.


publicado por José António Abreu às 23:12
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Segunda-feira, 28 de Novembro de 2016
França e o futuro da UE
A nomeação de François Fillon como candidato do centro-direita às eleições presidenciais francesas abre perspectivas interessantes. Se, como tudo parece indicar, for ele a defrontar Marine Le Pen na segunda volta, não apenas a eleição de Le Pen ficará quase impossível (por muito que a faceta social-conservadora de Fillon desagrade à esquerda «progressista», ele constituirá sempre um mal menor) como, qualquer que seja o vencedor, ficam garantidas mudanças fundamentais na política francesa – e, por arrasto, na europeia. É sabido que uma vitória de Le Pen conduziria a França para fora do euro e da UE, provocando o colapso desta. Mas uma vitória de Fillon garantirá uma alteração fundamental no balanço de forças entre os países que defendem e aplicam reformas estruturais e os países que, na prática, se lhe opõem. Fillon defende cortes no Estado e uma economia baseada na iniciativa privada e nas exportações. Num país como França, não é líquido que consiga fazer tudo o que pretende. No mínimo, enfrentará enorme contestação dos grupos que se alimentam do Estado. Mas terá o peso da estagnação francesa a seu favor (muita gente sabe que algo tem de ser feito) e uma legitimidade dupla: a conferida pela eleições e a decorrente da clareza, verdadeiramente admirável, com que tem exposto as suas ideias. Ora uma França reformista (honestamente, parece um oxímoro) estará muito mais alinhada com a Alemanha e tornará a União Europeia muito menos condescendente para com países que preferem ir arrastando os pés. Convinha que estes se preparassem – para qualquer dos cenários.


publicado por José António Abreu às 12:39
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Quinta-feira, 8 de Janeiro de 2015
Submissão e luta

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O novo livro de Michel Houellebecq, Soumission (tradução de «Islão») acabou de chegar às livrarias mas é discutido pela intelligentsia francesa há várias semanas. Nele, com o apoio de PSF e UMP, o candidato de um imaginário partido muçulmano (a Fraternidade Muçulmana) derrota Marine Le Pen na segunda volta das eleições presidenciais de 2022 e começa a implementar um regime patriarcal baseado na religião que (porque as mulheres são empurradas de volta às tarefas domésticas) até faz diminuir a taxa de desemprego. Houellebecq defende a plausibilidade do aparecimento de um partido assim com o facto da maioria dos muçulmanos (já cerca de 10% da população francesa) não se identificarem com os existentes: os valores tradicionais do Islamismo afastam-nos da esquerda enquanto a política económica e de imigração os afastam da direita.

Houellebecq é um polemista formidável, que admite desprezar o Islamismo (despreza um pouco menos o Cristianismo e o Judaísmo apenas porque atribui valor literário à bíblia) mas também é alguém que toca frequentemente em assuntos que mereciam discussão menos entrincheirada do que a permitida pela força castradora do politicamente correcto. No livro anterior, apresentava uma França – e uma Europa – dependente do turismo, museu a céu aberto completamente irrelevante na cena mundial - uma visão que se vem tornando cada vez menos irrealista. Para além de temas habituais na ficção literária (as desilusões associadas ao processo de envelhecimento, por exemplo), é possível encontrar nas suas obras, bem como em algumas das suas entrevistas, uma preocupação (à primeira vista curiosa, em alguém que parece acreditar em tão pouco) com a barbárie a que a progressiva substituição de valores partilhados e intangíveis pela apatia, pelo individualismo e pelo medo de ficar mal visto pode conduzir a sociedade europeia. De resto, é esta perda de valores que justifica outro tema recorrente do francês: o carácter cada vez mais utópico das relações amorosas duradouras, baseadas em monogamia sexual, que tradicionalmente estruturavam a sociedade. Num toque irónico, o cenário apresentado em Soumission, de progressiva conversão ao Islamismo da sociedade francesa (sendo que a conversão - ou, mais propriamente, a resignação – de ateus e agnósticos parece fácil de conseguir porque os movem valores práticos, materiais), resolve essa questão, pelo menos a um nível superficial.

Como seria de esperar, Houellebecq tem estado debaixo de fogo da Esquerda desde que o tema do livro foi anunciado. E, contudo, numa época em que alemães protestam contra o aumento do número de muçulmanos e em que Paris limpa das ruas o sangue derramado por atentados em nome do Islão, chegou mesmo a altura de debater estas questões. Altura de assumir que estamos perante um choque de civilizações (em muitos apectos, entre a barbárie e a civilização ou entre a Idade Média e a Modernidade) e não apenas de efeitos da pobreza ou de complexos de inferioridade, como frequentemente se afadigam a explicar certas mentes oportunistas, mais preocupadas em justificar as acções daqueles que combatem os valores que afirmam defender do que em defendê-los efectivamente. Altura de procurar mitigar o risco, sem cair no tipo de medidas que configurariam capitulação. Acima de tudo, altura de afastar a apatia e de reforçar os valores que definem aquilo que a Europa aprendeu a representar nas últimas sete décadas – os mesmos valores que, adicionados a um nível de bem-estar económico ainda muito superior à média, a continuam a fazer atractiva para milhares de imigrantes: tolerância e liberdade. É imperativo descobrir a forma de, com eles, se possível através deles, combater todos os que praticam a intolerância e advogam a submissão. As manifestações de ontem foram um bom indício. Não bastam, porém. Mais importante é garantir diariamente o direito à crítica, à irreverência, ao mau-gosto. Não tergiversar e chamar a atenção de todos os que costumam fazê-lo, incluindo muitos líderes das comunidades islâmicas: um cartoon nunca justifica violência, uma opinião, por insultuosa que seja, nunca justifica ameaças e atentados. Quando Houellebecq afirmou que o Islamismo era a religião mais estúpida, foi processado por grupos de muçulmanos franceses. Seja. Os tribunais também existem para isso. E para decidir – como decidiram – que a opinião é livre.

Acima de tudo, é preciso demonstrar que a mesma liberdade individual que terá desempenhado um papel no desvanecimento dos tais valores intangíveis (ninguém é condenado à fogueira por recusar Deus, as mulheres podem ser independentes, etc., etc.) é, em si mesma, suficientemente forte e agregadora. Deixar claro que, com ou sem atentados, fazemos questão de viver normalmente num certo estilo de sociedade. Embora – convém referi-lo – não haja insulto superior a esse.

 

Nota: Ainda não li Soumission mas apenas vários textos sobre ele.



publicado por José António Abreu às 23:44
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Terça-feira, 16 de Dezembro de 2014
Consumo
Em França, o plano de reformas do ministro da Economia está debaixo de fogo. Como seria de esperar, entre os mais críticos contam-se inúmeros socialistas. Martine Aubry, presidente da Câmara de Lille, escreveu um artigo no Le Monde atacando a ideia de permitir a abertura do comércio durante 12 domingos por ano, em vez dos actuais 5. Pergunta ela: Queremos fazer do consumo - ainda mais do que hoje - o alfa e ómega da nossa sociedade? A esquerda não tem mais a propor como organização da vida do que o passeio dominical ao centro comercial e a acumulação de bens de grande consumo? (Tradução minha.)

É sempre enternecedor ver gente defendendo a imposição de comportamentos saudáveis, protegendo as massas da irresistível pulsão para a mediocridade que, sem regras definidas por espíritos mais elevados, as tende a dominar. Aubry talvez devesse perguntar aos 10% de desempregados franceses se preferem continuar nessa condição ou obter uma hipótese extra de arranjar emprego, ainda que correndo o risco de ele abranger alguns domingos por ano, mas, para paladinos do mundo como ele devia ser, esta é uma questão que nem se coloca. Para estas pessoas, o desemprego não se combate criando empregos imperfeitos. (Que eu não conheça outro género só pode constituir uma falha na minha experiência de vida.) E se é verdade que um aumento de 7 domingos por ano não diminuiria significativamente a taxa de desemprego, suponho que permitir o trabalho em 22, 32, 42 ou - gasp - 52 seria ainda mais inaceitável.

Seja como for, a presunção nem é o aspecto mais curioso de tudo isto (já se sabe: os socialistas adoram tomar decisões pelos outros). O mais curioso é haver gente (quase invariavelmente de esquerda, quase invariavelmente com capacidade de consumo muito acima da média) que contesta esta terrível sociedade consumista mas também exige o estímulo da economia através de políticas de incentivo ao consumo. Decididamente, a lógica é uma batata. Subsidiada pela PAC.



publicado por José António Abreu às 10:04
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Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2014
O declínio francês

Aviso prévio: No texto que se segue não será abordada a vida amorosa de qualquer presidente francês, por muito normal que seja este e anormal que seja aquela. Em contrapartida, o texto inclui muitas percentagens.

 

Durante séculos, o Portugal que se imaginava culto ambicionava ser francês. França era o exemplo e a inspiração. Hoje somos bastante mais influenciados pelo universo anglo-saxónico mas a velha ligação ainda tem consequências. Já mencionei isto no blogue um par de vezes mas repito-o: num debate das últimas eleições presidenciais francesas, Hollande referia a cada cinco minutos como a França perdera terreno para a Alemanha; a certa altura, Sarkozy atirou-lhe: «Mas a Alemanha fez há dez anos aquilo que o senhor ainda recusa que se faça em França.» Bingo. Nem por isso Sarkozy venceu as eleições. E, como seria de esperar, desde a eleição de Hollande a França continuou basicamente a fazer o oposto do que a Alemanha fez há mais de uma dúzia de anos (e do que os países nórdicos fizeram há cerca de uma vintena). Os resultados? Comecemos por um número curioso. Se olharmos apenas para o PIB, pouco mudou. Em 2001, o PIB francês representava 73,6% do PIB alemão. Em 2012 (último ano do qual existem estatísticas razoavelmente definitivas), mantinha-se nos 73,1% (com uma ligeira vantagem de oito décimas para o lado da Alemanha, ambos cresceram cerca de 12% nesses onze anos). Por trás do crescimento quase igual, há no entanto diferenças enormes na evolução da competitividade das duas economias. Tome-se o sector automóvel como exemplo. Em 2001, a Renault tinha acabado de comprar uma posição maioritária na Nissan e o grupo PSA começava a multiplicar gamas. Actualmente, a Renault compensa prejuízos com os lucros da Nissan (e da Dacia) e a PSA procura desesperadamente convencer o grupo chinês Dongfeng de que seria um cônjuge útil e leal. Em 2001, na Alemanha que ainda suportava os custos da reunificação e começava a reformar as leis laborais e o sistema de segurança social, BMW e Daimler iam-se apercebendo de que teriam de abandonar a ideia de tornar lucrativas Rover e Chrysler, respectivamente. Hoje, as marcas alemãs dominam a Europa e o objectivo do grupo VAG de atingir o número um mundial em 2018 parece não apenas realista como inevitável. Mas talvez seja preferível que nos concentremos nas estatísticas. Em 2001, a partir de uma população representando 72,0% da população alemã, as exportações francesas de bens e serviços representavam 61,1% das exportações alemãs. Em 2012, tendo a população – que aumentou em França e diminuiu ligeiramente na Alemanha – passado para os 77,4% da população alemã, limitavam-se a 46,8% (se excluirmos os serviços, a evolução é ainda mais reveladora: de 56,6% para 40,4%). No que a volume de exportações diz respeito, Hollande poderá até reclamar um prémio (e, se quiser ser justo, partilhá-lo com o antecessor) pela anedota fonética de ter visto a França ser ultrapassada pela Holanda, um país com 26,4% da população francesa. (Por habitante, a Holanda consegue a proeza de exportar mais do dobro da Alemanha: 47,1 versus 20,4 mil dólares, quedando-se a França pelos 12,3 – e Portugal pelos 7,8.) Sem surpresas, a taxa de desemprego acompanhou estes números. Em 2001, era de 8,2% em França e de 7,9% na Alemanha; em 2012, subira para 10,3% em França e descera para 5,5% na Alemanha. Tudo isto – será conveniente relembrar – quando, em percentagem, o PIB francês subiu sensivelmente o mesmo que o alemão (ou que o holandês) nos onze anos desde o fim do euro. Ou seja, a economia francesa, antes ligeiramente menos competitiva do que a alemã, fechou-se sobre si mesma, derivou para sectores não exportadores e em grande medida apoiou-se no Estado (percentualmente, a despesa pública francesa é a mais elevada da zona Euro; entre 2001 e 2012, subiu de 51,7 para 56,7% do PIB enquanto a alemã desceu de 47,6 para 44,7%). No fundo, salvaguardando a diferença de escala, que a torna too big to fail (escrever isto em inglês é provocação suplementar), a França tem exactamente o mesmo tipo de problemas e a mesma mentalidade vigente que Portugal. Permanecer agarrado à ideia da defesa do Estado Social, em vez de o defender efectiva e realisticamente, dá nisto. E as velhas influências demoram a morrer.

Notas

1. Encontra-se implícito mas, de modo a que não restem dúvidas, acrescente-se que dificilmente se poderá culpar o euro pela totalidade dos problemas franceses. As situações de partida não eram assim tão diferentes.

2. Nas exportações, o problema de Portugal nem foi de ter registado uma queda – no período 2001-2012 desceram de 5,0% para 4,9% das alemãs – mas de serem demasiado baixas logo à partida e não ter conseguido fazê-las subir pelo menos ao ritmo da Holanda.

3. Dos quatro países constantes dos gráficos, França e Portugal foram os únicos que nunca apresentaram receitas superiores às despesas durante os vinte e dois anos considerados e foram também os que mais fizeram crescer a diferença entre umas e outras na sequência da crise de 2008 (ver gráfico abaixo).

4. Certas más-línguas poderiam apontar como factor-chave na diferença de capacidade de reforma entre França e Alemanha o facto de, em 2001 como hoje, a fatia da população dependente do Estado (ver despesa pública em relação ao PIB) ser maior em França. Acrescentariam (as tais más-línguas) que os privados protestam menos, têm sindicatos mais disponíveis para estabelecer compromissos e dificilmente conseguem paralisar o país em que vivem.

5. Hollande promete agora aumentar a competitividade da economia francesa através de um alívio da carga fiscal recaindo sobre as empresas, a ser compensado por cortes de cinquenta mil milhões de euros na despesa pública. Veremos se a medida avança. Prova da falta de juízo que grassa em França (e da importância excessiva das aparências que grassa um pouco por todo o lado) é a intenção de criar uma comissão pública para avaliar se as empresas não estão a abusar da benesse.

6. Como os dados das exportações de vários países revelam e ainda que se desconte o efeito da valorização do euro, o tremendo pessimismo que muitos europeus mostram perante os resultados da globalização é exagerado. Sendo difícil, pode continuar-se competitivo pagando salários altos (mesmo em sectores onde tal pareceria improvável; exemplo: mais de 20% das exportações dinamarquesas de bens vêm do sector agro-pecuário). Já o peso do Estado (e, por conseguinte, das prestações sociais pagas por este) não pode continuar a subir ao ritmo a que subiu nas últimas décadas, até por pressões demográficas que apenas uma gigantesca dose de imaginação permitirá atribuir aos chineses ou ao sistema financeiro.

Fontes: Organização Mundial do Comércio para os dados relativos às exportações, Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook Database, Outubro de 2013) para os restantes.

 

(Clicar nas imagens - e depois uma segunda vez - para aceder a versões maiores. O ano de 1991 foi escolhido para permitir obter um retrato da situação na época imediatamente após a reunificação alemã. A Base do FMI não inclui os dados da despesa e da dívida da Holanda para os anos anteriores a 1995.)



publicado por José António Abreu às 10:29
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Domingo, 6 de Maio de 2012
Dúvida

Vai Hollande fazer o contrário do que prometeu em campanha ou, contra todas as esperanças dos optimistas, estamos mesmo f*****s?



publicado por José António Abreu às 23:23
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Quarta-feira, 2 de Maio de 2012
Resumo da minha parte favorita

Hollande: «A economia francesa devia estar a crescer tanto como a alemã. Temos que convencer os alemães de que estão errados.»

 



publicado por José António Abreu às 21:56
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A minha primeira reacção ao debate em curso: François Hollande é simplesmente brilhante

Até consegue fazer com que Sarkozy pareça um tipo sensato.



publicado por José António Abreu às 20:55
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Sexta-feira, 6 de Abril de 2012
La folie continue

A viragem interessa sobretudo a Hollande, que se antecipou ao líder conservador, apresentando, na quarta-feira, 35 propostas que pretende cumprir no primeiro ano de mandato. "Os franceses querem decisões rápidas e concretas", disse o candidato socialista, comprometendo-se a rever a reforma das pensões aprovada por Sarkozy, a bloquear o aumento do preço dos combustíveis, a apoiar a criação de 150 mil postos de trabalho e a aprovar uma reforma fiscal, criando um taxa de 75 por cento para os rendimentos superiores a um milhão de euros.

No Público de hoje.

 

1. A esquerda continua sem perceber as regras da matemática.

2. A avaliar pelas sondagens, os eleitores continuam a gostar de promessas vãs.

3. Por que raio é que os socialistas prometem sempre 150 mil empregos?



publicado por José António Abreu às 18:50
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Quinta-feira, 4 de Junho de 2009
Portugal veut qu'on le prenne.

A revista Prospect traz este mês uma análise sobre a relação dos Franceses com o poder. Alguns pontos são quase directamente aplicáveis a Portugal, o que não surpreende considerando a influência que a cultura francesa teve entre nós durante séculos. Gostaria de abordar dois pontos: o aparente desejo de franceses e portugueses serem governados por uma figura dominadora e a percepção crescente de que os idealistas de 1968 se revelaram uma geração de hipócritas e egoístas.

 
Em povos habituados a depender do estado, como o português e o francês, o risco assusta. Não se passa o mesmo com outros povos. A The Economist da semana passada trazia um artigo que mostrava como nos EUA, apesar da tendência actual para guinar à esquerda, a maioria das pessoas continua a valorizar o risco e a desconfiar de um estado demasiado controlador. Nos países nórdicos, o estado providencia uma excelente rede de segurança mas, como se pode constatar pela excelência das empresas suecas ou finlandesas, há quem arrisque (talvez em parte por saber que a rede existe). Mas o caso mais preocupante para franceses, portugueses e outros europeus com as mesmas características são os países emergentes. Porque nestes as pessoas têm vivido com tão pouco que nada têm a perder. Arriscar é uma oportunidade, muito mais que um risco. A globalização assusta porque, com imperfeições ou sem elas, estilhaça o status-quo. Povos como o francês e o português, habituados a um ramerrame narcotizante mas tranquilo, entram em pânico e procuram quem os proteja. Figuras fortes, que falem grosso e pareçam dar garantias de que tudo se resolverá por si. Sarkozy, Sócrates e Cavaco são o que de momento se arranja, na falta de um Napoleão ou de um Salazar. Exagero? Repare-se nas semelhanças: como Napoleão, Sarkozy é baixo, hiperactivo e é tão mencionado pela política como pelas conquistas sexuais (o artigo da Prospect tem referências hilariantes à libido do presidente francês); Como Salazar (deixemos de lado a recente imagem de garanhão), Cavaco é alto, magro, austero. Sócrates não anda longe. Nenhum deles gosta de discordância e de debate. A Prospect inclui, logo no início do artigo, uma citação do ex-Primeiro-ministro Dominique de Villepin que não resisto a incluir aqui: “La France veut qu’on la prenne”. Desconfio que Portugal também. Há um desejo forte de ser subjugado em ambos os países.
 

O artigo aborda também, embora de raspão, a desilusão crescente com os políticos nascidos no pós-Maio de 68. Veja-se este parágrafo: "Much has been written about the generation of bourgeois intellectuals, known as les soixante-huitards, who led the student uprisings against de Gaulle’s stultified order. They fashioned the French political landscape, still run the media, and have lived off the fat of the land and squandered a thriving economy in the process. Once the heroes of a glamorous revolution, the soixante-huitard is increasingly perceived as a selfish, hypocritical gauche caviar (champagne socialist).” Aos políticos de 68 podemos em Portugal acrescentar os políticos do 25 de Abril de 74 e a análise fica perfeita.



publicado por José António Abreu às 08:37
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