como sobreviver submerso.

Quinta-feira, 23 de Abril de 2009
Salman Rushdie estará mesmo vivo?

Porque, a 14 de Fevereiro, passaram vinte anos desde que o Ayatollah Khomeini decretou a fatwa sobre o escritor Salman Rushdie, o número de Abril da revista Prospect traz um artigo sobre a evolução da liberdade criativa, analisada por Hanif Kureishi (que, saliente-se para os mais distraídos, é um escritor e argumentista com ascendência paquistanesa). Alguns excertos e comentários.

 
Acerca da polémica em torno da peça “My Beautiful Laundrette”, escrita, publicada e passada a filme antes da fatwa sobre Rushdie:
But the idea of victimhood not only proved highly seductive, it also helped to create strange bedfellows. “It was the first time that I remember the left and Muslim fundamentalists joining hands,” Kureishi recalls. “Islamic critics would say, ‘You’re saying we’re all homosexuals’ and ‘You shouldn’t wash dirty linen in public.’ And the left would say ‘You should be standing up for your community’ and ‘You should not attack minority communities.’”
Infelizmente, tanto uns como outros continuam a fazer isto diariamente. As comunidades islâmicas mais radicais insistem em ver ataques em todas as frases, imagens, filmes (lembram-se deste pedido de desculpas, exigido a Hollywood pelas autoridades iranianas há pouco mais de dois meses?) e atitudes. Na Europa e na América, a esquerda continua, em nome de ideias de respeito pelo outro (fiquemos pela hipótese benigna), a hipotecar a liberdade. O respeito é devido a todos mas não se pode permitir que quem não nos respeita nos imponha regras de discurso e comportamento. O politicamente correcto nasceu de boas intenções. Em excesso, torna-se perigoso. (Afinal, de boas intenções está o inferno cheio.) E quando a questão é liberdades duramente conquistadas ao longo dos últimos séculos (realce-se que quase sempre com participação fundamental da esquerda), o caso torna-se sério, assustador e deprimente.
 
Acerca da situação actual:
“The attacks on Rushdie showed that words can be dangerous. They also showed why critical thought is more important than ever, why blasphemy and immorality and insult need protection. But most people, most writers, want to keep their heads down, live a quiet life. They don’t want a bomb in the letterbox. They have succumbed to the fear.”
“Nobody,” Kureishi suggests, “would have the balls today to write The Satanic Verses, let alone publish it. Writing is now timid because writers are now terrified.”
Se calhar é natural. Os escritores são humanos. Os editores – que recusam publicar certas obras – também. Mas as consequências do medo são perigosas. E os políticos ocidentais – de direita, centro ou esquerda – não podem refugiar-se em declarações timoratas, versando apenas a necessidade de bom senso. Não podem colocar ao mesmo nível actos que deviam ser apenas alvo da censura individual daqueles que por eles se sentissem ofendidos, com actos de intolerância, de violência, e com tentativas de coarctar as liberdades alheias. Quando o fazem, ajudam a estreitar o espaço da liberdade. Claro que, considerando todos os meios de controlo sobre os cidadãos que os governos desses mesmos políticos têm vindo a implementar, é provável que a liberdade já não seja para eles uma prioridade. Mas essa questão fica para outra altura.
 
Outras intervenções sobre o assunto:
Tiago Moreira Ramalho em O Afilhado.
Pacheco Pereira (um dos que mais tem comentado sobre o assunto), no Abrupto, numa coluna publicada há 3 anos também no jornal Público, por altura da polémica sobre as caricaturas dinamarquesas.


publicado por José António Abreu às 19:38
link do post | comentar | favorito

dentro do escafandro.
pesquisar
 
Janeiro 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
18
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
29
30
31


à tona

Salman Rushdie estará mes...

reservas de oxigénio
tags

actualidade

antónio costa

blogues

cães e gatos

cinema

crise

das formas e cores

desporto

diário semifictício

divagações

douro

economia

eleições

empresas

europa

ficção

fotografia

fotos

governo

grécia

homens

humor

imagens pelas ruas

literatura

livros

metafísica do ciberespaço

mulheres

música

música recente

notícias

paisagens bucólicas

política

porto

portugal

ps

sócrates

televisão

viagens

vida

vídeos

todas as tags

favoritos

(2) Personagens de Romanc...

O avençado mental

Uma cripta em Praga

Escada rolante, elevador,...

Bisontes

Furgoneta

Trovoadas

A minha paixão por uma se...

Amor e malas de senhora

O orgasmo lírico

condutas submersas
subscrever feeds