como sobreviver submerso.

Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2010
Escrever
For whom am I writing this? For myself? I think not. I have no picture of myself reading it over at a later time, later time having become problematical. For some stranger, in the future, after I’m dead? I have no such ambitions, or no such hope.
Perhaps I write for no one. Perhaps for the same person children are writing for, when they scrawl their names in the snow.
Margaret Atwood, The Blind Assassin.
 
E nós, escrevinhadores de blogues? Para quem escrevemos? O «porquê» é mais fácil: inconsciência, tentativa de amenizar a insignificância e a mesquinhez da vida, receio do envelhecimento, da morte e do esquecimento. Tudo boas razões. Atwood outra vez, no mesmo livro:
 
Why is it we want so badly to memorialize ourselves? Even while we’re still alive. We wish to assert our existence, like dogs peeing on fire hydrants. We put on display our framed photographs, our parchment diplomas, our silver-plated cups; we monogram our linen, we carve our name on trees, we scrawl them on washroom walls. It’s all the same impulse. What do we hope from it? Applause, envy, respect? Or simply attention, of any kind we can get?
At the very least we want a witness. We can’t stand the idea of our own voices falling silent finally, like a radio running down.
 
Talvez possamos voltar agora ao «para quem». Escrevemos para quem quer que aceite testemunhar. Para pessoas que, não nos conhecendo, avaliarão apenas aquilo que lhes dissermos. Um blogue é uma oportunidade para mostrar quem achamos poder ser mas receamos não ser. Para mostrar que temos capacidades e opiniões. Para, ao abordar pormenores da vida pessoal, reinterpretar o passado e, não mudando um único facto, reescrever o presente. Para, sem mentir, ficcionar a verdade, permitindo-nos a sensação de ser um autor mas também uma personagem (ou seja, o criador e a criatura), sensação que nos eleva temporariamente (e ilusoriamente) à companhia dos autores que idolatramos (não será por acaso que lhes «roubamos» tanto: frases, poemas, canções) e das personagens que nos apaixonam. Escrever  escrever em blogues  é, como animais urinando na base das árvores, marcar um território. É dizer, mesmo quando não falamos de nós, «isto sou eu e valho a pena». Precisamos de quem acredite nisso. É para encontrar pessoas que acreditem que mantemos blogues (ou, na verdade, fazemos tantas outras coisas). Porque, se elas surgirem, talvez nós também acreditemos. 


publicado por José António Abreu às 19:05
link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Terça-feira, 29 de Setembro de 2009
Argumento suplementar

Ainda há pouco tempo, Poodle falou a Bunny sobre um engatatão de Portsdale que passou de macho a merdas depois de assistir a um espectáculo de Céline Dion. Simplesmente deixou de conseguir levantar o coiso. Contou a Poodle que era como tentar meter um canário morto numa fenda do multibanco. Por fim, acabou por pendurar as chuteiras e tornou-se jardineiro em Walberswick.

 

Nick Cave, in A Morte de Bunny Munro

Edição Alfaguara, tradução de José Couto Nogueira

 

(Nota: este é o primeiro post da "Operação Bunny Munro".)



publicado por José António Abreu às 13:10
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

dentro do escafandro.
pesquisar
 
Janeiro 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
18
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
29
30
31


à tona

Escrever

Argumento suplementar

5 comentários
2 comentários
reservas de oxigénio
tags

actualidade

antónio costa

blogues

cães e gatos

cinema

crise

das formas e cores

desporto

diário semifictício

divagações

douro

economia

eleições

empresas

europa

ficção

fotografia

fotos

governo

grécia

homens

humor

imagens pelas ruas

literatura

livros

metafísica do ciberespaço

mulheres

música

música recente

notícias

paisagens bucólicas

política

porto

portugal

ps

sócrates

televisão

viagens

vida

vídeos

todas as tags

favoritos

(2) Personagens de Romanc...

O avençado mental

Uma cripta em Praga

Escada rolante, elevador,...

Bisontes

Furgoneta

Trovoadas

A minha paixão por uma se...

Amor e malas de senhora

O orgasmo lírico

condutas submersas
subscrever feeds