como sobreviver submerso.

Quinta-feira, 11 de Junho de 2009
O partido pirata e os ladrões

The Pirate Party wants to fundamentally reform copyright law, get rid of the patent system, and ensure that citizens' rights to privacy are respected. With this agenda, and only this, we are making a bid for representation in the European and Swedish parliaments.

 

Com as linhas gerais apresentadas acima, o partido pirata sueco conseguiu 7,13% dos votos nas eleições europeias de domingo passado e elegeu um deputado. Por cá, li comentários de várias pessoas (por exemplo, no site da revista Blitz), garantindo que, existisse um partido similar em Portugal, votariam nele. Bom, talvez venham a ter oportunidade de o fazer, uma vez que parece que existe ou está em vias de existir. Isso não impede que, no meio de uma crise global (ou mesmo fora dela), achar que o motivo certo para conceder o voto a um determinado partido é este defender a total eliminação de patentes e a quase total eliminação dos direitos de autor, seja uma incrível demonstração de falta de contacto com a realidade. Os “piratas” não defendem um sistema político ou social específico, não têm uma visão da economia, não propõem soluções para os problemas dos sistemas de saúde, educação ou justiça, não se preocupam com a sustentabilidade da segurança social. Como eles próprios admitem (releiam a citação), o programa é apenas reformar os direitos de autor (abolindo-os ou, nos casos de utilização comercial, limitando-os a cinco anos), eliminar o sistema de patentes (propõem que o estado financie a investigação farmacêutica) e garantir o direito à privacidade (hurra!). Isto foi suficiente para que 225 915 suecos lhes dessem o voto. Por mais que tente evitá-lo, a palavra “idiotas” não pára de rodopiar dentro da minha cabeça.

 
Apesar da defesa do fim dos direitos de autor não equivaler à defesa ou realização de downloads ilegais, tanto o nome como o programa do partido pirata (que fala do acesso à cultura como se os direitos de autor fossem o único obstáculo a que as pessoas leiam mais ou ouçam mais música), como também os comentários que se lêem pela net, deixam subentendido que legalizar os downloads é uma das principais motivações. Acho irónico – e ridículo – que muitos rapazes e raparigas (alguns com quarenta ou cinquenta anos) recusem dar 10 ou 15 euros por um álbum de música (em suporte físico ou por download), que tem certamente uma margem de lucro mas cujo conteúdo exigiu o trabalho e a inspiração de muita gente (compositores, letristas, intérpretes, técnicos de som, designers, etc.), o uso de estúdios e de equipamento dispendioso (vão ver quanto custa uma guitarra eléctrica), para além de estar sujeito a impostos, mas estejam perfeitamente disponíveis para dar os mesmos 15 euros por uma t-shirt de má qualidade, fabricada na China, vendida à porta da sala de espectáculos onde a banda a quem roubaram a música dá um concerto. Não é por acaso que estatísticas mostram que muitos artistas estão a ganhar mais vendendo merchandising que discos. E também não é por acaso que o preço dos bilhetes para espectáculos ao vivo subiu acentuadamente na última década. O facto de Madonna (logo seguida por outros) ter deixado a editora tradicional que lhe lançou a maioria dos álbuns por uma empresa que tem como principal actividade a organização de espectáculos diz muito. Se os discos não dão dinheiro, é preciso ganhá-lo por outras vias. Claro que quem não é famoso pode ter dificuldade em encher as salas. E que o preço elevado dos ingressos suscita longas sequências de queixumes entre o desânimo e a raiva aos mesmos comentadores que, no site da Blitz, tanto se entusiasmaram com as ideias do partido pirata. Azar, meus caros. Um almoço nunca é de graça.
 
P.S. Muito a propósito, o Público tem um artigo sobre pirataria. Como se pode constatar por alguns argumentos (no texto e nos comentários), hoje em dia a ética é que é uma batata.


publicado por José António Abreu às 16:49
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Terça-feira, 9 de Junho de 2009
Análise comparativa.

«Tenho as minhas forças e tenho as minhas fraquezas. Sei que há coisas que faço bem e coisas que não faço tão bem. Aprendi que devemos estar sempre a aprender.»

Gordon Brown, primeiro-ministro britânico.
 

«Eu quero garantir aos portugueses que estes resultados em nada diminuem a determinação do PS para estar à altura das suas responsabilidades na governação do nosso país.» «Esta noite noite dá-nos apenas mais vontade, mais ânimo, e mais energia, para encararmos com determinação, as tarefas, que o partido socialista, tem pela frente.»

José Sócrates, primeiro-ministro português.

 

Nota: as vírgulas na segunda frase de Sócrates não são engano. Pede-se, aliás, que a frase seja lida fazendo pausas em cada uma delas.



publicado por José António Abreu às 19:43
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A verdadeira explicação.

No post anterior adiantei uma explicação para os resultados das eleições europeias terem dado vantagem aos partidos de direita, mesmo em países onde se encontram no poder. Lendo o que se tem escrito na net, tudo indica que é uma explicação demasiado optimista, se não totalmente ingénua.

 

De facto, a verdade parece ser que os partidos de direita ganharam por questões de nacionalismo, racismo e xenofobia. (Já quando a esquerda ganha, é por todas as razões certas.) Para além do atestado de menoridade que se passa aos eleitores, esta visão perpetua um mito que, por esta altura, devia ser apenas estudado em cursos de história política. Em termos que até um miúdo de três anos entenderia: esquerda - bom; direita - mau.

 

É verdade que alguns partidos europeus de direita têm defendido políticas mais restritivas em matéria de imigração e que Sarkozy tem feito campanha contra a integração da Turquia na UE. Até ver, nada disso é ilegítimo, como não o foi a oposição tonitruante da esquerda, assustada com o canalizador polaco, à directiva Bolkestein. Deixando de lado Berlusconi, que é um caso muito especial, alguém defende que a UMP de Sarkozy, a CDU de Merkel ou o partido conservador de Cameron são partidos de extrema-direita? E mesmo o PP espanhol, onde podem subsistir alguns tiques do Franquismo, já governou durante vários sem que tivesse ocorrido uma catástrofe política ou social (não fosse o atentado em Atocha, talvez ainda estivesse no poder).

 

Preocupante é sim o crescimento dos partidos de extrema-direita (por cá, o PND já conseguiu treze mil votos e na Holanda, um país com eleitores presumivelmente esclarecidos, a extrema-direita chegou aos 17%) e de extrema-esquerda (em Portugal, o PC e o Bloco atingiram mais de 21% e gozam da complacência geral). Esta fuga para os extremos é preocupante pelo que em si representa (ler post anterior) e porque os partidos moderados, de direita e de esquerda, podem tender a extremar posições (assumindo políticas securitárias à direita e políticas económicas e sociais suicidas à esquerda), numa tentativa de não deixar fugir votos para os extremos. Cabe-nos a todos, independentemente de nos considerarmos de direita ou de esquerda (e, felizmente, poucas pessoas são hoje ideologicamente "puras"), exigir que isso não aconteça. Mas convém não misturar tudo no mesmo saco.



publicado por José António Abreu às 08:21
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Segunda-feira, 8 de Junho de 2009
Os extremos da ilusão e o centro do pragmatismo.

As eleições de ontem parecem apresentar resultados razoavelmente consistentes a nível europeu: reforço dos partidos nos extremos do espectro político, tanto à direita como à esquerda, e mais forte penalização de partidos suportando governos de esquerda que de direita. O que justifica isto no meio de uma crise financeira, económica e social?

 
Tenho para mim que há três tipos de eleitores: os militantes, os que se recusam a aceitar a realidade e os pragmáticos. Os primeiros não contam para esta análise porque não mudam facilmente o sentido de voto (ou fazem-no apenas quando mudam de camisola). Analisar os outros dois grupos é mais interessante.
 
Parte da população – em Portugal como noutros países, à direita como à esquerda – não entende a existência de momentos de dificuldade. Quando eles chegam, recusa a realidade e refugia-se nos extremos do espectro político. Os partidos de extrema-direita garantem que é tudo uma questão de autoridade, de proibir a entrada de emigrantes que nos vêm roubar os empregos, de voltar a certos valores morais. Os de extrema-esquerda garantem que a culpa é dos ricos e que se pode combater eficazmente a crise combatendo-os a eles. Jogam também com questões menores mas publicitariamente eficazes – os chamados “temas fracturantes” – que lhes conferem uma imagem de modernidade cool e escondem a realidade dos anquilosados modelos governativos, económicos e sociais em que baseiam as suas ideologias. De um lado e do outro do espectro político cresce-se eleitoralmente.
 
Depois há uma mole de gente que (ainda?) sabe que tem que ser pragmática. E que, nestas eleições, deu vantagem aos partidos de direita. Porquê? Talvez porque sinta que estes também o são. Por muitas promessas impossíveis de cumprir que façam, tendem a esconder menos a realidade. Assumem que, tendo o mundo mudado, é preciso mudar algumas coisas. Correr riscos. Estes votantes podem estar irritados com os banqueiros mas sabem que não é com discursos grandiloquentes e hipócritas contra o capital que se resolve a situação (até porque a culpa não foi só dos banqueiros). Podem não gostar de sentir que os sistemas de protecção social estão sob pressão mas preferem soluções que garantam um mínimo que soluções insustentáveis a prazo. Podem apreciar muito do que o estado providencia mas sabem que os estados estão gordos e acomodados. São votantes que preferem o realismo de um Sarkozy dizendo-lhes que a solução passa por trabalhar mais ou, contra todas as expectativas, de uma Ferreira Leite afirmando que não há dinheiro para investimentos faraónicos sem retorno garantido.
 

Resta saber se os partidos de direita têm efectivamente respostas à altura e se as conseguem aplicar no clima actual, com uma esquerda vociferante, uma extrema-direita a erguer a cabeça e uma comunicação social maioritariamente adversa. Se não forem capazes de o fazer, ou se as soluções falharem, depressa perderão muitos destes votos. Talvez para os extremos.



publicado por José António Abreu às 10:45
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Domingo, 7 de Junho de 2009
Coisas que parecem em noite de eleições europeias.

Parece que nem a presença de Sócrates na campanha ajudou Vital.

 

Parece que a estrategiazinha descarada de Vital e Sócrates para ligar o PSD ao BPN fez ricochete.

 

Parece que, segundo Sócrates, estes resultados nada têm a ver com as legislativas. Parece que, em 2004, o PS tinha outra opinião.

 

Parece que realmente os comícios não são necessários.

 

Parece que o CDS continua a existir, contra todas as empresas de sondagens.
 

Parece que o PSD ganhou, contra todas as empresas de sondagens.

 

Parece que as empresas de sondagens consultam mais pessoas de esquerda que de direita; se calhar há mais gente de esquerda com telefone fixo.

 

Parece que a CDU está a ter dificuldades em engolir um aumento de votos.

 

Parece que o BE já se acha perto de ganhar à geral.

 

Parece que Paulo Portas está tão emocionado por os eleitores lhe terem dado mais quatro meses de vida suspensa como o Federer estava esta tarde depois de ganhar Roland Garros.

 

Parece que a crise internacional não é igualmente má para todos os governos.

 

Parece que, apesar das sondagens terem provado não valer grande coisa, é essencial apresentar uma referente às legislativas ainda durante a noite das europeias.

 

Parece que estas noites estão a acabar cada vez mais cedo.



publicado por José António Abreu às 22:24
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Já se pode deixar de culpar a praia.

Pelos elevados valores da abstenção nas eleições europeias (e também nas outras). Espero que possamos passar a culpar apenas quem efectivamente tem culpa: os políticos que desmotivam qualquer votante e os eleitores que acham mais importantes eleições para a presidência do clube de futebol da sua preferência que eleições para o parlamento europeu.



publicado por José António Abreu às 19:23
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Sábado, 6 de Junho de 2009
Cumprindo o dever de reflectir.

1.

Dia de reflexão antes das eleições europeias. A primeira reacção de qualquer mortal normal é estranhar a ideia. Mas, reflectindo, talvez se descortine alguma lógica. Nos tempos actuais, fala-se muito mas pensa-se pouco. E, tal como se preocupa em criar legislação para que nos seja mais difícil fumar ou comer pão com muito sal, o estado entende que, pelo menos nestes dias, devemos pensar. Por enquanto, é uma indicação. Um dia que nos oferecem para que o façamos. Mas, da mesma forma que se pondera tornar o voto obrigatório, não é de excluir que, no fututo, pensar possa vir a ser uma obrigação legal.

 

2.

Fartei-me de procurar no site da Comissão Nacional de Eleições e nos das empresas de sondagens mas não encontrei quaisquer dados sobre a percentagem de pessoas que efectivamente reflecte neste dia. É pena. Alguém devia encomendar um estudo. Que, aliás, se poderia estender a outras épocas. Um barómetro mensal, por exemplo.

 

3.

Diz-se que a praia pode afastar muitos eleitores das urnas, reforçando a abstenção. Por aqui, o tempo está apenas razoável. Ainda assim, pergunto-me quantos eleitores a preferirão - ou aos centros comerciais - ao dever cívico de reflectir.



publicado por José António Abreu às 12:29
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Terça-feira, 28 de Abril de 2009
A espinha de cherne ou Vital Moreira e o apoio a Durão.

Deve ser exasperante para uma mente tão brilhante ter que evitar responder a uma questão para a qual tem a resposta magnificamente estruturada debaixo da alvura da frondosa cabeleira. Lixado, pá.



publicado por José António Abreu às 08:22
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