como sobreviver submerso.

Segunda-feira, 10 de Novembro de 2014
Independências

catalunha.jpg

 

Seja qual for a posição que se tenha em relação à independência da Catalunha e à validade dos referendos em processos deste género (em especial, como o Pedro Correia salientou por alturas do realizado na Escócia, quando uma maioria pouco expressiva influenciada por uma realidade conjuntural pode forçar uma escolha sem retorno), convém não confundir as coisas: o que se passou ontem não foi um referendo; foi uma manifestação dos independentistas, a que mais de 60% dos potenciais votantes decidiu não comparecer. O governo de Madrid deve certamente reflectir sobre o facto de quase dois milhões de catalães se revelarem a favor da independência total e aceitar que o assunto tem raízes históricas demasiado profundas para ser empurrado para debaixo do tapete por via de preceitos constitucionais (se as Constituições tendem a garantir status quos frequentemente pouco saudáveis, usadas como grilhetas tornam-se obscenas) mas os independentistas deveriam fazer o mesmo sobre o facto, complementar e não menos significativo, de existirem cerca de quatro milhões que ou não se expressaram ou o fizeram defendendo alguma forma de ligação a Espanha. Desde logo, aceitando que decisões irreversíveis baseadas em questões de identidade cultural velhas de séculos não devem ser tomadas apressadamente, em época de crise económica - ou a questão da identidade cultural parecerá apenas um pretexto para conseguir mais dinheiro para a região; uma jardinice, digamos.



publicado por José António Abreu às 15:11
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Sexta-feira, 20 de Julho de 2012
Olé!
E agora, devo chamar a Valência (tão bonita e moderna, zona do porto renovada, um edifício de ópera magnífico, grande prémio de Fórmula 1, TGV e sei lá mais o quê) a Madeira da Espanha ou a Sicília da Espanha? O ponto positivo é que a hipótese que não escolher pode servir para designar a Catalunha.


publicado por José António Abreu às 17:16
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Quinta-feira, 19 de Abril de 2012
No me entiendo

Passo, no Cais de Gaia, por uma mulher segurando um telemóvel no ar, a câmara apontada à outra margem (não, não iria obter uma foto igual à que ilustra este texto, tirada às oito e tal de uma manhã de Outubro em que a cidade parecia não querer acordar). Algo não corre bem e ela começa a bater repetidamente no ecrã com a ponta do indicador direito. Suspira. Lamenta-se: «No me entiendo.» Afasto-me a pensar que é suposto o espanhol comum ter um amor-próprio tão grande quanto o do José Mourinho em dia de especial auto-satisfação e que, todavia, em situação idêntica qualquer português diria «Não entendo», acrescentando depois «esta»... hmmm, digamos «treta», que afinal isto nasce de uma cena ocorrida no Porto, onde toda a gente tem extremo cuidado em evitar o uso de terminologia que possa ferir susceptibilidades alheias. «Não entendo» admite tanto a falha própria (o telefone até é fácil de operar mas eu não o entendo) como a falha do equipamento (ou esta... hmmm, treta se passou ou então é absurdamente confusa). E todos sabemos em que versão pensa mais depressa um português (ainda que seja portuense). Mas «no me entiendo» centra a falha na pessoa. É a mim próprio que eu não entendo. É como dizer: hombre (ou, neste caso, mujer), qé isto diebe ser muy fácil (el materiale tiene siempre razón) e io é que soy tapadito (ou, neste caso, tapadita). O que nos obriga a considerar uma hipótese chocante: a de os espanhóis estarem tão à vontade para se questionarem por falhas que muitas vezes, analisada bem a questão, nem lhes podem ser imputadas que até integraram essa possibilidade na sintaxe das suas frases. No fundo, talvez este seja o melhor tipo de amor-próprio: ter segurança suficiente para considerar primeiro, sem dramatismos, a hipótese de falha própria. Mas, caramba, se isto não condiz connosco, que ou fugimos às responsabilidades ou, caso tal não seja possível, nos mortificamos como filipino em Sexta-Feira Santa, também não condiz com os espanhóis, pois não? Decididamente, no me entiendo.

 

Adenda: não me venham com... hmmm, tretas acerca do meu castelhano, que ele é perfeito.



publicado por José António Abreu às 23:07
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Quarta-feira, 30 de Março de 2011
«Un antipático contra todos» (ler com pronúncia alemã)
Ainda que lhes concedamos um pequenino desconto, levando em consideração que eles começam a ficar seriamente assustados com a possibilidade de darmos um gigantesco calote aos seus bancos (com razão, acrescente-se), está longe de ser un retrato muy guapo, no? Ainda se fosse num jornal lá daquele país não cheio de Sol governado pela pérfida Sra. Merkel...

 

(Via Cachimbo de Magritte.)


publicado por José António Abreu às 12:54
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Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010
Consequências da greve geral

Por aqui, canais de televisão e jornais afirmam que a greve geral foi um fracasso. Intoxicação pura e simples. Houve consequências evidentes – e graves. Ontem à tarde, o funcionário da cafeteria do hotel explicava-me, contrito, que não havia casadiellas asturianas porque a pastelaria que as fornece estava em greve.



publicado por José António Abreu às 08:40
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Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2010
A cartilha dos socialistas ibéricos
After procrastination and paranoia, it is high time for some prime-ministerial leadership.
 
But he failed to see the bust coming. When he belatedly recognised that the economy was in trouble, he misdiagnosed the problem as an imported recession that he could safely wait out. He carried on doling out public money and raising (...) public-sector wages while shunning reform.
 
"The prime minister is not telling the country that (..) needs to adjust and that we are poorer than we thought", laments one economist.
 
To make matters worse, Mr. Zapatero looks out of his depth.

 

Sim, estas frases, retiradas do último número da revista The Economist referem-se a Espanha. Mas poderiam perfeitamente referir-se a Portugal. Com a agravante de, por cá, termos um Primeiro-Ministro que, para além de recusar a realidade, anda mais preocupado em acusar jornalistas de «jornalismo de buraco de fechadura» e em construir um escudo de socialistas à sua volta do que em governar. Sócrates e Zapatero – parceiros até na incompetência e na paranóia.
 
P.S.: Já agora, a resposta da The Economist às desculpas esfarrapadas do governo espanhol (segundo alguns dos seus crânios, todos os problemas advêm de ataques especulativos e de um plano da imprensa anglo-saxónica para destruir o euro): grow up. Nem mais.


publicado por José António Abreu às 18:29
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Terça-feira, 4 de Agosto de 2009
Indissociáveis?

Enquanto procurava informações sobre a praça de Portugalete, em Valladolid, dei com a vila de Portugalete, situada perto de Bilbao, e fiquei a saber que o apelido Salazar também marcou a sua história. Coincidências cósmicas, uma vez que que a origem do nome da vila nada parece ter a ver com Portugal. (A hipótese mais credível aponta para uma junção do romano Portus com o termo em euskera Ugalete, sendo que o resultado é mais um pleonasmo translinguístico, visto que ambas as palavras significam "porto").

 

Nota competamente acessória, irrelevante e, como diriam os Gato Fedorento, parva: um dos antepassados dos Salazar que se instalaram em Portugalete era conhecido por "Braço de Ferro" e teve 120 filhos; pergunto-me se foi nele que a SIC se inspirou para o Salazar firme mas engatatão da mini-série televisiva.



publicado por José António Abreu às 18:48
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Segunda-feira, 3 de Agosto de 2009
Pleonasmo translinguístico

Os espanhóis de Puebla de Sanabria, povoação muito merecedora de uma visita situada mesmo junto ao cantinho superior direito de Portugal (perto de Rio de Onor e do Parque Natural de Montesinho), chamaram "Rua" à rua principal que sai da inevitável e florida Plaza Mayor. Ou seja, calle Rua (ou talvez calle de la  Rua). Acho simpático. Pergunto-me se teremos em Portugal alguma rua da Calle.



publicado por José António Abreu às 18:49
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Notas de viagem

Fico sempre com a sensação de que o ritmo nas auto-estradas espanholas é pelo menos 10 km/h mais lento que nas portuguesas. Nós abrandamos ao entrar em Espanha; os espanhóis aceleram quando entram em Portugal.

 
Muitas zonas de serviço espanholas obrigam a passar por povoações. É menos prático para o viajante que as nossas áreas bem formatadas e completamente isoladas do resto do país mas desconfio que o comércio dessas povoações agradece.
 
Claro que a solução espanhola só funciona em auto-estradas sem portagens. E a esse respeito: nos cento e sessenta quilómetros de auto-estrada entre o Porto e a fronteira de Vila Verde da Raia pagam-se oito euros e qualquer coisa de portagens; nos quase trezentos quilómetros de auto-estrada entre Verín e Valladolid pagam-se zero euros de portagens. (Ouço alguém dizer que a nossa solução é mais justa? O conceito do utilizador-pagador? Com certeza. Eu até concordo com ele. Aliás, deve ser por isso que o nosso IVA é mais reduzido, os nossos automóveis mais baratos e todos os espanhóis que vivem perto da fronteira vêm abastecer os veículos em Portugal.)
 
Precisamente na fronteira de Vila Verde da Raia, tanto no sábado como no domingo, havia imensa polícia do lado português (no sábado mandavam mesmo parar alguns veículos que entravam em Portugal) e nenhuma no lado espanhol. Podia ser uma alegoria para o facto de terem sido sempre eles a tentar invadir-nos e não o contrário mas devia ser apenas por causa dos imigrantes.
 
Ao passar junto a Tordesilhas não consegui evitar pensar em como, há cinco séculos, nós e os espanhóis estávamos tão seguros da nossa importância no mundo. Agora, excluindo arroubos momentâneos, nós achamos que somos insignificantes; eles continuam a considerar-se o centro do universo.
 
O estádio do Real Valladolid seria indigno de um quase falido clube português de média dimensão. É até incrível pensar que foi inaugurado em 1982 e que lá se disputaram partidas do mundial de futebol desse ano. O facto suscita-me duas notas: estamos todos tão mais exigentes hoje em dia e pelo menos em certas coisas fundamentais evoluímos mais que os espanhóis.
 
Valladolid tem fama de ser a cidade espanhola onde melhor se fala o castelhano. Não sei o que os Valladolidenses acharam do castelhano de Bruce Springsteen mas a mim pareceu-me bastante razoável. Tanto que o teria percebido melhor se falasse em inglês.


publicado por José António Abreu às 13:06
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Terça-feira, 2 de Junho de 2009
Monarquia low-cost.

Segundo o i, a rainha Sofia de Espanha usou pela primeira vez um voo de uma companhia aérea low-cost (a Ryanair) para se deslocar. Os cínicos acusarão a casa real espanhola de hipocrisia, os pedantes horrorizar-se-ão com o rebaixamento a que se sujeitou um membro da realeza, os fanáticos dos pormenores procurarão saber se chegou com a roupa mais amarrotada que o habitual. Eu não acho bem nem mal mas continuo a ver os reis em carruagens puxadas a cavalos (ou na guilhotina mas deixemos de lado essas fantasias). Aquelas imagens do desfile na Holanda em que a realeza ia de autocarro aberto pareceram-me de uma incongruência absoluta. Será assim tão caro manter um par de cavalos em vez de uma frota de Rolls-Royces? De qualquer modo, mesmo sendo cem por cento republicano, começo a interrogar-me se, afinal, o D. Duarte não ficaria mais barato que o Cavaco e as suas frequentes viagens ao estrangeiro com dezenas de empresários (na TAP, creio). Depois penso que é preciso apoiar a TAP. E ouço na minha cabeça a voz de D. Duarte discorrendo sobre o amor que tem por Timor. Adormeço por instantes e acordo a gritar: «Viva a República!»



publicado por José António Abreu às 22:23
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