A reforma do mapa judiciário é simultaneamente uma exigência do memorando de entendimento e, dentro do que é constitucionalmente possível fazer, uma reforma ambiciosa. Mesmo após resolvidos todos os problemas informáticos dificilmente produzirá efeitos milagrosos no aumento da eficiência dos tribunais mas tem, ainda assim, um propósito claro e o mínimo que se pode dizer quanto aos prazos é que a sua implementação peca por tardia. Sendo graves, as falhas informáticas são inevitáveis num processo desta dimensão: qualquer pessoa que tenha passado por uma alteração de sistema informático, ainda que muito mais simples, sabe que existem sempre problemas. Provavelmente poderiam ter sido menores mas há alturas em que é necessário tomar decisões e correr riscos.
O caso da Educação é diferente. Os problemas na colocação de professores são indesculpáveis acima de tudo porque não correspondem a qualquer reforma substancial. A falta de uma constitui, aliás, a principal falha de Nuno Crato enquanto Ministro da Educação: à promessa de aumentar a autonomia das escolas correspondeu afinal o mesmo centralismo mastodôntico de sempre, de que estes concursos são o mais rematado exemplo. Para um governo acusado de neoliberalismo, sobrevivem-lhe – e sobreviverão - uma quantidade assombrosa de processos que não estariam deslocados na União Soviética da planificação central e dos planos quinquenais.
Numa época e num governo em que qualquer falha suscita críticas ferozes, mais vale merecê-las ao arriscar mudanças verdadeiras do que ao fazer ajustes irrelevantes.
Afirma que as redes sociais e a Internet estão a mudar o cérebro dos adolescentes. Porquê?
É uma questão muito complexa. É como perguntar se um carro é bom ou mau. Tudo depende da forma como se conduz.
Mas é muito crítica em relação ao uso das novas tecnologias informáticas.
Nunca disse que os computadores são maus para o cérebro. O que disse foi que o cérebro humano se adapta ao ambiente que o rodeia, por isso somos uma espécie tão bem sucedida. E nos últimos anos houve mudanças enormes no ambiente e nos estímulos que rodeiam a mente humana, sobretudo devido ao aparecimento da Internet e de outras tecnologias informáticas. A situação actual é semelhante às alterações climáticas. Eu chamo-lhes alterações mentais. Há quem diga que estamos condenados, outros defendem que a ciência pode ajudar a resolver o problema.
Como?
Essa mudança mental tem a ver com a forma como o cérebro processa a informação. Alguns pais dizem que os filhos terão acesso às novas ferramentas informáticas quer queiram quer não. Mas eu defendo que devemos controlar esta área.
De que forma?
O acesso a alguns sites e às redes sociais influencia muito a forma como as crianças e os adolescentes se relacionam uns com os outros, assistimos a uma perda de empatia nas novas gerações. Muitos jovens têm problemas de identidade e de relacionamento com os colegas. Os videojogos são altamente viciantes, podem gerar distúrbios de atenção e agressividade. Os motores de busca estão a alterar a forma como processamos a memória e armazenamos os conhecimentos.
Os estudos mais recentes mostram que há mesmo alterações físicas no cérebro, por causa do uso frequente da Internet, dos videojogos e das redes sociais...
Exacto. Os dados mostram que há zonas do cérebro com anormalidades devido ao uso excessivo de videojogos e tecnologias informáticas. Uma das alterações é a forma como se liberta dopamina [a molécula produzida no cérebro responsável pelas sensações de prazer]. Verificou-se que as crianças que jogam videojogos começam a ter padrões cerebrais idênticos aos jogadores viciados em casinos.
[...]
No seu estudo encontrou casos dramáticos de dependência da Internet?
Sim, há casos de crianças que passam o tempo fechadas no quarto a brincar com o computador.
E que consequências tem isso?
Desligam-se dos amigos e têm muita dificuldade em interpretar os sentimentos de outras pessoas, não conseguem descodificar a linguagem corporal e o tom de voz em situações normais. Não conseguem distinguir se uma pessoa está triste ou alegre porque estão desligadas da realidade. As relações sociais precisam de muito treino, cara a cara, e há uma nova geração que só comunica por computador.
Isso pode explicar a falta de compreensão, os incidentes violentos, os tiroteios, por exemplo?
Se eu disser "O meu pai morreu" e a resposta for "Isso não me interessa nada", seria algo que me perturbaria muito. Ora este tipo de respostas está a aumentar. Este Verão, um atleta olímpico britânico, Tom Daley, cujo pai tinha morrido pouco tempo antes das provas, recebeu mensagens horríveis quando ganhou a medalha de bronze e não a de ouro, como se esperava. Eram coisas do género: "O seu pai teria vergonha da sua prestação." Esse tipo de atitude era impensável há alguns anos. As pessoas estão a perder a empatia.
(Da entrevista de Luís Silvestre a Susan Greenfield, cientista britânica, especialista em fisiologia do cérebro, professora de farmacologia sináptica na Universidade de Oxford, na revista Sábado desta semana.)
Duas raparigas de mini-saia sentam-se entre espelhos e sorrisos, de unhas pintadas de cinco cores diferentes, embora iguais nas mãos e nos pés, expostos, como gemas polidas, nas sandálias com um palmo de salto. Encomendam saladas e desembainham os smartphones. Não trocam palavra. Teclam em silêncio, nos seus iPhones, não se sabe o quê. Mensagens, números?
A chegada da comida desperta-lhes sorrisos. Debicam com pauzinhos, mergulham de novo nos telemóveis. Uma delas sabe inglês suficiente para perceber a pergunta – Já leram Mo Yan, que acaba de ganhar o Nobel da Literatura?
“Quem? Yang? Shang? Ichan? Não sei o que é. Um escritor?” O café fica no interior do Centro Comercial KK, que ocupa cinco andares de um edifício de 100, todo em vidro e luzes que acendem e apagam formando as palavras e números de anúncios de empresas e produtos, ao longo dos 442 metros de altura da frontaria.
“Shong? Bem, nós não costumamos ler livros”, explica Liu, aka Jane, falando pelas duas. Ou mais. O café está cheio de jovens com roupas estudadamente modernas e caras, agarrados aos telemóveis ou tablets. “Quando andava a estudar só tinha tempo para ler os livros da escola. Agora que já trabalhamos, usamos os tempos livres para vir ao centro comercial, ou jogar no telemóvel”, continua Jane (na China, os jovens que aprendem inglês adoptam um nome inglês).
Liu (jane) e Song, de 22 e 21 anos, trabalham num SPA. Vieram para Shenzhen há dois anos. Na aldeia-natal de cada uma, nas províncias de Hunan e Hubei, os pais dedicam-se à agricultura. Nos primeiros tempos na grande cidade, as duas raparigas trabalharam numa fábrica. Depois subiram na escala social. Agora têm dinheiro para estar no centro comercial. Um nome. Só um nome de um escritor chinês: “Não sei. Mao Zedong?”
Amy, 25 anos, Relações Públicas numa grande empresa de telemóveis, a Huawei, tem a mesma dificuldade em nomear um escritor. “É mais fácil jogar jogos. Os livros são muito complicados”.
Zheng, 24 anos, finalista de Medicina em Nanjin, também nunca ouviu falar do nome. Nem num nem no outro. “Prémio quê? Não sei o que é”. Tirando os compêndios clínicos, Zheng orgulha-se de nunca ter lido um livro.
Shenzhen é uma cidade recente. Há 30 anos um pequena aldeia, hoje tem 14 milhões de habitantes, graças às reformas de Deng Xiaoping e à criação de uma Zona Económica Exclusiva. Representa a nova China, eufórica com o desenvolvimento. Em toda a cidade, é possível visitar centenas de centros comerciais, e milhares de lojas de telemóveis baratos, mas não assistir a um concerto ou peça de teatro. Shenzhen não parece precisar de vida cultural.
“Mo Yan? Conheço sim. Escreveu livros sobre o período da guerra com os japoneses”. Yang Woo, 59 anos, é oriundo de Guangzhou, a antiga Cantão, e proprietário, em Shenzhen, de um restaurante de peixe na Avenida Huaqiang, a Meca da electrónica. Admite sem problemas que deve o seu êxito empresarial muito ao facto de ser membro do Partido Comunista. “Mo Yan é um escritor muito interessante, que promove os valores da harmonia. Se o Nobel é importante? Não. A China não precisa disso”.
Reportagem de Paulo Moura, no Público de ontem.
Ou, em meia dúzia de palavras: capacidade de concentração, de elaborar raciocínios ponderados, de enfrentar o silêncio e a solidão. No fundo, de desacelerar e pensar. Consigam lá isto com a internet.
O encerramento de escolas é uma medida de contenção de custos, pouco ou nada tendo a ver com razões pedagógicas (mesmo que possam existir algumas, sempre úteis para declarações seráficas). Mas o processo mostra como para o Governo – e, em termos mais genéricos, para os socialistas – os custos desaparecem desde que sejam outros – indivíduos, empresas (mesmo públicas) ou, neste caso, autarquias – a pagá-los.
Adenda: nascido junto à Serra da Estrela, levantei-me muitas vezes antes das sete da manhã para, ainda de noite e frequentemente sob chuva, apanhar um autocarrro ronceiro e gelado que me levava e a uns quantos colegas até à escola, onde éramos forçados a esperar cerca de uma hora até ao início das aulas enquanto o autocarro ia buscar mais miúdos. Não morri. Mas supunha-se que entretanto tivéssemos evoluído alguma coisa. Mais importante, o transporte, se feito com qualidade (o que significa veículos de confiança – quantas vezes percorreu Isabel Alçada as estradas da Serra do Marão ou do Açor às sete da manhã em pleno Inverno? –, conduzidos por pessoal de confiança, em horários adequados), apresenta custos elevados que alguém tem de pagar. Ou então pagam os miúdos.
A ministra da Educação culpa a comunicação social pela descida nos resultados dos exames de matemática. Diz ela que a comunicação social transmitiu uma imagem de facilidade e que, por isso, os estudantes não estudaram, levantando-se a dúvida ontológica (se isto fosse um exame, eu explicava o que quer dizer) de saber se estudantes que não estudam podem ainda ser considerados estudantes. Eu acho que não. Chamem-lhes outra coisa qualquer e excluam-nos das estatísticas. Os resultados melhorariam de imediato e a ministra poderia novamente sorrir e dizer que tudo se deve ao excelente trabalho do ministério. Quanto à comunicação social, e por muito que defendamos métodos pedagógicos avançados, devia levar dez reguadas (posso sugerir o seu representante?) e ser mandada para o canto, de onde apenas poderia sair depois de 27 de Setembro.
Como será óbvio não tenho o mínimo prazer em começar este post da forma que o vou fazer (porque preferiria evitar sensações de saudosismos sem sentido e porque, apesar de ocasionalmente me sentir com muito mais, sei que hoje em dia quatro décadas até parecem ser a idade da moda), mas, a propósito da notícia de um aluno condenado em tribunal a pagar uma multa a um professor que insultou, vou ter que o fazer. Vamos lá então:
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