"Are there many unhappy boys in your school, Richard?"
"I don't know. Maybe."
"Do the boys miss their parents?"
"Sure."
"I hope you're friends with them. Don't ignore them."
She had the sunny, myopic belief, like all mothers, that her son was popular and had the power to "make friends" with anyone.
Joyce Carol Oates, Expensive People.
"Acho que o Dinis vai ser o sucessor do tio. Quando o Ronaldo nasceu, a minha mãe disse logo que ele ia ser jogador, e eu vou arriscar dizer o mesmo com o meu filho."
Kátia Aveiro (mais conhecida como irmã de Cristiano Ronaldo), à revista Vidas, do Correio da Manhã, em 2010.
Joyce Carol Oates e Kátia Aveiro para arranque de um post. Enfim, suponho que mais cedo ou mais tarde alguém havia de o tentar. Vamos lá então. A «solarenga» e «miópica» crença maternal de que os filhos são pequenos génios, apreciados por todos os que com eles contactam, será quase sempre benigna, ainda que a possibilidade de que as crianças a interiorizem e tenham dificuldades em perceber por que motivo outras pessoas – colegas, professores, familiares menos próximos – não a partilham seja real. Normalmente, a ilusão maternal é mais desejo do que imposição (a paternal será com frequência uma mistura menos simpática) mas, ainda assim, por vezes a expectativa é tal que, quando começam a ter noção dela, os filhos reagem mal. Apesar de saberem que as mães só desejam o seu bem (casos extremos exceptuados), não é fácil lidar com a pressão. Saberá Dinis, o filho da irmã de Ronaldo, aceitar os desejos da mãe? E o que sentirá se não tiver jeito para o futebol? Ou saberá Kátia domar sonhos e ilusões e aceitar que Dinis não terá de ser um jogador do calibre de Ronaldo para ser o filho que desejou? É provável que sim, que ela o consiga fazer. Mas talvez Dinis tivesse uma vida um pouco mais fácil se a mãe não andasse a anunciar o que espera dele. Evitaria a eventual sensação de falhanço; a frustração de perceber que as suas incapacidades haviam forçado a mãe a baixar as expectativas.
As expectativas dos filhos.
In that day I became a Minor Character. I slipped out of focus. It's difficult for you readers to understand my becoming a Minor Character because 1) you can't imagine anyone except yourself being Major, hence my becoming Minor should be no great shock; 2) you don't believe a genuine Minor Character should exhibit so much anguish, pain, tedium. It's ridiculous, like a vehement pamphlet put out by an organization of white laboratory mice.
Anyway I, Richard Everett, became a Minor Character. This is the opposite of schizophrenia and yet closely related, according to Dr. Saskatoon; there is no splitting of the ego in two or three but a curious case of disappearance, like a snake swallowing itself or a pocket pulled out when there's no pocket there to be pulled out.
Joyce Carol Oates, Expensive People.
As expectativas funcionam nos dois sentidos. Porém, enquanto os filhos fazem disparar as dos pais mas não podem ser responsabilizados por isso, os pais moldam as dos filhos e têm que assumir responsabilidade por muito daquilo em que eles acreditam. Richard, o miúdo do livro, sente que a mãe deixou de lhe prestar a atenção devida. Pior: sente que nunca foi o centro da vida dela mas apenas um Minor Character. Não importa verdadeiramente se tem razão: as crianças ainda não sabem contemporizar. Richard assassina a mãe. (Como Oates escreveu no posfácio incluído numa reedição do livro, o que são os assassinatos senão confissões de impotência?) A maior expectativa que uma mãe cria num filho é a de nunca o abandonar ou preterir, consiga ele atingir o estatudo de maior futebolista do mundo ou falhe todos os objectivos a que se propôs. A maior tarefa dela, manter-se à altura enquanto o faz perceber que recusar-lhe algo ou ter outros interesses não equivale a já não gostar dele. No fundo, garantir-lhe a hipótese de ser criança e ensiná-lo a ser adulto. Vencendo medos e hesitações, quase todas as mães cumprem a tarefa. Estão por isso de parabéns, hoje ou em qualquer outro dia do ano.