como sobreviver submerso.

Terça-feira, 9 de Junho de 2015
Futebol, esse desporto ignorado

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Blergh, gajas!

 

O Eurosport está a transmitir o Campeonato do Mundo de Futebol Feminino. Eu, que nem ligo a futebol, fiquei ontem durante algum tempo a ver onze suecas (todas louras, muitas delas giras) enfrentando onze nigerianas (todas negras, várias delas giras). Descontando a inevitabilidade biológica de apresentarem menos poder de fogo do que os homens (no sentido futebolístico da expressão, que noutros até me parece que tinham mais), jogavam bem. Marcaram-se seis golos, três para cada lado. Como tantas vezes sucede no futebol masculino (mas estou em crer que com menor risco de lesões dolorosas), num deles a bola passou entre as pernas da guarda-redes. Igualmente como no futebol masculino, as jogadoras abraçaram-se para celebrar e parece que por vezes fazem questão de levantar a camisola. Como no futebol masculino, várias tinham tatuagens e/ou penteados esquisitos. Como no futebol masculino, algumas eram propensas a fazer faltas e outras a atirarem-se para o chão. Como no futebol masculino, a bola era redonda (no ecrã; ouvi dizer que, na realidade, é esférica), o relvado verde e, nos placards laterais, a FIFA apelava ao fair play. Exactamente como no futebol masculino, há quem diga que no final ganha a Alemanha. Mas a SportTV esteve-se nas tintas para o campeonato (valha-nos isso), nos noticiários nacionais ninguém lhe liga e as audiências não devem ser famosas. Decididamente, custa-me perceber os adeptos do futebol. Muitos andam para aí armados em macho e, no fim de contas, só apreciam homens.

 

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Aqui entre nós, a expressão da guarda-redes sueca é deliciosa mas a silhueta da atacante nigeriana constitui pura poesia.

 

Fotos: Kevin C. Cox/Getty Images North America, pescadas na net.



publicado por José António Abreu às 16:56
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Domingo, 22 de Fevereiro de 2015
Chamam-lhe informação...
Há pouco mais de uma hora, no Jornal da Tarde, a TVI noticiou que Fernando Alonso sofreu um acidente esta manhã, nos treinos para o Grande Prémio de Espanha. Isto quando o campeonato de Fórmula 1 ainda nem começou (trata-se de uma sessão de testes de pré-temporada). Talvez seja preferível os canais de televisão generalistas limitarem-se a falar de futebol, tema para o qual parecem dispor de várias centenas de especialistas.


publicado por José António Abreu às 14:27
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Terça-feira, 13 de Agosto de 2013
The times they have a-changed
Mesmo os que, por defeitos de idade, não viram em directo se lembram de Rosa Mota cortando a meta para a vitória na maratona dos Jogos Olímpicos de Seoul, em 1988. Pequenina, magrinha, ar simpático, braços bem erguidos de justificado orgulho, sovacos por depilar. Rosa Mota já conquistara o bronze nos Jogos Olímpicos de 1984 e, em 1987, fora Campeã do Mundo em Roma (para além de ter conseguido vários títulos europeus e vencido uma mão-cheia de maratonas importantes). Mas convenhamos que, grande atleta que indiscutivelmente era, nunca o termo «sensual» se lhe aplicou. Pior um nadinha: Rosa, como Carlos Lopes, Aurora Cunha, Fernando Mamede, os gémeos Castro ou, na verdade, ainda vários dos atletas portugueses da actualidade, revelava um país mais parecido com os tempos de Salazar (esforçado mas pobrezinho, ligeiramente digno de pena) do que com o país em que, poucos anos volvidos, os portugueses gostavam de se imaginar a viver.
Mas isto não é sobre Portugal. É sobre algo muito mais importante e cem por cento internacional: mulheres. Atletas, mais exactamente. Assistia eu ontem à sessão da tarde dos Campeonatos do Mundo de Atletismo, a disputar-se em Moscovo, quando as atletas do heptatlo me fizeram pestanejar e arregalar os olhos. Várias vezes. Mais de uma dúzia de raparigas altas, esbeltas, giras. Algumas com características inteiramente adequadas a protagonismos de anúncios de produtos de beleza – que, lá no país delas, podem bem ser uma realidade. Claro que sempre houve raparigas atraentes no atletismo. Por virtude de idade, lembro-me bem da relação amor-ódio que Heike Drechsler me inspirava (amor porque era um bocadinho mais gira do que a grande rival, Jackie Joyner-Kersee, ódio porque competia pela RDA). Por virtude de não assistir apenas a futebol na televisão, sei igualmente que existem hoje raparigas atraentes em muitas disciplinas do atletismo (e de outros desportos) para além do heptatlo. Basta pensar nos olhos e na boca de Blanka Vlasic. Ou nos olhos e no resto de Yelena Isinbayeva. E fosse ela menos gira (e simpática e boa conversadora) e os azares de Lolo Jones nos Jogos Olímpicos (queda em 2008 quando liderava destacada os 100 metros barreiras, quarto lugar na mesma prova em 2012) não teriam doído tanto. Finalmente, por virtude de ser bom a extrapolar conclusões a partir de amostras minúsculas, também estou ciente de que uma significativa parte da população mundial tem andado a ficar mais atractiva. Mas o quadro de participantes no heptatlo deste Mundial é assim a modos que um ridículo concentrado de boa aparência num sector onde a boa aparência não costumava abundar. E garanto que as fotos acima, uma selecção retirada do site oficial da Federação Internacional, estão longe de fazer justiça às raparigas.

Agora desculpem mas vou ver a sessão desta tarde, que deixei a gravar. A Lolo não está em Moscovo (snif) mas o heptatlo acabou hoje.

 

Nas fotos, da direita para a esquerda e de cima para baixo: Dafne Schippers (Holanda); Ellen Sprunger (Suíça); Ganna Melnichenko (Ucrânia); Grit Šadeiko (Estónia); Györgi Farkas-Zsivoczky (Hungria); Ida Marcussen (Noruega); Karolina Tyminska (Polónia); Katarina Johnson-Thompson (Grã-Bretanha); Kristina Savistkaya (Rússia); Laura Ikauniece (Letónia); Mari Klaup (Estónia); Nadine Broersen (Holanda); Nafissatou Thiam (Bélgica); Sharon Day (EUA); Yasmina Omrani (Argélia).

 

Adenda: Em nome da igualdade de género, gostaria de salientar que este arrazoado poderá quase de certeza aplicar-se também a atletas do sexo masculino. Mas outra pessoa qualquer que trate dessa parte. Não vou ser eu a colocar aqui fotografias de Renaud Lavillenie.


publicado por José António Abreu às 20:15
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Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2013
Caramba, até já sabem conduzir...
Danica Patrick (o link é para o site oficial mas, rapazes, se forem apreciadores de AC Cobras, ide antes aqui) obtém a pole position para as 500 Milhas de Daytona.

 

(É que serem melhores em medicina, direito e investigação científica um tipo ainda encaixa, agora ao volante... Bom, mantenhamos a calma: uma oval é uma pista fácil, com poucas curvas – e todas para o mesmo lado.)



publicado por José António Abreu às 12:46
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Domingo, 12 de Agosto de 2012
De volta à rotina ou welcome back, Rui Santos

E agora, durante quatro anos, dezenas de modalidades desportivas ficam novamente remetidas à obscuridade. Sendo que se alguma coisa os Jogos Olímpicos demonstram é que, em termos de espectacularidade, o futebol está longe de justificar a hegemonia de que goza na maior parte do planeta. Como os norte-americanos costumam referir, trata-se de uma modalidade em que nada acontece durante a maior parte do tempo e é também das poucas onde se pode verdadeiramente jogar para o empate – com frequência, a zero.



publicado por José António Abreu às 17:26
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Quinta-feira, 2 de Agosto de 2012
A(s) beleza(s) dos Jogos Olímpicos

Uma mulher enviou-me por correio electrónico uma foto com nadadores olímpicos australianos:

 

Encolhi os ombros (afinal, estão apenas um bocadinho mais em forma do que eu) e respondi com uma dose dupla de voleibolistas norte-americanas:

Aguardo nova cartada mas considero-me a ganhar por 7-4 (com vantagem em caso de empate final, uma vez que os nadadores mantêm alguma roupa vestida). Não quero ser demasiado optimista (é preciso respeitar o adversário, as hipóteses são de 50% para cada lado, o jogo só acaba quando o árbitro apita, etc.) mas estou confiante: tenho vários trunfos na manga, incluindo a outra e, na vertente feminina, quase obscena variante do voleibol: o de praia. Entretanto pus-me a pensar que brincadeiras destas são como fazer parte de uma equipa mas preferir o estilo de jogo da equipa rival. No fundo, está-se a dizer: não, não, vocês é que são melhores. Pus-me a pensar nisso e também que, lá em Londres, alguém devia apresentar os nadadores australianos às voleibolistas norte-americanas. É que, apesar dos corpos tonificados, talvez por não conseguirem tirar o Lochte e o Phelps da cabeça, eles parecem tão tristonhos. Poderiam é necessitar de reforços: são só quatro, coitaditos, e não conseguindo deixar de pensar no Lochte e no Phelps...

 

(As fotos das voleibolistas são da ESPN. A dos nadadores não faço ideia.)


publicado por José António Abreu às 18:40
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Domingo, 8 de Julho de 2012
Força de vontade e uns quantos recordes
Décima sétima vitória em torneios do Grand Slam (recorde masculino absoluto; Pete Sampras, o segundo na lista, venceu catorze). Sétima vitória em Wimbledon (recorde de Pete Sampras e de William Renshaw* igualado). Recuperação do primeiro lugar no ranking ATP e garantia de igualar o recorde de número de semanas nesse posto (faltava-lhe apenas uma para atingir as 286 de Sampras), devendo mesmo ultrapassá-lo (não se prevê que venha a ser destronado pelo menos até aos Jogos Olímpicos). Trinta anos de idade (trinta e um dentro de um mês), mais cinco que os principais adversários. Casado, pai de duas gémeas de três anos. Nos últimos dois anos e meio, um período em que não conseguiu vencer qualquer Grand Slam (então escrevi isto e continua a aplicar-se) muitos deram-no como acabado. Not quite. É que nem pouco mais ou menos.

 

* Mas as vitórias de Renshaw foram na década de oitenta do século dezanove, altura em que o vencedor de um ano tinha entrada automática para a final do ano seguinte; só em 1922 todos os participantes começaram a ter de passar pelo quadro geral.

 

Adenda (Segunda-Feira, dia 9, 8:45h)

1. Ontem fazia tenções de o referir e depois esqueci-me: este foi o torneio dos atletas com trinta anos, uma vez que Serena Williams, também com essa idade, venceu no quadro feminino.

2. É um excelente momento para ler (ou reler) o artigo que, em 2006, David Foster Wallace escreveu sobre Federer (e o ténis em geral).

(Foto retirada daqui.)


publicado por José António Abreu às 19:28
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Sexta-feira, 20 de Maio de 2011
De como o excesso de futebol e o défice de outros desportos nos meios de comunicação é culpa das mulheres
As dúvidas e opiniões que Patrícia Reis (que tem um livro novo) expressa neste texto são partilhadas por muita gente. Porque dispõe o futebol de tamanha exposição mediática? Porque não obtêm outros desportos mais do que alguns segundos nos noticiários e isto apenas nas raras ocasiões em que, contra expectativas e razoabilidade, um português consegue alcançar um resultado de topo? Porque esquecemos os atletas que mais medalhas trazem para Portugal – os para-olímpicos?

 

Eu concordo que não devia ser assim. Desde logo, faz-me espécie prestar-se atenção apenas ao futebol masculino mas aceito que esta possa ser uma questão eminentemente pessoal – por razões ergonómicas, tendo a preferir a versão feminina da maioria dos desportos (e depois há uns casos em que me é indiferente). Mais importante, tal como a Patrícia acho exasperante que se dedique tanto tempo a apenas um desporto – qualquer que ele seja. Mas julgo perceber porque é que isso acontece.

 

Quem vê desporto na televisão e compra jornais desportivos? Quem até, provavelmente, compra a maioria dos restantes jornais? Os homens. As mulheres não ligam a desporto. Pelo menos o bastante para se sentarem à frente de um televisor ou comprarem um jornal. (Generalizo, obviamente.) De quando em quando, as mulheres podem pensar, com um carinho inteiramente sincero, que os campeonatos para-olímpicos são uma coisa bonita, podem espreitar uma prova de ginástica ou de patinagem artística, mas ver mesmo desporto – não vêem. Preferem a Oprah, séries, filmes, telenovelas, o What Not to Wear e o Rachel Zoe Project. Se as mulheres gostassem tanto de patinagem artística como gostam de roupa, maquilhagem e decoração, a SIC Mulher apresentaria patinagem artística duas vezes por dia, existiriam revistas e jornais só acerca de patinagem artística e rapidamente os canais generalistas de televisão teriam programas de debate em que se analisaria a qualidade dos triplos Axel realizados nas provas do fim-de-semana anterior. Hélas, as mulheres não gostam assim tanto de patinagem artística nem de qualquer outro desporto. Isso faz com que sejam os homens a definir que desportos se vêem na televisão e sobre que desportos se lê nos jornais. Ora os homens são seres simples, de gostos limitados e com tendência para a conformidade (continuo a generalizar). A partir do momento em que as mulheres lhes deixam o campo livre pode dizer-se adeus aos para-olímpicos na televisão. E até à patinagem artística. Para a sensibilidade masculina (nem sempre é oxímoro), as provas para-olímpicas são um mau espectáculo televisivo e a patinagem artística não é muito melhor. E como é o gosto pelo futebol que é inculcado nos homens desde criança e o futebol é que dá para discutir durante a pausa para o café por ser o que vêem todos os outros homens (menos uns tipos esquisitos como eu), vê-se futebol. As televisões (como as rádios e os jornais) não podem então fazer outra coisa senão ir atrás do consumidor-tipo (que, neste caso, é um consumidor-gajo) e, numa espécie de pescadinha de rabo na boca, começam a passar apenas futebol.

 

Este é o pecado original. Depois existem factores agravantes. A passagem de alguns desportos para canais de assinatura retirou-lhes notoriedade. Por exemplo, há dez ou quinze anos via-se bastante automobilismo (especialmente Fórmula 1) na televisão de sinal aberto. Agora, esta raramente aborda o tema. Por outro lado, a fauna que gravita em torno do futebol, dos dirigentes aos adeptos passando pelos árbitros e comentadores, nem sempre representa as fatias mais sensatas da população, o que facilita o nascimento de «polémicas» ou «casos». As regras também não ajudam (ninguém fica duas semanas a discutir se uma bola do Federer foi dentro ou fora do court porque isso é imediatamente verificado). O factor de tribo que se gera ao aderir a um clube (e, mais ainda, a uma claque) e a necessidade de arranjar formas de escape numa sociedade que reprime cada vez mais a exteriorização dos instintos (ver esta excelente entrevista feita por Paulo Moura a J. G. Ballard em 2005, já mencionada aqui) tornam os actos de violência mais prováveis. A conjugação disto tudo é um cocktail explosivo que os meios de comunicação agradecem e cujos efeitos amplificam, num encantador efeito bola de neve. Outros desportos podem apresentar alguns destes elementos (também há fanáticos da Ferrari, por exemplo) mas, na falta dos restantes, o efeito bola de neve é inexistente ou muito menor (não andam à batatada com os adeptos da McLaren.)

 

De qualquer modo, nenhum destes factores invalida a tese, pelo que a conclusão é inevitável: a culpa de se prestar pouca atenção a desportos que não o futebol nos meios de comunicação (e, por conseguinte, na sociedade) é essencialmente das mulheres. E, pronto, um bocadinho – mas só um bocadinho – dos homens.



publicado por José António Abreu às 00:37
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Segunda-feira, 2 de Maio de 2011
Notas sobre o Estoril Open num ano em que nem lá pus os pés
O Estoril Open merecia um Court Central permanente, com cobertura amovível, capaz de proporcionar um nível de conforto mínimo aos espectadores não suficientemente afortunados para terem acesso aos camarotes e, mais importante ainda, que permitisse a realização de alguns encontros mesmo quando chove (o que ocorre pelo menos um par de dias por edição). João Lagos clama por ele há anos. Em 2008 conseguiu até que Federer se referisse ao assunto no discurso de vitória (se há coisa que os portugueses detestam é não terem condições à altura de estrelas estrangeiras). Apesar disso, e disto, desconfio que não o vai conseguir tão cedo. Mais: espero-o. Por muito que goste de ténis, há coisas mais importantes. Manter em pé os vários estádios inactivos que se construíram para o Euro 2004, por exemplo.
 
Na final deste ano, entre Juan Martin del Potro e Fernando Verdasco, torci pelo primeiro. A razão? É-me impossível torcer por alguém com um penteado como o do Verdasco.

 

Para quem tem 1,98m (um dos comentadores da RTP fazia questão de o designar por «a torre de Tandil» a cada cinco minutos) Del Potro move-se extraordinariamente bem. Depois de um ano parado por lesão, parece estar a aproximar-se da melhor forma. Óptimo. Só espero que não calhe no quarto do quadro do Federer em Roland Garros.

 

Acontece invariavelmente: a final é às três da tarde mas às quatro ainda entra gente (este ano algumas pessoas devem ter visto menos de um quarto de hora de jogo). Nos camarotes, então, o panorama aquando do início do encontro é sempre desolador, com mais de dois terços por ocupar. Suponho que será de bom-tom entrar tarde. Afinal, para muita gente com lugar de camarote mais importante do que apreciar o ténis é ser visto. De tal modo que nem há pejo em fazer os jogadores esperar enquanto calmamente se distribuem apertos de mão e beijinhos a caminho dos lugares. As nossas elites são o espelho do país: preocupadas acima de tudo com as aparências, cultivam um snobismo pacóvio e não mostram qualquer respeito por regras e horários. De cada vez que entro no Court Central do Jamor e constato a enorme área dedicada a camarotes (enfim, João Lagos terá de rentabilizar o evento) tenho vontade de me tornar ainda mais marxista do que já sou. Que é como quem diz, acrescentar o culto pelo Karl ao culto pelo Groucho.

 

A verdade é que, VIP ou plebeu, o público justificava um estudo sociológico. Apenas um exemplo, do ano passado: atrás de mim nas bancadas, apontando para dois sacos a abarrotar, impante de orgulho, dizia um homem para a pessoa do lado: «Tudo somado, levo umas cinquenta bolas, vinte chapéus e praí trinta t-shirts!» Suponho que se pode ver a questão como existindo quem saiba rentabilizar o preço do bilhete. Em tempo de crise, é capaz de não ser mal pensado.

Sacos de brindes. Iupiiiii.


publicado por José António Abreu às 23:20
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Quinta-feira, 14 de Abril de 2011
Da garra ou parabéns, Gil
Num país amedrontado que só liga a futebol, este rapaz com capacidade de autocrítica suficiente para admitir ter mais garra do que talento merece ser destacado ao mostrar ambos em dose suficiente para atingir os quartos de final de um torneio Masters 1000 (feito nunca antes conseguido por um português). Agora, lá em Monte Carlo, só tem pela frente gente como Andy Murray (amanhã à tarde), Rafael Nadal e Roger Federer.
 
(A foto continua a ser do Estoril Open de 2008.)


publicado por José António Abreu às 23:19
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Domingo, 30 de Janeiro de 2011
Voltem, Federer e Nadal, estão perdoados...
O mínimo que se pode dizer é que o Open da Austrália em ténis acabou com um par de finais femininas. Sendo que aquela onde jogaram efectivamente mulheres foi das duas a menos dependente das hormonas.


publicado por José António Abreu às 15:51
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Sexta-feira, 14 de Janeiro de 2011
Lauberhornrennen (que é como quem diz «a corrida na Lauberhorn»)

Fiquei na dúvida se as duas senhoras de sessenta e muitos anos que, numa manhã fresca mas agradável de finais de Maio do ano passado, passeavam com um cão (ou passeavam o cão?) pelas ruas de Wengen, na Suiça, eram inglesas (pelas feições e sotaque, pareciam) e também se eram lésbicas (esses pormenores tendem a passar-me ao lado mas houve quem achasse que sim). Em resposta à minha pergunta, uma delas voltou-se e apontou-me na encosta a zona de meta das provas de esqui alpino.

 

(Fossem ou não inglesas lésbicas, é uma imagem curiosamente aconchegante, a de duas estrangeiras sexagenárias, suavemente apaixonadas uma pela outra, vivendo mais ou menos exiladas numa fria mas pitoresca povoação situada nas montanhas da Suiça Central. Acho eu. Enfim, avancemos.)

 

Muitos apreciadores de futebol não considerariam completa uma primeira deslocação a Madrid se não pudessem visitar o Santiago Bernabéu. Da mesma forma, fãs de desporto automóvel não se sentiriam bem dispensando, quando em viagem pela zona Oeste da Alemanha, uma visita ao Nürburgring Nordschleife. Encontrando-me em Wengen, eu precisava de saber onde era a pista de downhill. E devo confessar que, como quase todos os indivíduos nascidos e criados junto ao sopé da Serra da Estrela, nem sequer faço esqui (é entretenimento de fim-de-semana para lisboetas e portuenses).

Mas gosto de velocidade e de um pouco de loucura. E de cenários grandiosos. Vejamos: quatro quilómetros e meio (a mais longa prova da taça do mundo de esqui) para descer dos 2315 até aos 1290 metros de altitude (desnível de 1025 metros, inclinação média de 15 e máxima de 42 graus) a uma velocidade média ligeiramente superior a 100 km/h. Aproximadamente 150 km/h de velocidade máxima (o recorde é de 158). Uma secção estreita onde os esquiadores passam sob a linha férrea de cremalheira que sobe de Wengen para Kleine Scheidegg (onde se pode mudar para outro comboio e trepar por dentro do Mönch e do Eiger até Jungfraujoch, estação situada a cerca de 3500 metros de altitude, num trajecto totalmente desaconselhável a claustrofóbicos). O Hundschopf, um dos mais famosos saltos de todas as pistas de downhill (assim designado por – dizem – ter o formato de uma cabeça de cão). Uma curva interminável chamada «canto dos canadianos» por vários canadianos lá terem caído. Um ponto conhecido como «o buraco dos austríacos» por – what else? – quase todos os austríacos em prova ali terem caído em 1954 (para grande satisfação dos suiços, certamente). E depois há o resto. A presença imponente dos picos Eiger, Mönch e Jungfrau (costumam ver-se bem na televisão, mesmo antes do Hunsdchopf). O tal comboio de cremalheira. O covil de Blofeld no filme de 007 Ao Serviço de Sua Majestade (aquele em que Bond era George Lazenby, casava e não ficava com grandes recordações de Portugal) no Schilthorn, do outro lado do vale. Um teleférico que sai de Wengen e, em 1656,9 metros de trajecto, sobe 947,5. Em 5 minutos.

 

Mas na verdade estou a escrever isto por causa da prova. Disputa-se desde 1930 e nem a Segunda Guerra Mundial interrompeu a sua realização (embora quase só esquiadores suíços tenham participado nesses anos). Em 1991 houve uma morte e, ao longo das décadas, muitas pernas e braços partidos. É possível que certos desportos sejam demasiado loucos para mentes sensatas (é facto assente que as mentes sensatas só aguentam uma dose pequenina de loucura antes de entrarem em processo de rejeição). Nesse caso, esqui alpino, e especificamente a disciplina de downhill, só pode estar na lista. (Imaginem-se a colocar a cabeça de fora da janela do carro na auto-estrada; considerem que estão quinze graus negativos; agora substituam o carro por um par de esquis; finalmente esqueçam a auto-estrada e visualizam-se a descer uma encosta com vinte e tal graus de inclinação.) A Lauberhornrennen é um dos expoentes máximos do downhill e, por conseguinte, da loucura. Acontece amanhã de manhã, se o nevoeiro ou a queda de neve não complicarem tudo. Dá no Eurosport.

 

Neste vídeo faltam os primeiros trinta e tal segundos de descida. O Hundschopf é o primeiro salto, após a curva à esquerda. Ken Read, o canadiano que venceu em 1980, explica no site oficial da taça do mundo que é preciso travar a fundo - pouco antes, segue-se a cerca de 130 km/h - e abordá-lo com muito cuidado porque é «como cair num poço de elevador». Quanto ao Bode, aqui na descida que lhe deu a vitória em 2007 (ganhou também em 2008), para além de conseguir imitar o Keanu Reeves sem recurso a efeitos especiais, sabe decididamente terminar uma prova em grande estilo.


publicado por José António Abreu às 22:07
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Terça-feira, 2 de Novembro de 2010
"You don't have to be perfect, but you have to try hard."

E agora, o que faz um ?



publicado por José António Abreu às 13:41
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Terça-feira, 7 de Setembro de 2010
Mesmo sendo fã do Federer, continuo a gostar mais de mulheres
Decididamente, e como escrevi aqui, não percebo por que motivo tantos homens quase não ligam a desporto feminino.


publicado por José António Abreu às 19:27
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Quarta-feira, 30 de Junho de 2010
Bem pode Sócrates pregar o contrário...

Até a jogar futebol Portugal está parecido com a Grécia.



publicado por José António Abreu às 08:04
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Terça-feira, 29 de Junho de 2010
Diferença entre Brasil e Espanha

A Espanha fazia questão de ganhar.



publicado por José António Abreu às 22:48
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Falemos então de futebol

Gosto tanto do universo futebolístico como José Saramago gostava do religioso. Tornou-se assim inevitável escrever sobre o assunto. Afinal, os ódios – especialmente os de estimação – são tão estruturantes como as paixões. Como o grande poeta irlandês Paul Hewson* escreveu recentemente: Choose your enemies carefully ‘cos they will define you / Make them interesting ‘cos in some ways they will mind you / They’re not there in the beginning but when your story ends / Gonna last with you longer than your friends. Não estou certo de concordar com a parte final mas o início afigura-se-me perfeito.

 

Adiante. Tratando este texto de futebol, sinto-me quase obrigado a começar com um cliché: eu até gosto de futebol; não gosto é do que se passa em torno do futebol. E do facto de muitas vezes não haver futebol, mesmo dentro do campo de futebol (ou, creio ser assim que se diz, do «rectângulo de jogo»). Vamos por partes (mais que duas).

 

Terminologia

O desporto-rei. O esférico (quando se optar pelo uso de «bola», é conveniente salientar que é redonda). As quatro linhas, ou o rectângulo de jogo. O plano técnico-táctico. O jogo directo. O primeiro poste. A cabeça da área. O pressing. O místere. O manáger. O dérbi. O encontro de alto risco. O frango. O pontapé de bicicleta. O fazer-se à falta. O mergulho (também conhecido por «atirar-se para a piscina»). A falta cirúrgica. O fazer a diagonal. O chuveirinho. O 4-4-2, o 4-3-3, o 4-3-2-1, o 4-1-3-2, o 5-3-2, o 3-5-2, o 4-5,33-0,67 (a táctica da selecção portuguesa quando joga com um avançado baixinho e solitário chamado Liedson, que só toca na bola quando recua até ao meio-campo, altura em que Portugal joga em 4-6-0). O autocarro. A chicotada psicológica. As declarações: estava escrito que o jogo ia acabar empatado, uma equipa só joga o que a outra deixa jogar, há que respeitar o adversário, o resultado acaba por se ajustar ao que se passou dentro das quatro linhas, a haver um vencedor, só podia ter sido o XYZ (que, em futebolês, equivale a «nós»), penso que merecíamos a vitória, tenho que dar os parabéns aos meus jogadores, vocês sabem que eu nunca falo do trabalho do árbitro, o que se passou foi uma vergonha. O apito final.

 

Fitas

Haverá desportista mais fiteiro que o jogador de futebol? Leva um toque na perna direita e atira-se ao chão agarrado à esquerda, como se a tíbia estivesse à mostra e o perónio desintegrado em fragmentos. Quando um esquiador ou um piloto de motos cai e fica agarrado a uma perna, a gente percebe que ela está partida em pelo menos vinte e dois locais diferentes, e também percebe porquê. Um patinador artístico usa calças de lycra e corpete justo mas levanta-se mais depressa do que cai. E não falemos dos tipos do rugby, para quem as lesões serão provavelmente motivo de orgulho tão grande quanto os ferimentos de bala e de arma branca o eram para as personagens desempenhadas por Mel Gibson e Rene Russo no mítico Arma Mortífera 3 (ei, as referências culturais devem ter a profundidade requerida pelo assunto em análise). Já para não falar das fitas dos dirigentes, dos comentadores e dos jornalistas. O futebol é um desporto pejado de prima-donas kitsch, combinação tão pavorosa como pão-de-ló de Ovar com miúdos de frango.

 

Cromos

Do estilo piroseira-ultra-dispendiosa do Cristiano Ronaldo ao estilo grunho-assumido de muitos cabeludos míticos sul-americanos, passando pelo registo pamonha-kitsch do Simão Sabrosa ou pela pose ídolo-das-matinés do Nuno Gomes, é difícil encontrar desporto com mais elevado rácio de mau gosto por dinheiro disponível (o hip-hop seria um bom candidato, se ao menos fosse um desporto). E isto é referir apenas a aparência. Tão ou mais importante são as declarações. Quase toda a gente se lembra de tiradas célebres e os que andam esquecidos podem usar estes links para recordar algumas: 1, 2, 3, 4. Depois há os dirigentes, os árbitros, os fãs (já lá vamos), os comentadores (idem), e o Rui Santos.

 

Comentadores

Onde é que se tira o curso? Era na Independente?

 

Política

Recuso um desporto em que o nível de promiscuidade com o poder é maior do que no conselho de administração das maiores empresas nacionais.

 

Fãs

OK, sou elitista. Mas, com ou sem vuvuzelas, os fãs do futebol são extremamente irritantes. Em primeiro lugar, são muitos e qualquer conjunto grande de pessoas com interesse similar e sem vergonha de o assumir adquire rapidamente tendências totalitárias. Em segundo lugar e em parte decorrente do primeiro, falam alto, em linguagem incompreensível, sobre pessoas chamadas Di Maria, Nani, Hulk, Coentrão, e – já não joga, pois não? Que pena, do nome deste até eu gostava – Martelinho. Depois, são quase todos homens, com pança e bigode (literal ou metaforicamente). Há excepções a este ponto? Há. Algumas fãs que os cameramen das televisões se esforçam por descobrir por entre grunhos e tontos, uma Cinha Jardim fora do prazo de validade, apesar dos corantes e conservantes, e mais umas quantas raparigas que apenas gostam de olhar para os futebolistas, amaldiçoando a regra que os leva a receberem um cartão amarelo quando festejam golos tirando a camisola.

 

Claques

Os fãs de que ninguém gosta. A prova de que o homem do neandertal não se encontra extinto.

 

Empates

Não gosto de empatas nem de empates. O futebol não é o único desporto em que o empate é possível, claro. Mas o facto de ser possível empatar, e de frequentemente isso constituir um mal menor, leva a que o empate se torne no objectivo não-declarado mais vezes do que Sócrates desdiz o que disse garantindo ter sempre dito o que está a dizer. Ora jogar para o empate é de mariquinhas. (Desconfio que nos dias que correm é politicamente incorrecto usar o termo «mariquinhas» para designar atitudes que são, bom, mariquinhas, mas vou deixá-lo ficar porque não encontro melhor para descrever comportamentos que, bem vistas as coisas, são mariquinhas). O futebol está cheio de gente a jogar para o empata. Empatas. Como Carlos Queirós (resumo do jogo com o Brasil: eles não faziam questão de ganhar; nós jogámos à defesa). O empate é pantanoso. Uma coisa disforme. Prefiro ver o Federer perder. É uma sensação mais intensa e definida. Perder com galhardia é mais bonito do que empatar.

 

Hierarquias

O futebol parece-se demasiado com a vida do dia-a-dia. Um clube de futebol tem uma estrutura similar a uma empresa, o que implica hierarquias, jogos de poder, beija-mãos, problemas de motivação e utilização de bodes expiatórios. Ora eu – e certamente não estarei só – já obtenho no emprego quantidades de tudo isso muito acima da dose diária recomendada pela OMS. Por que raio haveria de ter vontade de mergulhar ao fim-de-semana num universo com exactamente as mesmas características? Mais: o futebol é um jogo colectivo, onde – dizem – todos os jogadores são igualmente importantes. Na realidade, como nas empresas, cada jogador desunha-se para sobressair do esforço colectivo (passa o raio da bola, Ronaldo de uma figa!) e a igualdade é ilusória: quantos defesas atingem a fama e a remuneração dos melhores atacantes? Por que motivo se desculpam dez falhanços de um ponta-de-lança mas se crucifica um guarda-redes após um ou dois? Mesmo nós, espectadores, relembramos essencialmente grandes jogadas individuais: Maradona no México em 1986; o calcanhar de Madjer; as performances de João Pinto enquanto jogador do Benfica nos encontros com o Sporting (#$%&£@§). Os «movimentos» colectivos tendem a desvanecer-se da memória. Antes um desporto individual, então. Sempre é menos hipócrita.

 

E já chega, que o Portugal – Espanha está prestes a começar. Qual será a nossa táctica, hoje? 5-5-0? Ou usaremos o quadrado?

 

* Mais conhecido como Bono.



publicado por José António Abreu às 19:20
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Quinta-feira, 24 de Junho de 2010
I-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l
O encontro de ténis mais longo da história acabou há pouco (o link é para a BBC porque o acontecimento merece mais do que a meia dúzia de linhas que os sites portugueses lhe estão a dedicar). Foi disputado no torneio de Wimbledon, entre o americano John Isner e o francês Nicolas Mahut. Jogou-se durante três dias, ultrapassando as onze horas de duração. Terminou com o resultado de 70-68 no quinto set. Isner ganhou. Mahut perdeu. Poder-se-á – e, nos interstícios do futebol, provavelmente ir-se-á – falar da força de vontade, da concentração, da garra de ambos. Houve tudo isso, mas talvez se possa ir um pouco mais longe. O ténis é um desporto individual, onde cada jogador depende essencialmente de si mesmo. Dispõe do serviço para, jogo sim, jogo não, garantir que permanece no encontro. Se servir bem, o oponente pouco pode fazer, especialmente em relva – mesmo na relva actual de Wimbledon, mais lenta do que nos tempos de Borg, Connors, McEnroe, Becker e Edberg. Claro que não é fácil servir consistentemente bem. Os nervos, a pressão do marcador, o vento, os movimentos e os ruídos do público – tudo contribui para dificultar a precisão no serviço. Todavia, num quinto set, depois de passar os 10-10, ou os 15-15, depois de entrar no ritmo, depois de os nervos estarem há muito ultrapassados, depois do ambiente em torno do court estar mais do que assimilado, o serviço torna-se um acto mecânico e o resto do jogo também. Entra-se (não falo por experiência, mas de que outra forma seria possível o resultado de hoje?) num estado de quase alienação. Isner e Mahut perdiam pouquíssimos pontos nos seus jogos de serviço e já não mostravam emoções. Jogavam quase como se estivessem sozinhos. Como se fossem zombies, ou máquinas. É curioso verificar como por vezes os humanos se transcendem quando conseguem pôr de lado algo fundamental num ser humano: as emoções. E, assim sendo, devemos admirar acontecimentos destes? Mas, ainda que venha misturada com incredulidade, como evitar a admiração?

 

P.S.: Uma nota de agradecimento à SportTV que, apesar de ter três outros canais a transmitir futebol, decidiu interromper a transmissão do encontro (retomando-a já com ele terminado) para apresentar a conferência de imprensa de Carlos Queirós. Enfim: todos sabemos como os treinadores de futebol têm sempre coisas importantes e originais a dizer antes dos encontros. É por estas e por outras que me recuso a ser assinante regular.

 

P.S.2 (acrescentado em 25.06): o encontro descrito pelo próprio Isner e o papel das pizzas de Andy Roddick. 

 

(Foto daqui.)



publicado por José António Abreu às 18:04
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Domingo, 9 de Maio de 2010
Como fazer render 50 Euros

Compre um bilhete para o penúltimo dia do Estoril Open, esperando ver as duas meias finais masculinas e a final feminina. Chegue ao Jamor pouco depois do meio dia sob chuva persistente. Constate que nenhum encontro se iniciou e aguarde um par de horas. Não havendo alterações nas condições climatéricas, vá deixar a mala no hotel onde pernoitará e, cerca das quatro das tarde, sempre debaixo de chuva, opte por almoçar. Às cinco e qualquer coisa aperceba-se de que a chuva parou e encaminhe-se novamente para o Jamor. Fique bloqueado no trânsito da Segunda Circular, junto ao Estádio de... da... junto ao Colombo. Fuja logo que possa e siga em direcção a Alcântara. Chegue ao Jamor por volta das seis e corra até ao Court Central. Constate que Federer perdeu o primeiro set e encontra-se já a meio do segundo. Veja-o perder em cerca de meia hora. Junte-se à multidão que sai do Central em direcção ao Centralito, onde Frederico Gil disputa a outra meia final. Renda-se à evidência de que nem o irmão mais magro da Kate Moss, nu e untado em manteiga da cabeça aos pés, conseguiria entrar no court. Aperceba-se de que a final feminina também está a decorrer, num Court 1 com meia dúzia de gatos pingados (não literalmente, porque, relembre-se, parou de chover) a assistir. Sente-se e aprecie dois minutos de ténis, que é mais ou menos o tempo que demoram os cinco pontos que compõem o último jogo do encontro. Bata palmas à vencedora e à vencida e, verificando que continua a ser impossível entrar no Centralito, vá-se embora outra vez, dando o dia tenístico por concluído. Reze para que no Domingo (se também tiver bilhete para esse dia) consiga melhor rendimento dos 60 euros que lhe custou o ingresso.

 

(De momento não chove, mas...)

(Go, Gil.) 



publicado por José António Abreu às 10:24
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Sábado, 3 de Abril de 2010
Ténis can-can

Gosto de ténis, gosto de ver meninas a praticar desporto, e não me importo nada que elas usem vestuário provocante (ah, o voleibol de praia). Todavia, o vestido que Venus Williams está a usar esta semana no torneio de Miami causa-me problemas. Eu simpatizo com Venus, de tal forma que até possuo este livro (fotos + ténis + mulher esbelta + preço simpático na Amazon = como resistir?), e já estou avisado de que este ano ela resolveu ser provocante. Mas o vestido vermelho de Miami, mais até do que a roupa interior de Melbourne, dificulta o meu seguimento dos encontros. Põe-me a pensar em cabarets parisienses de finais do século XIX e em bordéis do Velho Oeste. Faz-me recear que ela comece a dançar can-can, executando simultaneamente malabarismo com as bolas. Leva-me a murmurar que devia estar a usá-lo com botins (daqueles com atacadores) e não com sapatilhas, comportamento muitíssimo perturbador porque – basta olhar para mim para o constatar – eu nunca perco tempo a ponderar o que fica bem com quê. Maldoso, cheguei a ter vontade de que ela fosse eliminada para eu me poder concentrar nas jogadas mas, indiferente aos problemas que me causa (o egoísmo das estrelas), Venus foi ganhando sempre e conseguiu atingir a final (daqui a minutos, no Eurosport, frente a Kim Clijsters). De forma que, mesmo contrariado (pensam que gosto de pensar em bordéis e em vestidos de can-can quando podia estar a reflectir no que escrever sobre o PEC ou o caso dos submarinos?), lá me vou forçar outra vez a observá-la.

 

(Mas torço por Clijsters e não tem nada a ver com o vestido.)

 

(Foto retirada daqui.)



publicado por José António Abreu às 17:13
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Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2010
Finais felizes
É adequado porque os norte-americanos, no seu ingénuo optimismo, são loucos por finais felizes. Quantos filmes não estragaram com a inclusão forçada de um? Mas as histórias de sucesso improvável, no desporto e noutras áreas, não acontecem com e não encantam apenas americanos. Todos os espectadores de ténis já ouviram dezenas de vezes a história de como Maria Sharapova viajou da Sibéria para o estrelato e o que isso representou em esforço e risco para os pais dela. Costumam ser embelezadas, estas histórias. Ainda assim, valem a pena. Quem tem por hábito assistir às provas de esqui alpino também sabe que Bode Miller cresceu numa cabana perdida em Franconia, New Hampshire, onde era forçado a usar skis até para ir à casa de banho. Que ganhou duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de 2002, em Salt Lake City, e que depois perdeu uma delas e que depois perdeu uma delas mas não por doping ou outras questões ligadas ao desporto; perdeu-a como se perdem as chaves de casa ou o telemóvel. Já está a par do seu espírito rebelde e frequentemente rebarbativo, do seu desprezo pelo lado comercial do desporto e de como detesta dar entrevistas. Sabe que, chegando como favorito aos Jogos Olímpicos de Turim, falhou em todas as provas. Acompanhou os seus últimos anos, que pareceram de declínio. Não tinha certamente grandes esperanças de que ele viesse a ser uma das principais figuras dos Jogos de Vancouver, apesar de se dizer que ele foi para Vancouver com a intenção de ganhar a medalha de ouro que sempre lhe escapou. Depois de conquistar uma de prata e outra de bronze (o que já era mais do que alguém, e talvez mesmo ele, verdadeiramente esperava), venceu, contra todas as expectativas, o ouro na prova de Super Combinado. Depois de uma descida razoável, fez um slalom absolutamente inebriante, sempre no limiar da queda. Miller não é como Lindsey Vonn ou, no ténis, Roger Federer. O que ele faz não parece fácil. Pelo contrário, dá muitas vezes a sensação de estar prestes a cair, desafiando todas as regras, incluindo as da gravidade. Na sua autobiografia, Bode: Go Fast, Be Good, Have Fun, há uma frase que diz tudo: o objectivo dele ao iniciar a carreira não era ganhar muitas provas nem muito dinheiro mas «fazer ski tão depressa quanto o universo natural permitisse». Na realidade, há dois anos, na descida de Kitzbühel, mostrando-nos que talvez vivamos mesmo dentro da Matrix, pareceu ir além disso e dobrar as leis do universo à sua vontade. É muito possível que coloque um ponto final na carreira a seguir aos jogos. Se o fizer, termina-a com o indispensável final feliz.

 

 

(Foto retirada daqui.)


publicado por José António Abreu às 08:39
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Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2010
Vonnderbar

Esta rapariga, de nome Lindsey Vonn, vencedora de cinco dos seis downhills realizados este ano na Taça do Mundo de esqui alpino e medalha de ouro há poucos minutos no downhill dos Jogos Olímpicos de Vancouver (ou Vonncouver, como alguns dizem), também me faz pensar nas circunferências do meu professor de matemática. E, para um tipo desavergonhadamente heterossexual e pouco politicamente correcto como eu, apresenta claras vantagens sobre o Federer (de quem, numa demonstração de bom gosto, ela é fã).
 
(A foto foi retirada do link incluído no texto.)


publicado por José António Abreu às 21:35
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Domingo, 31 de Janeiro de 2010
Perfeição
Tive um professor de matemática que desenhava no quadro circunferências perfeitas sem auxílio do compasso. É bom que um professor consiga fazer algo de que os alunos são incapazes. Obriga-os, mesmo contrariados, a admirá-lo um pouco (saber mais do que eles não tem o mesmo efeito). Quanto às circunferências, sei que eram perfeitas porque um dia duvidei que o fossem em voz alta (creio já ter admitido dificuldades em deixar de dizer o que penso). Ele pegou no giz e, num movimento fulminante, desenhou uma no quadro. A seguir obrigou-me a ir buscar o compasso e a verificar, perante uma turma de miúdos expectantes e desejosos de poder gozar alguém (mas preferindo que esse alguém fosse eu, porque o poderiam fazer imediata e abertamente), a perfeição do seu trabalho. O giz na ponta do compasso limitou-se a seguir cobardemente o traço branco que já se encontrava no quadro. A filha da mãe da circunferência era mesmo perfeita. Os meus colegas riram-se (o professor também), mandaram bocas (o professor não, mas mostrou grande complacência para com a algazarra instalada) e gozaram comigo durante todo o resto do dia.
 
Usei várias vezes «perfeita» e «perfeição» ao longo do texto porque ainda é naquela circunferência – e em Aston Martins e em algumas mulheres – que penso quando imagino a perfeição. E mantenho até hoje sentimentos contraditórios em relação a pessoas que fazem coisas difíceis sem esforço aparente: admiro-as por o conseguirem mas apetece-me dar-lhes um pontapé no traseiro e ordenar-lhes que se limitem a ser humanas.
 
(A foto é do Estoril Open de 2008.)


publicado por José António Abreu às 16:05
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Terça-feira, 15 de Setembro de 2009
Quando a realidade se mete no caminho de um bom post

 

Ele fez de propósito para me lixar. Não tenho dúvidas a esse respeito. Lá de Flushing Meadows, em Nova Iorque, Federer decidiu trocar as voltas ao fã nº 47011814 (ainda não tenho o cartão definitivo mas fiz um provisório no Powerpoint, com a fotografia dele em fundo, a minha no canto superior direito e o símbolo RF no superior esquerdo, que, depois disto, vou rasgar em pedacinhos com menos de dois milímetros de lado).
 
Sentei-me para ver a final masculina do Open dos Estados Unidos com o post todo alinhavadinho na cabeça. Iria começar por mencionar a fantástica vitória de Kim Clijsters no quadro feminino, um ano e tal depois de ter sido mãe, no que tem sido um regresso à competição absolutamente fenomenal. Depois referiria a vitória de Federer e o facto de ele ter sido pai há um mês e meio. Pegaria na coincidência para ponderar se, por efeitos biológicos (que seriam sempre mais relevantes no caso dela, claro, a menos que assistir ao parto tenha consequências fisiológicas duradouras), psicológicos (o sorriso de uma criança, etc.), ou apenas porque mudar fraldas e passar noites em claro podem constituir afinal excelentes exercícios para melhorar a coordenação motora e a endurance, respectivamente, os desportistas não deveriam pensar muito seriamente em começar a fazer filhos em vez de andarem por aí a desperdiçar sémen em quartos de hotel. Chamaria ainda a atenção dos desportistas portugueses para o facto de que gerar crianças ajuda no combate ao envelhecimento da população nacional e, em breve (cruzes, canhoto), poderá dar direito a um subsídio estatal de duzentos euros que lhes permitiria comprar uma raquete ou um par de chuteiras ao rebento quando ele fizesse dezoito anos.
 
Estava tudo tão bem delineado na minha cabeça. O filho da mãe percebeu e resolveu lixar-me. Só assim se compreende que quase tenha deixado de jogar depois de ser sublime durante um set e meio (fez questão de me mostrar que era capaz de ganhar, só para que doesse mais) e que tenha perdido dois tie breaks no mesmo encontro (ele, que possui um serviço fenomenal). O único ponto positivo é que, tendo o encontro sido nos Estados Unidos, talvez eu tenha hipóteses de, processando-o, ganhar uns milhões de dólares. Alguém sabe o número de telefone da Crane, Poole and Schmidt?
 
(Fotografia de Federer tirada no Estoril Open de 2008; fotografia de Kim Clijsters tirada nos WTA Championships de 2006.)


publicado por José António Abreu às 08:34
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Sexta-feira, 4 de Setembro de 2009
Até no ténis sou sportinguista

Ontem, um dia depois de eu ter publicado isto, Elena Dementieva foi afastada do open do Estados Unidos por uma adolescente norte-americana chamada Melanie Oudin. Pelo menos não parecem existir indícios de intervenção do PS no assunto.



publicado por José António Abreu às 12:55
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Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009
De como nasce um fã

Por alguma razão que a minha memória não registou, 2004 foi um ano em que voltei a prestar atenção a uma data de coisas. Já aqui dei conta do renascimento do meu interesse pela fotografia. Mas 2004 foi também o ano em que voltei a acompanhar com regularidade o que se passa no mundo do ténis.

 

No início de Setembro desse ano achei-me por acaso a assistir a uma meia-final do open dos Estados Unidos entre a russa Elena Dementieva e a americana Jennifer Capriati. O estilo de jogo de Dementieva manteve-me fascinado a olhar para o ecrã. Não por ser leve e cirúrgico como o de Roger Federer, ou potente e agressivo como o de Serena Williams, ou equilibrado e imaginativo como (era) o de Martina Hingins. O de Dementieva não tinha nada disso. Deixem-me descrever rapidamente a maioria dos pontos nessa meia-final. Comecemos com Dementieva a servir: primeiro serviço fraco contra a rede ou meio metro fora do quadrado de serviço; segundo serviço fraquíssimo que, quando acertava no quadrado de serviço (Dementieva foi durante anos a «rainha das duplas faltas»), levava a bola a bater (devagar) no court e a saltar (pouco) para o lado, num efeito que deixava Capriati incrédula e desamparada; se respondia em dificuldade (por ter de lançar-se para diante para conseguir responder), Dementieva tomava conta do ponto e massacrava-a; se, apesar de tudo, Capriati conseguia uma resposta forte, Dementieva passava o tempo a correr de um lado ao outro do court, devolvendo todas as bolas até Capriati se irritar e cometer um erro. Agora os pontos em que Dementieva respondia ao serviço: boa resposta (claramente, uma das melhores pancadas da russa); se Capriati ficava desequilibrada, Dementieva massacrava-a; se Capriati, não obstante a qualidade da resposta, conseguia pegar no ponto (o que sucedia na maioria das vezes), Dementieva passava o tempo a correr de um lado ao outro do court, devolvendo todas as bolas até Capriati se irritar e cometer um erro. Dementieva venceu o encontro no tie break do terceiro set e raras vezes vi uma jogadora tão – ia escrever «irritada» mas é mais «descoroçoada» – como Capriati após perder essa meia-final. Dementieva avançou para a final e, como já sucedera na de Roland Garros desse mesmo ano (que não vi), jogou de forma tão nervosa e insegura que foi trucidada pela adversária, uma compatriota a sair da adolescência, tímida e de aparelho nos dentes, chamada Svetlana Kuznetsova (em Roland Garros fora-o por Anastasia Myskina, uma compatriota mais ou menos da mesma idade que ela, esbelta e irascível).

 

Essa meia-final tornou-me um fã de Elena Dementieva. O jogo dela era tão incongruente e tinha tantos pontos fracos que era praticamente um milagre ela conseguir manter-se entre as melhores tenistas do mundo. Mas conseguia. Raramente ganhava às cinco ou seis melhores do ranking mas – e esse é o ponto que mais admiração me provoca ainda hoje – nunca desistia. Lutava sempre até ao fim, gritando (dizem que ocasionalmente expressões russas que não convém traduzir) ou sorrindo de desespero quando as coisas lhe corriam mal, falando com a mãe sentada nas bancadas (tentando mostrar-se impassível mas sempre tão claramente em pânico), pedindo uma bola e batendo-a para o lado oposto do court após uma pancada sem nexo (como se assim pudesse corrigir o erro e fazer com que tudo ficasse bem outra vez), seguindo a bola com o indicador esquerdo espetado no ar na preparação dos smashes (raros, porque ela não subia à rede com frequência), limpando o suor da testa com o indicador direito e correndo quilómetros e quilómetros de um lado ao outro do court em cada encontro. Em Novembro de 2006 fui vê-la a Madrid, aos WTA Championships (campeonato de final de época onde competem as oito melhores do ano e a que ela acedera com dificuldade). Como seria de esperar, perdeu os três encontros da fase de grupos. Em 2007 esteve algum tempo fora do circuito por causa de uma lesão (fractura de esforço em nada menos que três costelas ao mesmo tempo) e em 2008, depois de anos a ser avisada de que devia arranjar um treinador que lhe melhorasse o serviço (de longe, o seu ponto mais fraco), lá se decidiu a fazer alguma coisa a esse respeito. Hoje ainda não tem um grande serviço, ainda treme como varas verdes quando tem que servir para fechar um encontro, mas parece finalmente perto do seu verdadeiro potencial. Há cerca de um ano, para surpresa de muitos, ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Este ano perdeu nas meias finais do open da Austrália num encontro equilibrado com Kuznetsova (outra vez ela) e nas meias finais de Wimbledon num encontro extraordinário em que dispôs de match points frente a Serena Williams (que ganharia o torneio) mas que acabou por perder por oito a seis no terceiro set. Perto. Muito perto. Mas, como dizia a personagem interpretada por Rene Russo (o que é feito dela?) no Arma Mortífera 2 (fica sempre bem citar grandes obras literárias ou cinematográficas), «perto é uma loja de lingerie sem montra».

 

O primeiro encontro de Dementieva no open dos Estados Unidos deste ano aconteceu ontem. Ganhou facilmente. Continuo a ver nela uma determinação nova. Como se tivesse decidido ocupar finalmente o lugar que lhe estava reservado há muito entre as favoritas. Não sei se essa determinação vai resistir aos momentos em que tiver de servir para fechar encontros contra uma das irmãs Williams, contra Safina, contra Jankovic ou contra várias outras. Para ser franco, não estou à espera de que vença o torneio. Mas seria bonito. Acima de tudo, seria uma lição de força de vontade e perseverança. E as histórias baseadas em força de vontade e perseverança são tão mais luminosas quando têm um final feliz.

 

(A foto foi tirada em 2006, nos WTA Championships.)



publicado por José António Abreu às 18:32
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Segunda-feira, 24 de Agosto de 2009
Humphrey Bogart era do Sporting

Tenho evitado abordar o tema do futebol neste blogue. É possível que isso já sugira que sou sportinguista. Os adeptos do Sporting são muito diferentes dos adeptos do Benfica e do Porto, e não apenas por entre eles se encontrar um número extremamente elevado de banqueiros, como o Gato Fedorento notou há tempos. (Atendendo à reputação actual de tal gente, os restantes sportinguistas prefeririam car-jackers ou mesmo políticos de carreira, mas é só mais um entre tantos pontos a encarar com resignação.) O que torna um sportinguista num verdadeiro sportinguista é a atitude entre a confiança impetuosa e a dúvida persistente, entre a vontade de voar e a quase-certeza de que, se der o famoso passo em frente à beira do precipício, cairá a pique. É, se quiserem e para facilitar, uma abordagem intelectual e artística da vida e do jogo de futebol. Ouço já vozes em protesto avançando nomes de intelectuais confessadamente adeptos do Benfica ou do Porto, mas peço que não invadam por enquanto a caixa de comentários com bombas, petardos e very-lights; creio que, mesmo não sendo sportinguistas, irão conseguir perceber a diferença. (E admito também que uns quantos sportinguistas não o conseguirão; há sempre gente enganada na porta.)

 
Os sportinguistas encaram a vida com a delicadeza da derrota quase assegurada e a certeza de que os bons momentos são para saborear com um misto de alegria e incredulidade. Com a convicção de que tal só se consegue se esses momentos não se banalizarem. Se não ocorrerem com demasiada frequência. Vencesse o Sporting tantas vezes quanto o Porto o faz e qualquer verdadeiro sportinguista ficaria horrorizado ou, no mínimo, incomodado. Pensaria: o que se passa? Que sensação básica é esta que perde o sentido tão rapidamente? Porque uma coisa é assistir em êxtase à conquista improvável de um campeonato, outra banalizar esse instante ano após ano. O sabor forte da vitória só pode ser plenamente apreciado em contraponto ao paladar agridoce da derrota. E este é um pitéu que apenas os sportinguistas apreciam devidamente. (Nas últimas décadas os benfiquistas têm-no provado com frequência mas invariavelmente, e por muito intelectuais que pareçam – lá está –, cospem de imediato, por entre trejeitos de desagrado.) Estar quase vinte anos sem ganhar o campeonato, ficar em segundo quatro vezes seguidas, aprender a gostar de um estádio com azulejos e pintado de verde e amarelo, ver o jogador que acaba de marcar o golo do empate num jogo europeu ser expulso por um acto tão deliciosamente inesperado como o da mais burlesca personagem de Beckett, perder uma final da taça UEFA disputada no próprio estádio – ah, nem os últimos segundos de La Traviata, aqueles em que Violetta se levanta por instantes para dizer que se sente melhor, antes de tombar morta.
 
Deixem-se as celebrações aos portistas e as ilusões aos benfiquistas. Ou, se preferirem, os blockbusters de Hollywood aos portistas e as promessas governamentais aos benfiquistas. Os sportinguistas têm outras coisas. Têm a estranheza do Buster Keaton, o sacrifício da Tosca, as fotos do Steve McCurry, as páginas do Francisco José Viegas (sim, são sportinguistas), o sorriso da Mona Lisa, a angústia da Sagração da Primavera, os poemas do Pedro Mexia (sim, são sportinguistas), a eternidade do Butch Cassidy e do Sundance Kid, a glória amarga da carga da brigada ligeira, o desespero de Love Will Tear Us Apart, a melancolia do último dos moicanos, as reflexões do pensador de Rodin. Têm o final do Casablanca.
 
Têm a arte.
 
 (Se bem que, ok, por vezes um pouco mais de engenho não fizesse mal.)


publicado por José António Abreu às 13:10
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Quinta-feira, 20 de Agosto de 2009
De Jesse Owens a Usain Bolt

Há exactamente um mês escrevi isto sobre o Estádio Olímpico de Berlim. Há poucos minutos, um outro negro, agora aplaudido entusiasticamente pelos espectadores, bateu o recorde do Mundo dos duzentos metros depois de, no passado Domingo, ter batido o dos cem. Usain Bolt é um fenómeno e há locais que a História privilegia. Felizmente, desta feita não há ditadores megalómanos e racistas nas bancadas.



publicado por José António Abreu às 20:13
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Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009
Mamã Clijsters

A minha jogadora de ténis preferida, por razões que talvez eu um dia explique, é Elena Dementieva. Mas estou a ver o encontro de Svetlana Kuznetsova com a regressada Kim Clijsters e não consigo deixar de lembrar que foi Clijsters quem mais gostei de ver jogar nos WTA Championships de 2006, em Madrid (a foto foi tirada lá). Perdeu numa excelente meia-final em três sets com Amélie Mauresmo mas foi um prazer ver-lhe a garra, a concentração, a vontade de não desperdiçar tempo (é das jogadoras que menos demora entre serviços). Lembro-me que, na fase de grupos, venceu em cerca de 45 minutos um encontro com a mesma Kuznetsova que defronta hoje. (Após o qual estive prestes a apanhar a bola autografada que bateu na direcção dos belgas que estavam junto a mim, mas faltou-me um bocadinho assim  ainda me raspou nos dedos e o ressalto não me favoreceu). Retirou-se meses depois, casou, foi mãe há um ano e pouco e decidiu agora regressar (como eu já referira aqui), não se sabe se para ficar muito, se pouco tempo (tem apenas 26 anos).

 

O encontro está no terceiro set, depois de Clijsters ganhar o primeiro e Kuznetsova o segundo. Nunca seria fácil, claro. Kuznetsova venceu Roland Garros este ano e está numa das melhores formas de sempre. Clijsters está a jogar o primeiro torneio após decidir regressar. Mas a combatividade continua lá e a forma física também (parece mesmo ter emagrecido). E, agora que é mamã, até se sente à vontade para dizer a um par de miúdos nas bancadas "be seated, ok? Thank you" naquele tom que qualquer criança sabe significar "eu estou bem disposta mas daqui a pouco as coisas mudam e vocês ficam sem televisão, computador e consola de jogos até amanhã".

 

Triplo match point. Ganhou. É um prazer tê-la de volta.

 

(Naturalmente, os miúdos sentaram-se.)



publicado por José António Abreu às 21:12
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Sábado, 4 de Julho de 2009
Os benfiquistas são os verdadeiros portugueses

Por ser simpatizante do Sporting e, mais importante, pouco apreciador do universo futebolístico, tinha prometido a mim mesmo não fazer comentários sobre as eleições do Benfica. Mas, aqui sentado com a televisão a mostrar-me debates onde Benfiquistas evitam criticar as manobras sujas que caracterizaram a marcação das eleições ou a necessidade de um dos candidatos votar com escolta policial, resultados eleitorais de república das bananas, vaias aos derrotados e à comunicação social, entradas triunfais do inesperadíssimo vencedor, um discurso (cuja transmissão em directo obriga à interrupção de um debate sobre o estado da Nação na SIC Notícias) em que o presidente da vetusta e heróica agremiação parece não ir chamar “garotões” aos derrotados, acusando-os apenas de falta de dignidade, tenho que admitir que o Benfica é de facto o único clube verdadeiramente representativo dos portugueses. Dos mesmos que elegem Alberto João Jardim, Fátima Felgueiras ou Valentim Loureiro. Dos mesmos que cospem ou atiram lixo para o chão. Dos mesmos que ziguezagueiam por entre o trânsito e queimam os semáforos vermelhos. Acredito agora que o Benfica tenha os famosos seis milhões de adeptos. Talvez até sete, talvez até oito. Parabéns ao Benfica. Parabéns a Portugal.



publicado por José António Abreu às 00:02
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dentro do escafandro.
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