como sobreviver submerso.

Domingo, 13 de Setembro de 2009
O derby

A SIC publicitou o debate entre Manuela Ferreira Leite e José Sócrates como se fosse um jogo de futebol decisivo para o campeonato. Com repórteres junto aos 'hotéis' onde as equipas se 'concentravam', pormenores sobre as actividades dos jogadores durante a tarde e as características do equipamento a usar (obrigado pela informação, tão útil aos daltónicos, de que a gravata de Sócrates era "azul petróleo"), transmissão em directo da chegada ao 'estádio' (infelizmente não havia claques e também ninguém atirou pedras aos 'autocarros' – onde é que andam os rapazes e raparigas do Jamais e do Simplex quando são precisos?). Tal encenação só pode ter sido para desmentir o Pacheco Pereira que se farta de dizer que neste país se presta mais atenção ao futebol que à política.

 

Quanto ao debate propriamente dito, apetece-me fazer uns comentários mas, ao mesmo tempo, não. Bom, duas notas breves:

Primeira: não me pareceu tanto um debate político quanto uma discussão entre duas pessoas casadas há muitos anos: "És uma velha rezingona"; "E tu és um teimoso e só fazes o que queres"; "Não tens ideias novas, vives no passado e estás sempre a mudar de opinião"; "E tu gostas é de gastar dinheiro que não temos"; "Queres dar cabo do que eu construí"; "Nunca fizeste nada de jeito que não tivesse sido começado por mim"; "Até há pouco tempo dizias que eu era bom em muitas coisas"; "Ó filho, tu nem na cama eras–"; bom, já perceberam a ideia.

Segunda: houve, apesar de tudo, um claro vencedor ou, melhor, uma clara vencedora. Sim, ela mesmo: alguém sabe qual é o partido da Clara de Sousa e onde me posso filiar?



publicado por José António Abreu às 00:56
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Quinta-feira, 10 de Setembro de 2009
Expondo os flancos

O grande problema da indefinição ideológica de Manuela Ferreira Leite e do PSD, preocupados que estão em não assustar os votantes mais à direita com propostas de esquerda e os votantes mais à esquerda com propostas de direita, é que abre espaço em ambos os lados do espectro para que outros possam surgir como mais atractivos para quem prefere clareza. Paulo Portas percebeu-o e mostrou, no debate que acabou há pouco, quão grave isso pode ser para o PSD.

 

(Isto partindo do princípio que a ideologia e as propostas concretas ainda significam alguma coisa neste país.)



publicado por José António Abreu às 22:17
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Quarta-feira, 9 de Setembro de 2009
A visão do Bloco de Esquerda

No debate de ontem entre José Sócrates e Francisco Louçã discutiu-se novamente política. Aleluia. O fim dos benefícios fiscais, defendido pelo Bloco de Esquerda, faz toda a lógica dentro do sistema político-social defendido pelo Bloco. Se o Estado fornecer tudo ‘gratuitamente’ e não aceitar o papel de concorrência e complementaridade que a iniciativa privada pode desempenhar, os benefícios fiscais são desnecessários. É uma visão soviética da realidade. Um sistema em que não há alternativa a um Estado pesado e programático que lentamente (e estou a ser simpático) resvala para a complacência, para a injustiça e para a insustentabilidade. Um sistema em que os cidadãos não têm margem para iniciativa e se acomodam à mediocridade. Sócrates teve o mérito de puxar a ponta do fio que mostra como os rapazes e as raparigas do Bloco, apresentados tantas vezes como modernos e cheios de estilo, têm na realidade ideias antigas e ultrapassadas. Já ter ficado preso na questão do “ataque à classe média” que representaria o fim dos benefícios e não desmontar essa ideia de sociedade é um indício da tendência que Sócrates tem para se agarrar ao soundbyte (ninguém o faz melhor que ele) e da crença (não só dele) de que, na nossa sociedade, discutir convenientemente os assuntos aborrece os eleitores.

 

Já agora, outro momento esclarecedor ocorreu quando Judite de Sousa, em desespero, guinchou: «Mas afinal quem é que está aqui a mentir?» Quando aquela que é reputada como uma das melhores jornalistas televisivas portuguesas (na verdade, não se sabe bem porquê) é incapaz de perceber a diferença entre mentira e visões distintas da sociedade, algo vai realmente muito mal.



publicado por José António Abreu às 08:38
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Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009
Asfixia, concorrência e nacionalizações

A declaração de Manuela Ferreira Leite de que não há asfixia democrática na Madeira é lamentável. Há coisas em que, por inabilidade ou obstinação, Ferreira Leite faz exactamente o oposto do que devia fazer. O facto do PS ter vindo a fazer mais ou menos o mesmo nos últimos anos não serve de desculpa.

 

Finalmente viu-se alguém a falar abertamente dos benefícios da concorrência nas mais variadas áreas da economia. No debate de hoje na SIC, entre Paulo Portas e Jerónimo Louçã, Portas colocou a tónica no ponto certo. Na maior parte das vezes, a questão não é se as empresas ou os serviços são públicos ou privados. É assegurar que existe concorrência. É a concorrência que força a necessidade de melhorar produtos, serviços e preços. E isto aplica-se em todos os sectores.

 

Portas também esteve bem noutra área, onde ontem Manuela Ferreira Leite não conseguira ter réplica adequada para a retórica tonitruante de Francisco Louçã: a das nacionalizações. Teriam custos gigantescos em indemnizações, em retracção do investimento estrangeiro e na redução de lucros decorrente das empresas passarem a ser geridas com finalidades mais políticas que económicas. À esquerda continua a acreditar-se no dirigismo estatal. Provavelmente até ainda se acredita em planos quinquenais.



publicado por José António Abreu às 21:42
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Terça-feira, 28 de Julho de 2009
Em defesa do blogger-eremita

A divertida e bastante falhada “BlogConf” (o nome lembra-me um modelo de edredão) de ontem, em que vinte bloggers puderam questionar o nosso Primeiro-Ministro sobre o que bem entenderam, mostrou que há grandes vantagens em que nerds permaneçam nerds, afastados de contacto humano directo. Repare-se que mesmo bloggers insuspeitos de nutrirem simpatias pelo nosso querido PM (ou mesmo pelo querido Querido, que serviu de moderador e ajudou a preparar o flop) saíram da “BlogConf” (ou talvez um sistema de suspensão pneumática) pelo menos um bocadinho enamorados do mais famoso licenciado português e cheios de remorsos por não terem conseguido fazê-lo espalhar-se ao comprido (os simpatizantes saíram irritados pelo flop se sobrepor ao brilhantismo intelectual do esbelto líder). Sejamos honestos: a proximidade faz mal. Embota a agressividade. Não por acaso, três dos melhores e mais agressivos escritores americanos ainda vivos (Salinger, Pynchon, McCarthy) raramente colocam o nariz de fora (eu sei que McCarthy foi à Oprah e aos Óscares mas, como não publicou depois disso, ainda é impossível avaliar se estar sob os holofotes lhe fez mal). Para um blogger político, é fatal. Ele não está preparado para enfrentar as pessoas sobre quem escreve. Na verdade, ele não está preparado para enfrentar quaisquer pessoas. Obrigá-lo a sair de casa dá nisto. Ainda por cima é inútil: ninguém muda de posição nestes debates. Quando muito pensa-se “filho da mãe, entalaste-me” e entra-se em rodopio mental na busca de um argumento capaz de estilhaçar o que foi usado no ataque. Para que servem estas "BlogConfs" (um sapo com tosse?), então? Para três coisas: aumentam a auto-estima dos bloggers participantes que se vêem subitamente no que parecem ser as altas esferas (alguns são mesmo convidados a entrar), permitem que o governo avalie os adversários cara-a-cara e entretêm quem, como eu, se encontra sozinho em casa em frente de um computador, com a agressividade intacta. Onde e como eles todos também deviam estar.

 

(Se calhar isto podia descrever-se de outra forma, bem mais sintética: foi uma espécie de jogo da selecção nacional de futebol. Montanhas de potencial mas chega a hora e o árbitro está comprado, os jogadores sem garra e a assistência é composta por treinadores de bancada.)



publicado por José António Abreu às 20:39
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Sexta-feira, 3 de Julho de 2009
Tourinho mealheiro

O ex-ministro Manuel Pinho foi ainda ontem à SIC Notícias dizer que está arrependido do gesto que fez durante o debate do estado da Nação. Acredito que esteja, mais pelas consequências que sofreu que por tê-lo feito (Pinho tratou imediatamente de acrescentar que foi provocado, como se isso transferisse a culpa para Bernardino Soares, o apreciador da democracia Norte-Coreana). Tendo que sofrer as consequências, estou até convencido que ele também está arrependido de não ter feito um gesto ainda mais forte (sim, aquele em que se estende um único dedo e se recolhem os restantes). Seja como for, na entrevista Pinho declarou, com ar de vítima do “sistema”, que não entende a política actual, por esta nada ter a ver com o país real, onde vivem as pessoas "normais". Veja-se bem que ainda recentemente estivera num distrito “fortemente PSD: Leiria” e fora muito bem recebido pelos empresários locais, com quem tinha sido possível discutir apoios e outras formas de auxílio. Esta gente não tem mesmo noção da realidade. Alguém esperaria que, num país em que tudo depende do Estado, os empresários de Leiria – simpatizantes do PSD ou não –, recebessem mal quem lhes levava dinheiro? Com – permitam-me citar uma frase do último livro de Vasco Pulido Valente – “o atávico oportunismo da miséria portuguesa”? Meu caro ex-ministro, para eles o senhor era nada mais que um porquinho mealheiro. Ou, neste caso, um tourinho mealheiro.



publicado por José António Abreu às 08:41
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