Não sou um grande apreciador de fado. Encontro-lhe amiúde uma faceta de lamúria, de incapacidade para reagir à adversidade, de prazer na desgraça, que me desagrada profundamente. A tendência demonstrada por alguns fadistas para intensificar esse lado miserabilista com vocalizações excessivas e trejeitos melodramáticos só piora as coisas.
Tendo isto em consideração, será fácil perceber por que aprecio Cristina Branco. Usa o fado como ponto de partida, não como espartilho, permitindo-se recorrer a autores de outros estilos e basear muitas canções no som de instrumentos que não a guitarra portuguesa (no do piano, por exemplo). Não canta lamentos, canta relatos tocantes, incongruentes, eróticos (no fabuloso Sensus, de 2003), duros, acusatórios. Tem uma voz de incrível limpidez mas não a usa para efeitos grandiloquentes. Alegria, o seu último álbum, foi lançado há poucas semanas. Inclui temas com letras de, entre outros, Sérgio Godinho, Jorge Palma e Chico Buarque. Inclui também um tema em que Cristina lê, sem apoio de música, um texto de Gonçalo M. Tavares que me parece um tiro ao lado: funcionará mais por serem raras as pessoas que aceitam correr o risco de parecerem insensíveis, ainda que apenas perante elas mesmas, do que por a letra ser particularmente brilhante (pelo contrário: é simplista, ilógica, de efeito fácil). O título do disco é uma piada amarga porque não existe nele muita alegria – mas existe consolo. Aproximam-se dois concertos de apresentação: no Teatro São Luiz, em Lisboa, na próxima sexta-feira, e na Casa da Música, no Porto, no próximo domingo.
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