como sobreviver submerso.

Terça-feira, 12 de Julho de 2016
Eu e Ronaldo

Informação nº 1: percebendo apenas um pouquinho mais de futebol do que de termodinâmica ou de mulheres, sigo os campeonatos de clubes tão pouco quanto a comunicação social e a decrescente destreza dos meus dedos na manipulação do telecomando televisivo me permitem.

 

Informação nº 2: a capacidade da minha memória diminuiu tanto nos últimos anos como... caramba, juro que ainda agora tinha uma analogia perfeita.

 

Avancemos. Não obstante tudo o que está atrás ser 100% verdade (OK, exagerei num ponto: sei o bastante sobre termodinâmica para estar consciente de que dois corpos em fricção causam aumento de temperatura e tendem a gerar trabalho), lembro-me do Cristiano Ronaldo dos tempos do Sporting. Um rapaz muito verde (desculpem, não resisti à piada; caso vos seja insuportável, pensem numa folha em branco) mas já com potencial futebolístico para chegar a estrela. Nos anos seguintes, sem prestar grande atenção mas sem conseguir evitá-lo (como poderia?), fui dando conta do nascimento dessa estrela. Tinha e tem duas facetas: a de jogador excepcional, mescla de talento inato e dedicação maníaca, e a de prima-dona, dentro do relvado (ah, aquelas poses na marcação dos livres, que Sepp Blatter tão bem parodiou, antes de infelizes acontecimentos o afastarem de um cargo que distraídos como eu chegam a pensar ser vitalício) e fora dele (carros, mulheres, declarações variadas, campanhas publicitárias, bling bling de gosto duvidoso, microfones e a tendência para exibir aquele torso de Photoshop, exasperante para qualquer macho humano normal). Mesmo consciente de que a segunda faceta podia estar a chegar-me distorcida pela duvidosa acribia (sim, estou a tentar meter nojo) dos títulos dos jornais e dos rodapés dos noticiários televisivos, ainda assim ela impedia-me de ser um fã de Ronaldo. Achava que ele tinha todo a direito a estar orgulhoso do que alcançara (falsas modéstias são-me tão irritantes como textos nos quais os autores procuram desesperadamente introduzir humor) mas descoroçoava-me que ele mostrasse o orgulho de formas ostentatórias e por vezes agressivas. Para ajudar à minha má-vontade, Ronaldo raramente jogava ao mais alto nível nos encontros da selecção (os únicos em que o via), apesar de todos os outros jogadores parecerem ter sido convocados apenas porque as regras não permitiam que jogasse sozinho (manobras de Blatter, certamente).

 

E depois chegou anteontem e aquela final no Instituto Entomológico de Paris (achei estranho irem incomodar as traças, confesso). Num encontro em que praticamente não jogou, Ronaldo mostrou-me outro Ronaldo. Mostrou-me uma espécie de Ronaldo dos tempos do Sporting, actualizado para um homem de 31 anos. Um Ronaldo esforçado, sincero, sem poses. Um jogador de equipa, que não desiste e dá o seu melhor, até mesmo quando não o pode fazer dentro do campo. Anteontem, num encontro em que o jogador fora de série não pôde surgir porque levou uma cacetada antes dos dez minutos (Ça Alors!, Par Toutatis! e Mille Sabords!), Ronaldo fez-me respeitá-lo como raramente o conseguira antes.

 

E pronto. Lamento o anticlimático final piegas mas este texto não passa da nota de arrependimento e apreço de um ex-crítico. As piadas foram só uma tentativa para disfarçar o incómodo.



publicado por José António Abreu às 20:12
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Domingo, 5 de Julho de 2009
De Braga a Estrasburgo, passando por Madrid: notas de fim-de-semana

Uma pequena notícia no jornal i informava que Domingos Névoa, administrador da Bragaparques, apresentou uma queixa contra José Sá Fernandes por este, durante o processo por tentativa de corrupção no qual Névoa foi condenado, lhe ter chamado “bandido”. O vereador lisboeta foi constituído arguido e arrisca pena até dois anos e multa não inferior a 120 dias. Arrisca também, porque Névoa entende ter sofrido graves danos morais (nos dois dias seguintes à declaração de Sá Fernandes, nem foi trabalhar de tão perturbado que estava), ter que pagar uma indemnização de vinte e cinco mil euros. Se bem me lembro, Névoa foi condenado em cerca de cinco mil euros; se ganhar, não subsistem dúvidas: neste país, mesmo quando as coisas lhes correm mal, a corrupção é um negócio altamente lucrativo para os corruptores.

 

Cristiano Ronaldo deu uma longa entrevista ao jornal espanhol Marca e, como seria de esperar, os canais de televisão portugueses noticiaram abundantemente tão importante acontecimento. Foi realçado o facto de ele ser um rapaz de palavra, visto ter prometido à referida publicação, no ano passado, que teriam direito à primeira entrevista dele como jogador do Real Madrid, caso chegasse alguma vez a sê-lo. Ainda assim, o que me chamou a atenção – sacaninha como sou – foi a resposta, num daqueles questionários Proustianos que tão giros às vezes se revelam, que o livro preferido de Cristiano Ronaldo é a fotobiografia de Cristiano Ronaldo. Percebe-se: é um livro simpático, que se lê bem e tem um herói com que qualquer pessoa se identifica facilmente – mesmo uma super-estrela como Cristiano Ronaldo. Reparei também que, ao ser instado a escolher uma cidade, optou por Madrid, mas aí a gente percebe: a competição com Kaká não vai ser fácil e o tio Alberto João chatear-se-ia mais se ele respondesse “Lisboa”.

 

Elisa Ferreira garante que lutará contra todas as sondagens, sejam negativas ou sim, e que levará a sua candidatura à Câmara Municipal do Porto até ao fim: como se sabe, Estrasburgo. Diz ainda que os responsáveis do PS lhe dão "apoio suficiente". Supõe-se que já não a cumprimentam com dois beijos mas ainda lhe apertam a mão.



publicado por José António Abreu às 00:40
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Quinta-feira, 25 de Junho de 2009
Cristianus?

Paris Hilton acusa Ronaldo de ser demasiado gay. Já não nos bastava a crise económica, atacam-nos um dos símbolos maiores. Acusarem Afonso Henriques, Camões ou Cavaco era uma coisa. Ronaldo é outra, muito mais séria. Ronaldo é a nossa ambição e a nossa virilidade. Onde é que estas ficam depois disto? Sugiro calma e várias possibilidades de reacção:

 
- Assobiar para o lado. Calções justos cor-de-rosa, flores no cabelo, brincos, maneirismos e um cuidado maníaco com a aparência? Eu sempre desconfiei dele…
 
- Assumir o estilo com dignidade. Os homens actuais usam cor-de-rosa e flores no cabelo sem complexos. Ahn... bom, flores no cabelo talvez não. Mas Ronaldo é um inovador e está a abrir novos caminhos. E a roupa dele é tão cara que tem que ser boa.
 
- Passar ao contra-ataque. Paris é uma ricaça mimada, loura de cabelo e de personalidade, que vive das aparições na comunicação social. O que é que ela percebe de machos do futebol? (O verdadeiro, não aquela coisa de meninas que se joga nos States, em que os atletas têm tanto medo de se aleijarem que nem se vêem sob tantas protecções…)
 
- Optar pela habitual táctica da vitimização. Ela só diz isto porque Ronaldo é Português. Se fosse de um país grande era tudo permitido, até depilação das virilhas.
 
- Perceber a verdade e desculpar o rapaz pelos seus fracos conhecimentos da geografia californiana. Ronaldo tinha flores no cabelo por ter confundido Los Angeles com S. Francisco.
 
Na verdade, tudo isto é show-business e venda de revistas. Nada de sério. A não ser para os imitadores de meia-tigela de Ronaldo, para quem a acusação é mesmo pessoal. Ainda há uma semana andavam a babar-se com o sucesso financeiro e sexual do ídolo, fantasiando estarem eles mesmos na cama com Paris, e agora são forçados a reequacionar o nível de testosterona do fenómeno (e, porque o processo de identificação é lixado, o deles) e têm que relegar a pirosa menina Hilton para o quarto das cabras mentirosas e maledicentes, um compartimento apinhado onde se encontram quase todas as ‘gaijas’ que já conheceram na vida.
 
P.S.: Peço imensa desculpa pelo mau gosto do título mas não resisti...


publicado por José António Abreu às 20:21
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Terça-feira, 16 de Junho de 2009
Os futebolistas assinalados e uma Paris muito navegada...

Como se constata pelo frenesi mediático dos últimos dias, a verdadeira religião em Portugal é o futebol. Uma religião que admite discussões apaixonadas e um par de profetas que poucos imaginariam poderem submeter-se a uma mesma lógica. Repare-se nos seus nomes: Cristiano e Mourinho. Dizem-me que já existiram momentos de tensão entre ambos mas, ainda que seja verdade, constituem um extraordinário exemplo para Vaticano e Meca. O deus da bola (€) une-os, o povo idolatra-os de igual modo e nem comentários críticos de aspirantes esforçados mas não iluminados lhes abalam o estatuto.

 

São profetas dos dias de hoje, que praguejam e insultam mas também mostram generosidade. Que estão à vontade nos humildes locais onde nasceram ou entrando nos recantos mais in de Paris. É por isso compreensível que os canais televisivos tenham repetidamente aberto os noticiários com longas reportagens sobre a transferência de Cristiano para o Real Madrid e os seus divertimentos californianos, relegando notícias como os tumultos no Irão (onde?) para segundo plano. Entre os dois, Cristiano e Mourinho representam tudo o que os portugueses anseiam ser. Aliás, melhor mesmo que existirem os dois, era eles se f…undirem. O ente resultante da fusão brilharia com uma luz própria tão forte que ninguém poderia olhá-lo de frente e seria merecedor imediato de uma nova versão d’Os Lusíadas. Talvez até da Bíblia.



publicado por José António Abreu às 08:33
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