como sobreviver submerso.

Domingo, 26 de Julho de 2015
Olhares
Pode ser apenas a minha leitura (uma distorção que, adiantada a ressalva, julgo coerente com o meu tipo de pessimismo) mas as crianças parecem-me ter um olhar cada vez mais adulto. Ou antes: cada vez mais parecido com o de muitos adultos actuais, começando pelo dos progenitores. Um olhar onde o desejo se cristaliza, se torna permanente em vez de intermitente, e a ameaça da tristeza é submergida pelo pânico do aborrecimento.

 

Adenda: Leiam esta entrevista a Carlos Neto, professor da Faculdade de Motricidade Humana, no Observador; não tem directamente a ver com o olhar das crianças mas, ainda assim, tem tudo a ver.

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publicado por José António Abreu às 12:52
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Terça-feira, 9 de Março de 2010
O aborrecimento das crianças

A monotonia é especialmente penosa para as crianças, que não sabem ainda esconder o aborrecimento. É um aborrecimento denso, total, não passível de compreensão. Uma injustiça. Mal sabem elas que vivem os anos menos aborrecidos das suas vidas. Em que tudo é novo e desafiante (mesmo que, por vezes, assustador). Os adultos tentam disfarçar a monotonia ou combatê-la de formas pusilânimes. Esquecem-se do (ou nunca perceberam o) método infantil: aprender coisas novas. Deixarem-se intrigar. Fazerem perguntas. Procurarem explicações. Preferem evitar o esforço da busca e o risco de que outros adultos os considerem ignorantes, e sentar-se a falar do tempo ou de futebol, a ver telenovelas ou reality-shows, a espreitar vidas alheias em revistas, a queixar-se da vida.


publicado por José António Abreu às 07:49
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Domingo, 9 de Agosto de 2009
A criança

Passei o dia de ontem pensando no que poderia dizer acerca de Raul Solnado. A característica dele que me parece mais interessante – e que talvez suscite muito do carinho que granjeou – era a sua forma relutante de fazer humor. Relutante não no sentido de o fazer contrariado mas no da criança (e já muitas pessoas mencionaram o termo ‘criança’ ao se lhe referirem) que avalia o efeito que as suas piadas tiveram, maravilhado pela reacção mas um pouco céptico por tê-la conseguido tão facilmente. Pense-se nos mais conhecidos sketches dele e ver-se-á grande parte da típica ingenuidade infantil. E a frase “façam o favor de ser felizes” tem ou não implícito o “vá lá, façam-me a vontade” com que uma criança pede um brinquedo? Em Solnado, o cepticismo era doce e o cinismo inexistente. Via-o ontem contracenar com Bruno Nogueira no programa que a RTP apresentou depois do telejornal e reforçava essa impressão. Nogueira, como de costume, fazia de gajo esperto mas presunçoso (papel que desempenha na perfeição); Solnado, até quando lhe chamava “cabrão”, fazia-o num tom que deixava subentendido “olha-me este marmanjo” e não “olha-me este filho da puta”. Mesmo quando desempenhava papéis dramáticos (e confesso as minhas falhas porque recordo poucos), a nota dominante era um desamparo infantil e não verdadeira raiva ou maldade. Relembre-se o magnífico Elias de A Balada da Praia dos Cães. O mundo à sua volta era violento e ilógico e ele enfrentava-o com uma resignação muito adulta mas também com uma incompreensão e uma mágoa muito infantis. Como se realmente não percebesse por que carga de água as pessoas não só não queriam ser felizes como até se esforçavam por ser infelizes. A lógica dos adultos é com frequência triste, Raul.

 

Foto pedida emprestada ao Senhor Palomar.



publicado por José António Abreu às 14:57
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